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Diferencial de Base SP/GO. Tem base?

Mais um exemplo de como o Brasil possui várias pecuárias. Nessa entressafra os comportamentos estaduais novamente mostram as diferentes situações nas ofertas de boi gordo no segundo semestre.

Mais um exemplo de como o Brasil possui várias pecuárias. Nessa entressafra os comportamentos estaduais novamente mostram as diferentes situações nas ofertas de boi gordo no segundo semestre.

Pegue a base de preços de Goiânia, por exemplo. Observe o gráfico abaixo.

Quanto mais pra baixo a linha, maior é o desconto que a arroba de Goiás sofre em relação a São Paulo. E quer saber? O desconto de hoje é o maior dos últimos 10 anos, como você pode ver nessa figura.

Três pontos me chamaram a atenção.

O primeiro ocorreu lá atrás em 2005 e 2006. O diferencial de base diminuiu bastante. Em alguns momentos chegou a valer zero. Como diz os goianos: “Bão demais”. Será? A razão dessa alta da arroba em relação à SP foi o surto de aftosa no Mato Grosso do Sul no mesmo período. O estado ficou fechado e os frigoríficos tiveram que se abastecer nas outras regiões. Porém, três anos depois, passado o problema no MS, a base voltou para a sua média histórica.

Mas será que voltou mesmo para a média histórica? Voltou sim, porém parece que está querendo alargar a base nas entressafras. Talvez a oferta de bois confinados finalmente está pesando para o estado…. talvez Goiás esteja começando a sofrer as consequências do seu sucesso e de sua competência em produzir.

Repare nos outros dois pontos marcados. O do meio foi devido à crise de 08~09 gerada pela cachoeira de bois gordos, em sua grande maioria bois confinados, resultados de liquidações de operações de fundos de investimentos e de outros atores que estavam com muitos bois comprados com o dinheiro dos outros. O terceiro ponto está ocorrendo agora em 2011.

Repare que tanto em 2008/09 quanto agora em 2011 o diferencial de base veio bem abaixo do que seria o normal histórico.

Razões para isso? Bom, podemos ter várias. Pode ter sido a diminuição de compradores? Pode ser concentração de frigoríficos? Talvez sim, talvez não. Se fosse concentração dos frigoríficos, então quando a arroba estava subindo uns meses atrás o diferencial de base não deveria voltar para o normal, como voltou, certo? Se fosse concentração, porque em 2010 a base não se alargou?

Talvez seja oferta de boi? A conta não é necessariamente complicada. No final da história da lei da oferta vs. procura é inescapável — onde existe mais boi gordo sendo ofertado o cidadão vai tentar pagar mais barato mesmo. Mais bois, menor o preço. Especialmente quando a oferta é de confinamentos — um tipo de operação que não permite a flexibilidade da entrega. Engordou, entregou. Senão a bóia fica cara demais e o que era lucro vira prejuízo.

Talvez a explicação cair sobre a concentração dos frigoríficos seja fácil demais. Fácil por mascarar o que realmente está ocorrendo — Goiás é o responsável pela maior quantidade de bois confinados atualmente, no Brasil, no segundo semestre. Sob qualquer circunstância, uma oferta enorme de animais, tão concentrada e tão disponível assim não seria fácil segurar os preços.

Talvez no futuro Mato Grosso esteja passando pelo que Goiás passa agora. É esperar para ver.

Agora compare a situação de Goiás com a de Campo Grande no gráfico abaixo.

Repare o que ocorreu na aftosa. Foi o inverso do que ocorreu com Goiânia. A arroba no MS chegou a ficar abaixo da arroba de Tocantins por vários meses. Porém, depois de algum tempo, os preços voltaram para dentro da normalidade das bases históricas.

E permaneceram lá desde então. Não tem muito que dizer da arroba de Campo Grande. Perto da correria que é o “negócio boi” em Goiás, Mato Grosso do Sul possui a calma de um lar de idosos. Confinamentos existem por lá, mas com uma pressão significativamente menor da que ocorre nas terras goianas. O forte do estado são bois semi-confinados, e bois semi-confinados podem esperar para serem negociados… ou podem deixar de serem negociados e esperarem a safra, se o pecuarista quiser.

Não estou tomando partido de nenhum lado. Estou somente mostrando os fatos tais como são. Se mostro essas coisas é porque há alternativa para fugir de ser pego pelo alargamento do diferencial de base, especialmente nas regiões com bastantes animais confinados. Por exemplo, muitos pecuaristas em Goiás travaram seus animais bem antes. Eles negociaram talvez não necessariamente o preço da arroba em si, mas pelo menos agendou o abate nos frigoríficos. Alguns negociaram até os diferenciais de bases do negócio, algo ao redor de “indicador São Paulo menos uma base”. Ou seja, negociou exatamente para se proteger do que o gráfico lá de cima de Goiás fez, que foi a queda do diferencial. Quem fez isso não está nem dando bola para a arroba de GO ter ficado para trás.

Pense nessas alternativas. Avalie quem fez. Procure se informar. Ligue para o pessoal que negocia boi a termo nos frigoríficos. Veja as possibilidades que a bolsa fornece para fazer seguro de preço.

Talvez agora em 2011 a coisa já esteja meio tarde, porém é um aviso e um lembrete para ver isso bem antes (maio, junho) no ano que vem.

Artigo publicado inicialmente na Carta Pecuária

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