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Deveríamos ter uma entidade, como o AusMeat, da Austrália, que representasse tecnicamente o setor das carnes de bovinos – Pedro de Felício (Professor-Pesquisador)

O BeefPoint lança seu prêmio mais importante do ano para reconhecer e celebrar quem faz a diferença na pecuária de corte brasileira.

Nosso trabalho é focado em 3 pilares: conhecimento, relacionamento e inspiração. Tudo isso com foco em uma pecuária mais moderna, lucrativa e eficiente. Realizar um prêmio que seja uma festa e uma homenagem a essas pessoas especiais da pecuária de corte é a melhor maneira que encontramos para trazer inspiração a todos os envolvidos na cadeia da carne. Celebrar e destacar os bons exemplos é o caminho que encontramos e por isso estamos fazendo o Prêmio BeefPoint Brasil 2013.

A premiação será durante nosso maior evento de 2013, o BeefSummit Brasil, que vai reunir mais de 1.000 pessoas em Ribeirão Preto, SP, nos dias 10 e 11 de dezembro de 2013.

A cerimônia de entrega dos prêmios e divulgação dos ganhadores será no final do dia 10 de dezembro, após as palestras e antes do coquetel com Chopp Pinguim e degustação de carnes especiais.

Para conhecer melhor os finalistas de cada categoria, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um deles.

Confira abaixo a entrevista com Pedro Eduardo de Felício, um dos finalistas do Prêmio BeefPoint Brasil, na categoria Professor-Pesquisador.

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Formado  em medicina veterinária na USP, na Cidade Universitária, em São Paulo, obteve o título de mestre em ciências, genética, na USP de Ribeirão Preto, SP, e o de doutor (Ph.D) na Kansas State University, Manhattan, Kansas, em zootecnia com ênfase em produtos de origem animal.

Profissionalmente, iniciou a carreira como professor assistente de zootecnia em Jaboticabal, SP, em outubro de 1972, depois fez parte da primeira equipe de pesquisadores do Centro de Tecnologia de Carnes, do Instituto de Tecnologia de Alimentos, de Campinas (1975-1982), período este que incluiu o doutoramento nos Estados Unidos. Após um ano como assistente de marketing do Atlas Frigorífico, empresa de vários acionistas sob o controle da Volkswagen com escritório em São Paulo e matadouro-frigorífico no Sul do Pará, hoje JBS Friboi, foi contratado, em outubro de 1983, pela FEA, Faculdade de Engenharia de Alimentos, da UNICAMP, Universidade Estadual de Campinas, onde alcançou o grau de professor titular por concurso realizado em 2007.

Na FEA – UNICAMP foi chefe do Departamento de Tecnologia de Alimentos e, por dois mandatos não consecutivos foi coordenador do curso de pós-graduação em tecnologia de alimentos. No quadriênio 1990-1993 foi cedido pela UNICAMP à reitoria da USP para exercer um mandato de prefeito do recém criado campus de Pirassununga. Nesse período foram criadas as condições mínimas de funcionamento da FZEA, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos daquela universidade, onde até 1992 o curso de Zootecnia era parte integrante da FMVZ da capital e a Engenharia de Alimentos não existia.

Durante três décadas foi responsável na FEA pelas disciplinas de ciência e tecnologia de carnes e derivados, matérias primas de origem animal e características e pré-processamento de carnes no curso de graduação em engenharia de alimentos e tecnologia avançada de carnes e derivados e fundamentos de ciência de carnes na pós-graduação.

Publicou 55 artigos científicos em periódicos nacionais e estrangeiros, 54 artigos em revistas de divulgação técnica, 8 capítulos de livros, 52 resumos expandidos publicados em anais de congressos. Orientou 29 alunos que defenderam suas dissertações de mestrado e 10 que defenderam teses de doutorado.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do Brasil hoje?

Pedro de Felício: Penso que há muitos desafios, mas para mim o principal é a erradicação da febre aftosa em todo o território nacional e quem sabe em toda a América do Sul, para melhorar as chances de competir nas exportações para países não aftósicos que remuneram melhor a carne bovina. Para este alvo deveria haver um programa prioritário do governo em conjunto com as entidades representativas da pecuária nacional.

Ainda nessa questão dos desafios eu incluiria a recriação de um sistema nacional de defesa sanitária, inspeção de produtos de origem animal e controle de medicamentos veterinários que deveria ser uma agência moderna com bastante autonomia para atuar livre de pressões políticas ou econômicas, que também poderia ser como na França, uma agência que exercesse suas funções em paralelo ao governo como fonte de análises e recomendações científicas que podem ou não ser atendidas por um ministério a quem sempre caberia a decisão final e, obviamente, a responsabilidade pela execução e pelos erros e acertos de suas opções.

BeefPoint: O que o setor poderia, deveria fazer para aumentar sua competitividade no Brasil?

Pedro de Felício: Existem organizações bem consolidadas que representam os pecuaristas e outras que representam o segmento industrial, principalmente o exportador, outras representam os supermercadistas. Penso que deveríamos ter uma entidade, como o AusMeat, da Austrália, que representasse tecnicamente o setor das carnes de bovinos, ovinos e caprinos, que contribuísse na criação de padrões, manuais técnicos e auditorias, e na melhoria da qualidade por meio da classificação de carcaças e do aperfeiçoamento de técnicos em tópicos como os cortes cárneos para os diferentes mercados.

