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Doença da língua azul (parte I): novos casos, riscos e perspectivas econômicas

A doença da Língua Azul é uma enfermidade não-contagiosa transmitida por mosquitos da família dos Cullicoides que afeta ruminantes domésticos e silvestres.

Uma recente preocupação ao setor pecuário se alastrou pela Europa e Ásia a partir de agosto de 2006. Casos de Blue Tongue (ou doença da Língua Azul) em bovinos foram registrados no norte do continente europeu, principalmente na Holanda e ainda por fazendas da Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e França, entre outros, produzindo efeitos preocupantes sobre o trânsito e o comércio europeu de carne, o que agrava os prejuízos econômicos sofridos na região (Jornal o Estado de São Paulo, sexta-feira, 24 novembro de 2006).

A doença da Língua Azul é uma enfermidade não-contagiosa transmitida por mosquitos da família dos Cullicoides que afeta ruminantes domésticos e silvestres. O agente infeccioso é um Orbivírus da família Reoviridae que se replica tanto no artrópode, como nas células dos mamíferos, causando estomatite catarral, rinite, enterite e claudicação devida à inflamação da coroa e lâmina dos cascos. Clinicamente são observados inflamação e congestão das mucosas, com cianose, edema e ulceração, particularmente na língua que apresenta uma coloração roxa escura ou azulada, sobretudo em ovinos e, de forma mais branda, em bovinos.

A distribuição geográfica da ocorrência do vírus da Língua Azul (VLA) pode ser dividida em três zonas, com o objetivo de facilitar a análise epidemiológica da doença: (1) Nas áreas endêmicas, a infecção sempre está presente, mas a doença clínica das espécies nativas é incomum, podendo ocorrer com novas cepas do VLA e quando espécies suscetíveis não-nativas são introduzidas na área. (2) As zonas epidêmicas também existem, onde a infecção e a doença clínica ocorrem dentro de alguns anos. A infecção nessas áreas é altamente focal, e os surtos verificam-se quando as condições climáticas permitem ao vetor disseminar-se além das suas fronteiras comuns e infectar ruminantes suscetíveis. (3) A doença invasiva pode ocorrer nas regiões que normalmente não sofrem da infecção. Pode ocorrer quando o vírus é introduzido pela migração dos Culicoides infectados com subseqüente reprodução do inseto no verão, antes de desaparecerem aos poucos no outono e inverno. Acredita-se que esse modo de disseminação seja a gênese de vários surtos sérios da Língua Azul nos países normalmente livres da doença.

O clima é o principal fator de risco, já que os Culicoides requerem calor e umidade, para se reproduzirem, bem como clima úmido, quente e calmo, para se alimentarem. Devido a estes vetores, alguns autores têm sugerido que os bovinos que apresentam uma viremia prolongada poderiam funcionar como reservatórios do vírus durante as estações mais frias, onde o número de vetores é menor. No Hemisfério norte, o período do verão favorece a transmissão da doença e com tendência a baixar no outono e inverno onde a temperatura é mais baixa.

A importação de animais adultos é considerada um importante fator de risco, visto que a via de transmissão pelos mosquitos do gênero é o principal meio de disseminação da doença. As transmissões venérea e congênita já foram relatadas, entretanto não têm representatividade na importância epidemiológica. A transmissão por meio da transferência de embriões também representa baixo risco, principalmente se forem seguidas as recomendações da Sociedade Internacional de Transferência de Embriões.

Normalmente a primeira replicação viral ocorre no sítio da picada pelo vetor e nos gânglios linfáticos locais ou outros órgãos linfóides. A seguir observa-se uma viremia associada às células sanguíneas (eritrócitos, leucócitos e ainda plaquetas) e uma disseminação nas células endoteliais. A maior concentração de vírus se encontra nos endotélios da microvascularização do epitélio bucal, apresentando-se de forma mais severa em ovinos do que em bovinos. Em ovinos, que são mais acometidos pela sintomatologia clínica o índice de morbidade e mortalidade tem variado na dependência do local e condições em que o surto ocorre, chegando a 50-75% e 20-50%, respectivamente, quando aparece pela primeira vez em determinada região. Fêmeas acometidas de sintomatologia frequentemente sofrem abortos, principalmente em decorrência do estado febril que se estabelece no quadro clínico.

De acordo com a Organização Internacional de Epizootias (OIE), a Lígua Azul é uma doença notificável, cujo impacto econômico decorre não apenas das perdas diretas nos rebanhos afetados, mas também das restrições econômicas impostas por países importadores. No Brasil, a situação atual também é de ampla difusão. Estudos sorológicos apontam que a ocorrência de surtos de baixa virulência proporciona uma disseminação silenciosa. Apesar de as condições tropicais aqui encontradas favorecerem a manutenção dos vetores artrópodes, parece haver, na maioria dos casos, certo grau de resistência das espécies e raças de ruminantes domésticos nacionais à apresentação de sintomatologia, tornando a doença endêmica numa população com acentuado grau de imunidade.

Do ponto de vista econômico, a doença clínica pode ter importância, dependendo das condições as quais o surto ocorre, uma vez que pode haver perdas reprodutivas, de peso corporal, lã e mortes em elevado grau. Nos países onde a doença é endêmica, como África do Sul e algumas regiões dos EUA, a vacinação também representa um custo recorrente. Contudo a principal implicação econômica corresponde aos custos com diagnóstico e principalmente às restrições do transporte e comércio de animais, germoplasma e/ou seus subprodutos a outras regiões ou países.

Referências bibliográficas

Bonneau, K.R. et al. Duration of viraemia infectious to Culicoides sonorensis in bluetongue virus-infected cattle and sheep. Vet Microbiol. V. 88, n.2, p.115-125, 2002.

http://www.fao.org/ag/againfo/subjects/en/health/diseases-cards/bluetongue.html

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