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É impressionante o trabalho que os frigoríficos brasileiros vem fazendo para aumentar as práticas de bem-estar animal – Daniel Boer – diretor de proteínas da América Latina na McDonald´s Corporation

Daniel Boer nascido em Morro Agudo – SP filho de açougueiro, apaixonado pela cadeia de produção animal e apreciador de um boa carne! Atualmente divide o tempo entre Chicago e o Brasil. É diretor de proteínas da América Latina na McDonald´s Corporation com sede em Oak Brook, Il USA. Quando o tempo permite gosta de praticar Mountain Bike para ficar mais perto da natureza. Um livro que gosta bastante é Paixão por Vencer do Jack Welch. Daniel Boer foi finalista na categoria Profissional Referência em Bem-estar Animal. Prêmio BeefPoint 2014 – Edição Bem-estar Animal.

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BeefPoint: O que você implementou de diferente no trabalho de difusão dos conceitos em bem-estar animal – de forma técnica? Conte, por favor, mais um pouco sobre seu trabalho nessa área específica.

Daniel Boer: O McDonald´s sempre exigiu auditorias em bem-estar animal, começamos com a Temple Grandin, os primeiros países foram Estados Unidos, países da Europa, e os demais foram implementando posteriormente. Devido à exportação de carne para outros países surgiu a demanda para implementar o BEA no Brasil até então eu desconhecia qualquer programa de auditoria para bem-estar animal em frigoríficos brasileiros, esse foi um grande diferencial, começamos a implementar e fomos pioneiros para trazer auditorias para abate em bem-estar animal.

Passei por quase 2 anos de treinamento com Temple Grandin para pegar toda base técnica e desenvolver esse programa de auditoria.

Tive oportunidade de auditar e fazer treinamento no México, Estados Unidos, África, China,  Europa, Rússia, enfim, andei bastante implementando e desenvolvendo o programa de bem-estar animal pelo mundo.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. Em sua opinião qual o maior erro do Brasil ao aplicar técnicas de bem-estar animal?

Daniel Boer: Cada país possui uma realidade e uma prática operacional. Um erro muito comum é tentar replicar padrões e exigências de outros países. Isso pode trazer grandes barreiras e nem sempre resultados.

BeefPointQual inovação e/ou novidade no setor você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando inovar? 

Daniel Boer: Temos algumas inovações no Brasil muito interessantes. Uma que representou um grande avanço na indústria frigorífica foi a implementação do box de contenção pneumático e hidráulico para manejo de bovinos, tanto no campo como nas indústrias frigoríficas para atordoamento de bovinos durante o abate. Foi uma melhora pra todos, pois trouxe bem estar ao colaborar, aumento na eficiência do atordoamento, melhorando o bem-estar animal, além de aumentar a produtividade da indústria gerando melhores resultados pro negócio.

Precisamos inovar no transporte de animais vivos. Fazer perguntas simples que podem nos fazer refletir um pouco como: por que termos caminhões boiadeiros com porteiras guilhotina? Qual largura das porteiras dos caminhões é ideal? Por que não há sistemas de fornecimento de água para os animais em distância longas?

Feedlot audit with Temple (1)

BeefPoint: Qual a aceitabilidade dos frigoríficos quanto à adoção de novas técnicas de manejo em suas propriedades, principalmente as focadas no manejo racional?

Daniel Boer: É impressionante o trabalho que os frigoríficos brasileiros vem fazendo, conheço sistemas de abate de bovinos em vários países, e sem dúvida nenhuma – pelo menos os nossos fornecedores – estão entre os TOP 5 do mundo em bem-estar animal, essas práticas vieram pra ficar em nosso país e foram muito bem aceitas, os frigoríficos entenderam que isso era necessário e a velocidade de implementação foi muito grande.

Já existem por exemplo, cargos corporativos de especialistas responsáveis por bem-estar animal dentro dos frigoríficos, uma pessoa responsável pela área e por planta e isso é muito bom.

BeefPoint: Quais os pontos de reprovação de um fornecedor e qual o maior gargalo dos frigoríficos para aplicar o bem-estar animal?

Daniel Boer: Não admitimos de forma alguma em nossas auditorias o abuso de animais –  o arraste de animais sem o atordoamento, ou qualquer outro tipo de maus trato, além disso, não permitimos animais sensíveis na canaleta de sangria, pois jamais aceitamos que os animais sintam dor no momento da sangria. Acredito que o maior gargalo hoje seja o treinamento das equipes dentro dos frigoríficos, pois grande parte do bem-estar animal é feito por pessoas, e essas precisam ser capacitadas.

BeefPoint: Qual o maior desafio para a pecuária brasileira?

