Mercados Futuros – 01/10/07
1 de outubro de 2007
Em setembro o preço médio da carne in natura exportada foi o mais alto já registrado
3 de outubro de 2007

É preciso ser criativo para vencer os desafios do futuro!

A cada ano, o agronegócio brasileiro vem consolidando sua posição na economia devido ao avanço tecnológico, ao incremento na produtividade e à ocupação de novas áreas. O conjunto do agronegócio fechou o ano de 2006 com o PIB de RS$ 540 bilhões (Cepea, 2007). O Brasil apresenta o maior rebanho comercial de gado bovino do mundo (207 milhões de animais em 2005; IBGE, 2007) e é o líder mundial em exportação de carne bovina. No Brasil, a agricultura, tanto para a produção de alimentos quanto para a produção de energia, deverá avançar sobre as áreas de pastagem, gerando o desafio de aumento da produtividade animal em área marginais. Aliado a isto, há uma crescente pressão mundial pela adoção práticas mais sustentáveis não apenas do ponto de vista econômico, mas também dos pontos de vista social e ambiental. Este movimento certamente terá impactos sobre os sistemas de produção agropecuária no Brasil.

A cada ano, o agronegócio brasileiro vem consolidando sua posição na economia devido ao avanço tecnológico, ao incremento na produtividade e à ocupação de novas áreas. O conjunto do agronegócio fechou o ano de 2006 com o PIB de RS$ 540 bilhões (Cepea, 2007). O Brasil apresenta o maior rebanho comercial de gado bovino do mundo (207 milhões de animais em 2005; IBGE, 2007) e é o líder mundial em exportação de carne bovina. Em 2006, o setor primário da atividade pecuária apresentou um PIB de R$ 67,84 bilhões e as exportações de carne bovina representaram US$ 3,99 bilhões, com tendência crescente para o ano de 2007 (ABIEC, 2007).

As mudanças climáticas globais e a necessidade de produção de energia a partir de fontes alternativas imporá novos desafios à cadeia produtiva de carne no Brasil. O relatório do 4o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas indica que, no futuro, haverá aumento da temperatura associada à redução da quantidade de água disponível no solo em várias áreas da América Latina (IPCC, 2007). As mudanças no padrão de precipitação pluvial deverão afetar a disponibilidade de água para o consumo humano, a agricultura e a geração de energia (IPCC, 2007).

A necessidade de produção de “energia limpa” forçará a ampliação das áreas destinadas à produção de bioenergia. Relatório apresentado pela Agência Internacional de Energia aponta que os biocombustíveis líquidos atenderão 4 a 7% da demanda mundial por energia para transporte rodoviário em 2030 (IEA/OECD, 2006). A área necessária para atender a esta demanda deverá representar entre 2 e 3,5% do total de terras aráveis do mundo (IEA/OECD, 2006). Atualmente, a produção de biocombustíveis líquidos ocupa 1% da terra arável do mundo. Em 2050, a bioenergia (incluindo biocombustíveis líquido e biomassa) deve representar 25% da demanda global por energia primária, ocupando 20% da terra arável do mundo (FAO, 2007).

No Brasil, a agricultura, tanto para a produção de alimentos quanto para a produção de energia, deverá avançar sobre as áreas de pastagem, gerando o desafio de aumento da produtividade animal em área marginais. Aliado a isto, há uma crescente pressão mundial pela adoção práticas mais sustentáveis não apenas do ponto de vista econômico, mas também dos pontos de vista social e ambiental. Este movimento certamente terá impactos sobre os sistemas de produção agropecuária no Brasil, principalmente no caso de produtos que fazem parte da carteira de exportações do país como, por exemplo, a carne bovina.

Que modelos de produção animal em pastagens atenderão aos desafios de aumento de produtividade com sustentabilidade? Atualmente, a adoção de práticas como a irrigação e a adubação intensiva de pastagens são fortemente associadas às idéias de empreendedorismo e “tecnificação” da produção animal a pasto. Certamente, estas técnicas atendem às exigências de aumento de produtividade, mas será que os sistemas baseados em sua adoção são sustentáveis? Qual será o modelo de produção animal em pastagens no futuro?

A busca por maior sustentabilidade não é exclusiva para os sistemas de produção animal. Reportagem publicada na última edição da revista Scientific American mostra que melhoristas, agrônomos e ecologistas estão buscando desenvolver sistemas de produção de cereais com características de ecossistemas naturais (Glover et al., 2007). Um dos pontos-chave desta proposta é o desenvolvimento de cultivares perenes de grãos. Os principais cereais utilizados atualmente para alimentação são produzidos a partir de plantas anuais. De acordo com os autores, as principais vantagens da cultura perene estão relacionadas ao sistema radicular mais profundo e volumoso que aquele das culturas anuais (consulte o “infográfico animado”).

A maior parte dos capins tropicais utilizada é perene, porém falhas no manejo, decorrentes da pequena compreensão do sistema solo-planta-animal, tornam necessária a reforma periódica de extensas áreas de pasto. Como conseqüência, os produtores deixam de aproveitar algumas das vantagens que estão sendo perseguidas pelo programa descrito na reportagem “Agricultura do futuro: um retorno às raízes?” (Glover et al., 2007).

No caso de cereais perenes, por exemplo, Glover et al (2007) ressaltam que as raízes profundas das plantas liberam carboidratos que alimentam organismos responsáveis pelo “gerenciamento” de outros nutrientes. O estoque de carbono no solos sob pastagens bem manejadas é elevado e está distribuído até 100cm de profundidade. Por outro lado, quando a produtividade do pasto decresce, devido às falhas de manejo ou à baixa fertilidade do solo, o carbono proveniente da forragem é perdido e é encontrado apenas até 40 cm de profundidade (Figura 1) (Boddey et al., 2005).

Figura 1. Carbono derivado da vegetação nativa ou da Brachiaria em solos sob vegetação de Cerrado (NV), pasto produtivo (PD) e pasto degradado (DP).


Como ter pastagens perenes e produtivas de forma sustentável? Esta é a questão que deve ser respondida. Onde estão as falhas nos modelos atuais? Nos sistemas extensivos, há a necessidade de reforma periódica do pasto e os níveis de produtividade são baixos. Nos intensivos, há uma grande dependência de insumos externos. É preciso rever práticas e conceitos e ser criativo para vislumbrar alternativas que tornem possível vencer o desafio de aumentar a produtividade animal em sistemas mais sustentáveis.

Certamente, a melhor compreensão dos impactos do manejo sobre o desenvolvimento do sistema radicular, a dinâmica da matéria orgânica e os microrganismos do solo irão ajudar nesta resposta. Com isso, talvez o pecuarista deixe de ser visto como “vilão”, por degradar solos sob pastagens, e passe a ser visto como “modelo”, por aproveitar todas as vantagens de um sistema mais sustentável.

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