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Disparada dos preços dos fertilizantes amplia tensão no campo

Embora as negociações caminhem em ritmo lento no mercado brasileiro de fertilizantes desde o início da guerra na Ucrânia e muitas incertezas ainda estejam no radar, uma coisa é certa: a disparada de preços encareceu nutrientes que já vinham em forte alta no ano passado, elevará os custos da produção agrícola no país, ajudará a pressionar mais a inflação e poderá afetar o rendimento das lavouras, embora as áreas ocupadas por culturas como grãos e cana não devam diminuir.

Num cenário de “preços que oscilam a cada ligação”, segundo conta um comprador, a tensão cresceu nesta semana, após um novo capítulo de sanções à Rússia publicadas na terça-feira por EUA e União Europeia, que envolveu redução e até proibição de consumo de gás natural russo. O movimento trouxe mais turbulência para o segmento de fertilizantes nitrogenados, que têm o gás natural como matéria-prima. A dependência do Brasil de fornecedores internacionais em nitrogenados e potássio é de mais de 96%.

Com o movimento em gás natural, e em meio a tantas informações desencontradas, o clima é de nervosismo. Mas agentes do setor privado e especialistas de mercado reforçam que a crise não põe em risco a safra 2022/23. A presidente da Mosaic Fertilizantes, Corrine Ricards, disse, em entrevista recente ao Valor, que muitos agricultores brasileiros anteciparam compras em fevereiro. “Vi um bom movimento de compras antecipadas. Com isso, os agricultores conseguem garantir estoques”.

O maior problema, concordam fontes consultadas pela reportagem, ainda é o potássio — visto que dois dos três maiores fornecedores globais, Rússia e Belarus, estão no imbróglio, ainda que não a ponto de prejudicar a semeadura das culturas. Haverá efeito sobre o custo, no entanto. Os fertilizantes respondem por 30% do custo dos produtores de grãos, segundo a consultoria StoneX. Com as altas desde o ano passado, o percentual ronda de 35% a 40%. Assim, os menos capitalizados podem optar por reduzir a aplicação de adubos nas plantações, mesmo que a escassez não se aprofunde.

Por causa das sanções recentes ao gás russo, o comportamento dos preços da ureia tem sido como o de um “cavalo empinado”, definiu Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX. Em menos de duas semanas, desde 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, o macronutriente já subiu 50%. No dia 8 de março, estava perto do teto histórico de US$ 900 por tonelada, aponta a consultoria. Até hoje, esse patamar havia sido alcançado em apenas duas ocasiões: no fim do ano passado e em 2008. Segundo o analista, fortes movimentos (a alta de 50%, assim como a baixa de mais de 40% registrada em janeiro), são oscilações raras para o produto.

O Brasil importa anualmente entre 8 milhões e 11 milhões de toneladas de ureia, volume que é quase todo o consumo. A produção local não alcança 2 milhões de toneladas. A Unigel, que arrendou duas fábricas da Petrobras em 2020, tem capacidade para 1,15 milhão de toneladas ano — equivalente a um terço da produção de ureia na América Latina, segundo a própria empresa.

Mello diz, ainda, que percebe nesta semana uma retomada “aos poucos” dos negócios no mercado de adubos. Neste momento, apesar dos altos preços, o segmento de nitrogenados tem mais movimento que os de potássicos e fosfatados, afirma ele.

Em potássio, a trava é maior em virtude do claro sinal de desabastecimento que se desenha. Rússia e Belarus entregam 24 milhões de toneladas para o mundo, e o Canadá, que está entre os três principais do segmento, não cobre essa ausência — nem mesmo somados os novos projetos, que, vale reforçar, não ofertarão minerais da noite para o dia.

A StoneX indica a tonelada de potássio a US$ 803, e um mercado travado. Uma fonte ligada à indústria informou que têm saído alguns negócios, a US$ 1 mil — e com perspectiva de alta. “Não tem muita oferta [de potássio], e com os agricultores acreditando que vai faltar produto, está todo mundo querendo comprar”, disse o executivo.

Na semana passada, grandes empresas que atuam no Brasil, entre elas as três maiores — Mosaic, Yara e Fertipar — chegaram a retirar listas de referências de preços do mercado interno. Mas parte das companhias voltou a reapresentar listas. A indústria informou na semana passada, por meio de sua associação, a Anda, que há estoque para três meses, sem contar navios que estão a caminho.

Fonte: Valor Econômico.

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