Daniel Boer: Quanto ao bem estar animal acredito que o transporte de animais vivos seja a prioridade número 1 para melhoria, muitas vezes animais são transportados por horas sem água, em estradas ruins, em caminhões que não foram desenvolvidos para nossa realidade.

De uma maneira geral acredito que uma grande oportunidade é com a rastreabilidade, pois é uma ótima ferramenta para colocar o produtor na gôndola do supermercado, é a única forma de reconhecer o trabalho de um produtor de bezerros e da recria por exemplo. É difícil ter acesso ao trabalho que foi feito com esse bezerro no campo devido a falhas na rastreabilidade, hoje em dia nas gondolas só se conhece a fase final (a ultima fazenda que o animal esteve antes do abate), mas existem duas fases antes de extrema importância que não aprece, e deveria aparecer.

BeefPoint: Quais seus planos em 2014?

Daniel Boer: Nossos planos para 2014 é continuar o trabalho que vem sendo feito com os frigoríficos e aproximar um pouco mais do campo.

Sou apaixonado pelo agronegócio e pela cadeia de produção, gosto muito de fazendas, então meus planos é continuar nessa área da produção animal, fazendo esse “link” entre a América Latina e o mundo, quero continuar mostrando e promovendo a pecuária brasileira para o mundo, quero seguir nessa linha para tentar estreitar essa grande distância entre o que é produzido no campo e o que está na mesa do consumidor.

Daniel with calf

BeefPoint: Qual seu recado para os profissionais que trabalha com bem-estar animal no Brasil?

Daniel Boer: Faça o que você gosta pois o resultado virá por consequência, se você acordar e pensar que melhorou alguma coisa em seu trabalho já foi um dia ganho. Seja ético, profissional e pense na melhoria do todo, pois isso está faltando em nossa pecuária.

Os profissionais precisam encontrar solução pra pecuária como um todo.

BeefPoint: Qual o exemplo de profissional dessa área você mais admira? 

Daniel Boer: Dra Temple Grandin. Ela é muito pratica em suas soluções. Tem ideias e soluções de baixo custo que trazem ótimos resultados.

BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas? 

Daniel Boer: O consumidor vem questionando cada vez mais o bem-estar dos animais de produção, ele já escolhe sim, entre quem faz bem-estar animal e quem não faz, até pode deixar de comprar daqueles que não praticam o BEA, então eu penso da seguinte forma, por que não fazer o bem-estar animal? Todos dependemos do BEA para nosso negócio, já está provado que isso traz melhora para os resultados financeiros, traz bons resultados pra cadeia, melhora o bem- estar dos funcionários então por que não fazer? Pois isso é o básico.

Implementem o bem estar animal, pois além de ser ético na produção animal, é sem dúvida uma das maneiras mais rápidas de melhorar os resultados no campo.

2 Comments

  1. André Bartocci disse:

    Olá Daniel
    Sei que você conhece bem a complexa corrente da carne. A atuação do McDonald’s, na a melhoria das relações entre os elos e o maior equilíbrio da cadeia é positiva e de grande visibilidade.
    É importante que a produção com respeito aos animais seja fomentada sempre. Na realidade o Bem Estar animal precisa ser mais falado, mais discutido e mais questionado. A Moderna Pecuária Brasileira de Pasto segue na vanguarda se comparada com a produção de suínos e aves ou com a produção bovina em outros países. Porém os avanços conquistados até hoje, a meu ver, somam somente os primeiros passos de uma grande caminhada na direção de uma produção mais digna e mais justa entre todos Terráqueos.
    Concordo que a indústria brasileira esta em franca evolução, mas segue duas questões para sua reflexão:
    1- A indústria evoluiu nos últimos 20 anos, maquinas milionárias e eficientes compõe a esteira de produção, os colaboradores estão mais preparados e a melhoria da sanidade e segurança alimentar de seus produtos é impressionante. As plantas de hoje são melhores em quase tudo do que frigoríficos da década de 90. Porém no curral de um abatedouro, e no transporte pouco ou quase nada mudou!
    Será que o gargalo do bem estar animal se situa entre o embarcador da fazenda e o boxe de atordoamento da indústria? Será que as mudanças nestes locais deveriam ser mais radicais e mais urgentes?

    2- O sucesso de uma produção animal depende do abate de um ser vivo. Porém muito mais importante do que saber como os animais morrem, é saber como eles vivem durante a produção!
    Será que nossa sociedade esta preparada para refletir sobre isto? Será que já existe consumidores aptos perceberem o bem estar animal durante a produção como uma qualidade do produto como fazem com o marmoreio e a maciez?
    Um abraço
    André Bartocci

  2. Luciana Mejan disse:

    Daniel Boer é um dos melhores profissionais que existe nessa área, tive o privilégio de conhecer seu magnífico trabalho e atuar algumas vezes com ele. Parabéns Daniel, sucesso sempre.

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