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Diálogo entre Brasil e China ‘tem que ser bom’, diz embaixador

Uma das diretrizes da China para investir no Brasil, segundo o embaixador brasileiro em Pequim, Marcos Caramuru, é que o diálogo político entre os governos “tem que ser bom”. A declaração do emissário na China foi dada em entrevista ao Valor, em meio a questionamentos sobre a eleição presidencial no Brasil.

Quanto às reações de Pequim a críticas de Jair Bolsonaro, o candidato vitorioso para a Presidência da República, de que a China não está “comprando no Brasil”, e sim “comprando o Brasil”, o embaixador respondeu diplomaticamente que “os chineses têm acompanhado as declarações e afirmado que esperam ter uma boa e produtiva relação com o país”.

Caramuru sugeriu que se olhe a presença chinesa na economia brasileira “com uma lente mais ampliada”. O embaixador brasileiro calcula o estoque de investimentos chineses no país em US$ 60 bilhões de um total de US$ 1 trilhão investido por Pequim no exterior.
“O montante ainda é muito pouco para o tamanho da economia brasileira”, afirma ele.

Ele afirmou que os chineses entraram com força no mercado internacional somente há cerca de sete anos, com fluxo anual de Investimento Estrangeiro Direto (IED) de US$ 130 bilhões na média. Daí a visibilidade maior sobre o que eles compram – caso de empresas como Volvo, Syngenta, Pirelli, Cirque du Soleil, Club Med. Além de o grupo chinês Geely ser o maior acionista individual da Mercedes-Benz (10%), por exemplo.

A presença chinesa é mais visível no Brasil na área de energia. “Se não há os chineses nas licitações, temos menos concorrentes e o preço que se paga ao Tesouro acaba sendo menor ou não existe interesse”, afirma.

Questionado se no cenário atual a China continua a mostrar apetite por investimentos no Brasil, Caramuru respondeu que varia muito de setor. Ele afirmou que o investimento chinês no país atende a quatro diretrizes: o diálogo político entre os governos tem que ser bom; a rentabilidade do investimento deve ser razoável; deve-se haver percepção de que outros investimentos chineses funcionam bem; mas tudo depende também da estabilidade da economia brasileira.

Em sua avaliação, esses fatores variam muito, mas “é importante mantê- los estáveis, pois os chineses investem em segmentos produtivos”. De um lado, ele lembrou que a Baidu, chamada de Google chinesa, saiu do Brasil, a exemplo de muitas outras empresas menores da China que perderam dinheiro no mercado brasileiro. “Isso gera interrogações entre os chineses.”

De outro lado, Caramuru contou que na sexta-feira participou de cerimônia na qual o banco Cetic consolidou a aquisição por US$ 1,1 bilhão da empresa de sementes da Dow Chemical no Brasil, agora batizada de Long Ping. Isso ilustra o interesse pelos negócios no país.

Na área comercial, o emissário destaca que o superávit nas transações com a China até setembro representou 45% do saldo comercial total da balança comercial brasileira, comparado a 30% no ano passado. Já em relação ao resto do mundo, o superávit diminuiu.

As exportações brasileiras para a China têm sido impulsionadas pela escalada de tensões comerciais com os EUA. Agora, 70% da soja importada é do Brasil, na comparação com 52% no ano passado. O preço é melhor e a demanda continua elevada.

Ao mesmo tempo, Pequim procura diversificar as fontes de suprimento. Produtores chineses anunciaram um projeto de plantar soja no extremo oriente da Rússia.

Segundo Caramuru, várias negociações estão em andamento com Pequim para serem resolvidas até dezembro, antes da posse do novo governo em Brasília. Há perspectivas de uma missão chinesa visitar o Brasil para aprovar novas unidades exportadoras de carnes bovina e de frango. Também há previsão de conclusão do entendimento para o Brasil exportar melão para a China, e para os chineses venderem pera para o mercado brasileiro.

Para Marcos de Paiva Vieira, professor de International Business na Guangdong University of Technology, os chineses têm a noção exata da importância de seus investimentos no Brasil. “E todos sabem que a presença dos chineses nos leilões no Brasil é líquida e certa, por tratar-se de objetivo estratégico geopolítico para a China na América Latina. Entram para ganhar mesmo.”

Para o acadêmico, com décadas de experiência na China, há interrogações em relação à eventual proximidade de Bolsonaro com os Estados Unidos. Mas ele acha que Pequim sabe que é ínfimo o interesse de Donald Trump pela América Latina.

Paiva disse acreditar que a delegação do presidente Xi Jinping que vai ao encontro do G-20 na Argentina, em novembro, “fará os movimentos adequados de peças estratégicas no tabuleiro do xadrez da América Latina para se aproximar de Bolsonaro e mostrar-lhe o tamanho do potencial da amizade com a China”.

Fonte: Valor Econômico.

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