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É possível expandir o agronegócio sem desmatar?

Em resposta a enquete feita pela reportagem da Folha, membros e ex-membros de governos, estudiosos e integrantes de organizações ligadas à agropecuária e ao ambiente disseram com unanimidade que sim.

Blairo Maggi, ministro da Agricultura
Não só possível, como já vem acontecendo. Segundo dados da Embrapa, 66,3% do território nacional está coberto de vegetação nativa. Nenhum país tem isso. Os agricultores preservam mais vegetação nativa no interior de seus imóveis (20,5% do Brasil) do que todas as unidades de conservação juntas (13%). Nenhuma atividade preserva tanto quanto a agricultura.

Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente (2010-2016)
Claro que sim. O Brasil tem áreas degradadas que devem ser incorporadas à demanda por expansão de fronteira agrícola e de produção agropecuária. Trata-se de assumir uma nova visão, a da sustentabilidade como aliada da ambição de sermos importantes produtores de alimentos, e não usada como retórica.

Deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), líder da bancada ruralista
Totalmente possível, esse é um acordo que estamos fazendo em coalizão com o setor ambiental. Para isso, precisa destravar e desburocratizar, fazer com que o empresário não fique engessado em licenças ambientais nas áreas em que ele já pode produzir.

Simão Jatene, governador do Pará (PSDB)
No Pará, temos cerca de 23 milhões de hectares de áreas antropizadas (cujas características foram alteradas pelo homem), das quais mais de 16 milhões são pastagens, algumas de baixíssima produtividade. Logo, é possível aumentar a produção sem avançar sobre a floresta.

Adriana Charoux, especialista do Greenpeace
Sim. Dados do Terra Class produzidos pelo INPE mostram que há muitas áreas abertas, sem a necessidade da produção agropecuária avançar mais um palmo sobre a floresta. Mas, na prática, o que se observa é a aposta do Estado e de muitas empresas no acirramento das violações aos direitos humanos, na “normalização” do crime ambiental e na promoção do caos fundiário, produzindo um retrocesso sem precedentes.

Paulo Moutinho, diretor-executivo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia)
Sim. Na Amazônia, há quase 80 milhões de hectares já desmatados e destes, pelo menos, 15 milhões (3% do bioma) estão subutilizados ou abandonados. Essa área pode ser recuperada e ser usada para a expansão.

Marcos da Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja
Sim. O Brasil pode dobrar a produção de grãos até 2025 ocupando metade dos 74 milhões de hectares de pastagens degradadas que não estão sendo utilizadas pela pecuária extensiva. As tecnologias disponíveis também são aliadas para o aumento da produtividade e permitem a expansão agrícola sem derrubada de novas áreas.

Maurício Lopes, presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
Sim, somos um dos países que mais investem na descarbonização da agricultura, mas o mundo nos acusa, injustamente, de devastadores do meio ambiente. Dados da Embrapa mostram que o Brasil é um dos países que mais mantêm sua cobertura florestal, com 69,4% de florestas primitivas. Estima-se uma área entre 50 e 60 milhões de hectares de pastos degradados no país, que, se recuperados, poderão se tornar a próxima grande fronteira de expansão da agricultura.

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura (2003-2006) e coordenador de agronegócio da FGV
Sim, pois ainda há muita área desmatada, sobretudo na região da Amazônia, que pode ser aproveitada para aumentar a produção. A média de produtividade por hectare de alguns cultivos pode aumentar. A OCDE diz que em dez anos a produção mundial de alimentos deve crescer 20% para alcançar a segurança alimentar global. Para isso, a produção brasileira tem que aumentar o dobro.

André Nassar, diretor de estratégia e novos negócios da Agroícone
Se pensar em questões físicas, é possível, porque temos áreas desmatadas que podem ser ocupadas para a expansão da produção de grãos. Pelo viés econômico também, pois converter pastagem ou cerrado em grãos têm um custo parecido. Já a intensificação da pecuária pode ser uma vantagem, mas é preciso que o produtor leve em conta a valorização total do negócio, não apenas o retorno financeiro diário. Do ponto de vista ambiental, não tem discussão, a visão é expandir sem abrir área.

Eduardo Ditt, secretário-executivo do Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas)
Conservação da biodiversidade e produção agropecuária são ações que devem caminhar juntas. Apesar dos expressivos avanços e inovações tecnológicas, sua implementação não ocorre de maneira suficientemente ampla. Temos o desafio de aumentar o investimento de recursos humanos e financeiros no aperfeiçoamento das tecnologias existentes, na geração de novos conhecimentos e na aplicação do conhecimento em ações praticas.

Fonte: Folha de São Paulo.

1 Comment

  1. paulo disse:

    Carne de soja/tecidos desenvolvidos em laboratórios nunca foram, não são e nunca serão carne que verdadeiramente alimenta o mundo. Assim como um pequeno número, mas barulhento, de ignorantes que não desistem de apontar como o grande problema ser o boi com seu gás metano e o pecuarista que desmata. Ora, ambos deveriam ter maior reconhecimento pelo importante papel que desempenham, sob o ponto de vista de a humanidade ainda existir neste planeta. Veja bem, somente o transporte automotivo polui bem mais que o boi, apenas 250 empresas do mundo lançaram 1/3 de todo gás carbônico na atmosfera e muito pouco irão mudar suas políticas para os próximos anos. É ignorância culpar o verdadeiro pecuarista (de fato – realiza os ciclos de cria e recria e ou ciclo completo) que a muitas gerações está nesta atividade e para ele é inconcebível sequer destruir os capões de mato nativo de sua propriedade. Mesmo que alguns não queiram, em futuro próximo o país será sim, através de seus estados (MT, MS, SP, GO e RS) grandes mantenedores de uma pecuária completa, rica culturalmente e sustentável. Por fim integração floresta (desde que nativa da região – principalmente RS por invernos rigorosos)/pecuária gera mais arrobas do que estudos científicos alegam por levar em consideração florestas que não são próprias daqueles locais.

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