Não vou insistir aqui na questão dos machos não castrados cuja produção cresce assustadoramente no país. Tenho emitido opiniões a respeito, aqui vou resumir o que penso. Nada contra a não castração dos machos como acontece em grande parte da União Europeia, mas teríamos que abater esses bovinos com até 20 meses. Se esses machos terão ou não acabamento é uma questão para ser discutida em outro momento. O que não está certo é desenvolver uma pecuária baseada no abate de machos não castrados de 4 a 6 dentes incisivos permanentes. Se isso está dando certo na exportação para países que remuneram nosso produto com preços baixos que sigam fazendo isso, mas se o objetivo for melhorar a receita das exportações aí será preciso mudar essa situação.

BeefPoint: Você poderia nos contar sobre os acertos? O que fez e deu certo em sua carreira? Qual a sua maior realização?

Pedro de Felício: Exceto por alguns períodos, como o que passei no Centro de Tecnologia de Carnes, no ITAL de Campinas, em que exerci mais a pesquisa, ou aquele dedicado à USP, na área administrativa, minha atividade principal sempre foi a docência. Lecionei em Jaboticabal quando ainda era iniciante, ministrei aulas em cursos no CTC/ITAL, leciono na FEA-UNICAMP há 30 anos, e raramente deixo passar uma oportunidade de ministrar palestras em eventos técnico-científicos ou cursos de especialização para zootecnistas, agrônomos e veterinários em diversos estados.

Também tenho consciência de que fiz um bom trabalho na área administrativa, seja nas funções que desempenhei na FEA-UNICAMP, seja na primeira gestão do campus da USP em Pirassununga. Gosto de administração, do trabalho de equipe, mas penso que estão praticamente esgotadas as possibilidades de montagem nas universidades públicas de uma equipe como a que tive em Pirassununga. Na UNICAMP, por exemplo, tornou-se muito difícil, senão impossível fazer contratações na área administrativa e os diretores têm que fazer um pouco mais do mesmo, mudar é quase impossível, porque quando precisam de um bom assistente administrativo ou financeiro devem se contentar em receber alguém que esteja aguardando transferência de outra unidade, imagino que nas outras universidades públicas não seja muito diferente.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Pedro de Felício: Eu não pensei nisso, mas posso contar uma situação pitoresca da minha carreira. Tem a ver com a minha inclinação quando estudante para a área de produção leiteira. Creio que foi um momento de convergência das influências de meu pai que tinha forte ligação afetiva com vacas leiteiras e do Prof. Dr. Carlos Souza Lucci que, brilhantemente, lecionou sobre alimentação de gado leiteiro a partir da minha turma na FMVZ.

Ao concluir o curso de veterinária surgiram duas vagas no Instituto de Zootecnia, em fase de mudança do Parque da Água Branca para Nova Odessa, onde eu era estagiário, bolsista de iniciação científica em alimentação de suínos. Uma era para gado leiteiro e a outra para nutrição animal. Prestei os dois concursos e fui aprovado nos dois para as entrevistas. Exigiram que eu escolhesse uma das áreas e eu escolhi gado leiteiro, mas fui aprovado num concurso do departamento de Zootecnia de Jaboticabal e fiz minha opção pelo ensino. Jaboticabal não deu certo para mim, eu era jovem demais, tinha 23 anos no início, 25 ao final, não sabia lidar com o jogo político pesado das faculdades que estavam se formando e já tinham seus poderosos chefões.

Ao final de 1974, veio o convite para trabalhar no CTC do ITAL, projeto este financiado pela Embrapa que dava os seus primeiros passos e mostrava muito interesse, mas mais tarde parece ter desistido de investir em pesquisas com carnes de maneira a fazer uma diferença num país que está entre os maiores produtores e exportadores mundiais de carnes.

Nunca vou saber se fui mais bem sucedido trilhando o caminho das carnes do que teria sido no setor leiteiro. Assim, acabo de contar um erro e uma incerteza, se teria tido menos dissabores na área do leite e derivados. O que posso afirmar é que até bem recentemente o setor de carnes foi um fardo difícil de carregar pelo atraso na mentalidade de gerentes e proprietários que desprezavam os estudos da área de carnes das universidades.

BeefPoint: O que você fez em 2013 que te trouxe mais resultados?

Pedro de Felício: Não sei dizer sobre o que fiz este ano, porque foi quando iniciei o meu desligamento afetivo e funcional da FEA-UNICAMP. É um processo de transformação em que você tem que ir se afastando gradualmente de “um amor antigo”, não é brincadeira, foram 30 anos no mesmo departamento, no qual cada colega, docente ou funcionário, e até os objetos têm uma história. Imagine a dor de deixar para trás os meus livros por falta de um local para guarda-los.

Mas, a parte boa disso tudo é que o professor já contratado, por meio de disputado concurso, para me substituir na área de carnes na FEA foi meu aluno de mestrado e doutorado, é muito competente em tudo que faz e tem valores que também são os meus. Importante deixar bem claro que não mexi uma pena para que ele fosse indicado pela banca examinadora, até viajei e fiquei fora durante a semana do concurso. O resultado foi a maior alegria que eu poderia ter tido neste ano na área profissional.

BeefPoint: O que você pretende fazer em 2014? Quais são seus planos?

Pedro de Felício: Vou tirar uns 10 meses de licença-prêmio a que tenho direito e analisarei propostas de trabalho que possam surgir, mas tem que ser algo que eu goste muito de fazer, ou vou continuar estudando e escrevendo artigos, porque isso me dá satisfação pessoal e sentimento de estar contribuindo para a formação de interessados no setor.

Mais informações sobre o BeefSummit Brasil
Data: 10 e 11 de Dezembro de 2013
Local: Centro de Convenções Ribeirão Preto (CCRP)
Endereço: Rua Bernardino de Campos, 999, Ribeirão Preto – SP
Site do evento

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