José Renato Junqueira Borges1 e Paulo Henrique Jorge da Cunha1
A principal causa de doença digital em bovinos de corte confinados é o traumatismo, sendo que os fatores predisponentes são: sodomia e disputa social, transporte, superpopulação, excesso de lama e umidade fragilizando o casco, presença de pedras e pisos com defeito. O traumatismo geralmente causa solução de continuidade do tecido córneo com infecção secundária (pododermatite séptica e/ou artrite), miíase e perdas extensas de tecido córneo, às vezes com queda do estojo córneo. Têm sido observadas raramente em bovinos de corte as dermatites digital e interdigital, sendo que seu aparecimento depende da contaminação ambiental. Estas últimas doenças somente devem ser tratadas em garrotes confinados se estiverem diminuindo o consumo de alimentos e havendo perda de peso.
No caso de sodomia, normalmente a lesão se encontra na muralha junto ao talão da unha posterior externa. O problema de monta é maior entre machos mestiços de gado europeu, em especial os pardos suíços. O animal que sofre o assédio apresenta expressiva perda de peso, devendo ser retirado e colocado num piquete para animais em recuperação. O mesmo deve ocorrer com animais que estão em tratamento de doenças digitais, para não sofrerem com a disputa social.
O tratamento recomendado é a retirada de tecidos necrosados e posterior cauterização com ferro incandescente. Muitos casos são de lesões na pinça de difícil cicatrização, mas o uso da cauterização com ferro quente tem permitido que este animal ganhe peso, mesmo sem se recuperar totalmente, minimizando os prejuízos.
As medidas profiláticas para diminuir a disputa social são: somente utilizar animais castrados, dimensionar o cocho para o número de animais do piquete, não ter superpopulação e procurar não colocar animais de diferentes origens no mesmo piquete. Os piquetes não devem apresentar umidade, pedras e cimento quebrado.
A laminite não costuma ser um problema em animais confinados para abate, pois ela ocorre principalmente na forma crônica. Porém, deve-se suspeitar de laminite quando houver alto índice de animais com abscesso e/ou necrose de pinça e da terceira falange. No gado de cria, principalmente reprodutores que recebem altas quantidades de carboidrato solúvel na ração e ficam a maior parte do tempo no cimento, há a possibilidade de ocorrer laminite asséptica crônica e suas seqüelas. Os principais sinais são deformações do casco (hipercrescimento e forma de saca rolha), casco de cor amarelada, presença de úlcera de sola, erosão de talão e doença da linha branca. Nestes animais, se as condições de higiene não forem muito boas, aumentam as possibilidades de ocorrer dermatite interdigital e digital e flegmão interdigital.
Nos animais para cria no sistema extensivo, a doença mais comum é a hiperplasia interdigital (gabarro), não sendo, entretanto, um problema sério.
Comentário BeefPoint: Em determinadas circunstâncias, os problemas de casco no gado confinado impõem prejuízos econômicos. Dentre os cuidados, deve-se incluir a separação dos animais com problemas de casco em áreas de recuperação e o seu tratamento correto. Uma vez recuperados, os animais podem voltar ao confinamento. Este procedimento tem se revelado vantajoso quando adotado sistematicamente. Isto inclui o treinamento de pessoal para a sua execução. O artigo acima descreve um problema de casco freqüente em confinamento e associado à engorda de animais não castrados, ao mesmo tempo, que indica a solução prática que é a cauterização do ferimento.
_____________________________________
1 Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB