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Desempenho de bovinos suplementados a pasto com diferentes níves de proteína

Uma das maiores dificuldades para produção de carne a pasto nas condições tropicais é a ocorrência de estacionalidade na produção de plantas forrageiras, causando oscilação na produtividade e na qualidade das forragens durante o ano. A flutuação na oferta e qualidade dos alimentos para os animais mantidos a pasto é fator limitante, refletindo-se na produção animal levando a menores índices zootécnicos. O presente trabalho avaliou o desempenho de novilhos Nelore em terminação a pasto suplementados com subprodutos agroindustriais.

Uma das maiores dificuldades para produção de carne a pasto nas condições tropicais é a ocorrência de estacionalidade na produção de plantas forrageiras, causando oscilação na produtividade e na qualidade das forragens durante o ano. A flutuação na oferta e qualidade dos alimentos para os animais mantidos a pasto é fator limitante, refletindo-se na produção animal levando a menores índices zootécnicos.

A bovinocultura de corte brasileira deverá estabelecer sistemas como o de suplementação a pasto, semi-confinamento ou confinamento, capazes de produzir carne de boa qualidade a baixo custo, abatendo animais com aproximadamente 24 meses de idade. Nos últimos anos a utilização de subprodutos da agroindústria têm sido uma constante na pecuária de corte, com objetivo de minimizar os custos de suplementação.

O presente trabalho avaliou o desempenho de novilhos Nelore em terminação a pasto suplementados com subprodutos agroindustriais. Foram utilizadas pastagens de Brachiaria brizantha, com ou sem suplementação e um comparativo entre suplemento e banco de proteína, sendo usado a leucena (Leucaena leucocephala). Nos piquetes com banco de proteína, a leguminosa representava cerca de 25% da área do piquete, e os animais tinham livre acesso ao banco de proteína. O sistema de pastejo utilizado foi rotacionado com aproximadamente 28 dias de ocupação e 56 de descanso. Utilizou-se 128 bovinos machos castrados da raça Nelore, com idade e peso de aproximadamente 22 meses e 400 Kg, respectivamente.

Foram avaliados 4 tipos de suplementação, como descrito abaixo:

Controle = Pastagem de Brachiaria brizantha cv. marandu + suplemento mineral;
Leucena = Pastagem de Brachiaria brizantha cv. marandu + Banco de proteína (Leucaena leucocephala) + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil úmido® (animal/dia) + suplemento mineral;
Supl.1 = Pastagem de Brachiaria brizantha cv. marandu + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil úmido® + 0.5 Kg farelo de soja + 0.1 Kg uréia (animal/dia) + suplemento mineral;
Supl.2 = Pastagem de Brachiaria brizantha cv. marandu + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil® úmido + 1 Kg farelo de soja + 0.1 Kg uréia (animal/dia) + suplemento mineral.

O suplemento alimentar foi fornecido diariamente, não sendo observadas sobras.

Avaliando-se o período total (149 dias), os animais dos Supl. 1 e 2 apresentaram maiores ganhos médios diários (GMD) em relação aos animais dos grupos controle e leucena, sendo o GMD do leucena significativamente maior que o controle (Tabela 1).

Tabela 1. Ganhos médios diários durante todo período experimental para os diferentes tratamentos

Não houve diferença significativa (P<0,05) no desempenho dos animais dos tratamentos Supl.1 e 2, sendo que o acréscimo de 0,5 Kg de farelo de soja/animal/dia não proporcionou melhores ganhos aos animais do tratamento Supl.2. Esse fato mostra que provavelmente a relação proteína:energia da dieta ingerida no tratamento Supl.2 atingiu níveis acima do recomendado, levando a um aumento excessivo das concentrações de amônia no líquido ruminal. A provável maior quantidade de proteína na dieta do tratamento Supl.2, pode ter levado a desvio da energia disponível para ganho na eliminação do excesso protéico. Esse custo em energia ocorre na transformação de amônia em uréia, no ciclo da uréia, e é conhecido como custo uréia. Os maiores GMD encontrados para os animais suplementados estão de acordo com outros trabalhos descritos na literatura. (Ruas, et al., 2000; Bandyk et al., 2001). A suplementação alimentar proporcionou uma maior velocidade de crescimento aos animais suplementados em relação ao grupo controle. Entretanto, houve interação tempo x tratamento, sendo diferentes os GMD nos diferentes períodos experimentais (Tabela 2), devido às variações na quantidade e qualidade de forragem durante o período experimental. Tabela 2. Ganhos médios diários nos diferentes períodos experimentais para os diferentes tratamentos

No primeiro período, observou-se maiores ganhos (P<0,05) para os tratamentos Supl.1 e 2 em relação ao leucena e controle. No segundo e terceiro períodos as diferenças em desempenho foram estatisticamente superiores (P<0,05) para os tratamentos leucena, Supl.1 e 2, em relação ao grupo controle, sem haver diferença estatística entre os suplementos. Não houve diferença entre os quatro tratamentos no quarto período experimental (outubro), provavelmente devido ao início das chuvas e aumento da quantidade e qualidade da forragem disponível. Esses fatos devem ter proporcionado aos animais do tratamento controle melhores condições nutricionais, satisfazendo as exigências de PDR, com isso melhorando a digestibilidade da fibra e consequentemente a ingestão de MS. No último período ocorreram menores ganhos para os tratamentos controle e Supl.2 em relação aos tratamentos Supl.1 e leucena. O fato do GMD do grupo Supl.2 ser igual ao grupo controle, pode ter ocorrido devido ao aumento do teor de proteína da pastagem nos dois últimos períodos, e os animais suplementados provavelmente estarem depositando maiores quantidades de tecido adiposo, havendo diminuição das exigências em proteína e aumento da de energia. Referências Bibliográficas:

BANDYK, C.A.; COCHRAN, R.C.; WICKERSHAM, E.C.; TITGEMEYER, E.C.; FARMER, C.G.; HIGGINS, J.J. Effect of ruminal vs postruminal administration of degradable protein on utilization of low quality forage by beef steers. Journal of Animal Science, v. 79, n. 1, p. 225-231, 2001.

RUAS, J.R.M.; TORRES, C.A.A.; VALADARES FILHO, S.C.; PEREIRA, J.C.; BORGES, L.E.; MARCATI NETO, A. Efeito da suplementação protéica a pasto sobre consumo de forragens, ganho de peso e condição corporal, em vacas Nelore. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia. v. 29, n. 3, p. 930-934, 2000.

SOUZA, André Alves de; BOIN, Celso; LOURENÇO, Antônio João; MANELLA, Marcelo de Queiroz; SUGUISAWA, Liliane. Desempenho de Novilhos Nelore em Terminação a Pasto Suplementados com subprodutos agroindustriais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE RAÇAS ZEBUÍNAS – OS MITOS E A REALIDADE DA CARNE BOVINA, 2002, Uberaba/MG. Anais ABCZ, p. 288-290, 2002.

0 Comments

  1. Renato Arantes Lima Simões disse:

    Prezado André,

    parabéns pelo artigo.

    Gostaria se possível de uma informação. Pelo nível de suplementação utilizado (cerca de 1,0% do PV) na suplementação 1 e 2, os ganhos obtidos (cerca de 600 gramas diárias) não ficaram aqúem do esperado? Não poderíamos esperar como média uns 800 a 900 gramas? Por acaso faltou pastagem no período seco? As médias de ganho de julho, agosto e setembro fizeram a média final cair?
    Ou os resultados esperados eram esses mesmos??

    Obrigado pela atenção
    Renato A. L. Simões

  2. André Alves de Souza disse:

    Prezado Renato,
    Importante ressaltar que os valores apresentados de consumo estão em matéria natural e não em matéria seca. Como temos o refinazil úmido, com uma grande quantidade de água, os valores ficam em torno de 0,3 e 0,6% do PV em MS. O valor médio incui os meses de julho e agosto que realmente levaram esse valor abaixo. Se observarmos os demais períodos temos valores entre 0,8 a 1 kg de ganho. Porém, é importante tb considerar os valores de perda de peso pelos grupos não suplementados, sendo que o ganho em relação ao uso do suoplemento seria a “soma da perda com os valores de ganho, passando a aproximadamente 0,8 kg a partir de agosto, ok? Não houve perda na quantidade de MS disponível, porém a qualidade caiu muito, com valores de PB da pastagem de 3,2%em julho agosto e setembro. Em termos de diferentes em resposta a suplementação, vemos que o acréscimo de 500g de far de soja não levou a aumento algum no desempenho. Isso demonstra que ao suplementarmos proteína, estamos ajustando o ambiente ruminal e não suprindo as exigências do animal diretamente.

    Forte abraço.

  3. Márcia Coelho Varejão disse:

    Do artigo acima,presumo que o melhor custo benefício foi obtido com a leucena pura. Gostaria , se posível mais esclarecimentos sobre a implantação da leucena como consorciante ao braquiarão, em pastagem já implantada. Gostaria também de esclarecer se é verdade que a leucena tende a alastrar na propriedade virando praga.
    Obrigada.

  4. Paulo Warken disse:

    Boa Tarde Dr. André!

    Achei oportuna a divulgação deste trabalho, mas, pelos cálculos que empiricamente fiz, concluo ser antieconômica a suplementação nestes níveis.
    Quanto a Leucena, não sei qual é seu custo e talvez seja a opção mais econômica das quatro avaliadas.
    Suplementar bovinos com concentrados parece ser sempre uma operação arriscada.
    Infelizmente os preços dos grãos e mesmo de subprodutos de agroindústrias não cabem no preço da arroba de boi. Esta é pelo menos a realidade de nossa região. Aqui, para formular uma suplementação com os insumos disponíveis, teríamos que ganhar cerca de 700 gramas a mais por dia em relação ao lote testemunha, coisa que não aconteceu nesta avaliação.
    Ou estou equivocado?

    Abraços.
    Paulo Warken

  5. André Alves de Souza disse:

    Prezada Márcia, tudo bem?
    Realmente o uso de leguminosas em consórcio com pastagens mostra um resultado efetivo em relação ao suprimento nutricional e desempenho. Porém, é importante lembrarmos da fisiologia das plantas que responderão ao manejo adotado. No caso da leucena essa tem um resultado bastante interessante em relação ao consumo e desempenho, porém exige manejos de podas para que se mantenha arbustiva. Além disso, toda vez que manejamos pensando na forragem, prejudicamos a leguminosa, por isso seria mais indicada para pequenas propriedades. Outras opções seriam as leguminosas arbustivas, como o estilosantes, porém o custo de implantação, de maneira geral, ainda é muito elevado. Avalie as condições que vc possue em sua região e decida a melhor opção, ok? Importante lembrar que o nosso objetivo é suprir proteína ao animal ao menor custo possível, seja como banco de proteína ou no cocho.

    Forte abraço.

  6. André Alves de Souza disse:

    Prezado Paulo,
    Não há equívovo não. Realmente temos SEMPRE que avaliar a viabilidade econômica da suplementação. No caso descrito termos obtido viabilidade economica devido aos baixos custos da suplementação, sendo os ingredientes comprados de forma estratégica. Apesar disso, gostaria de salientar a importância sempre de avaliação da economicidade do processo, visto que a pecuária é uma atividade econômica e deve sempre visar lucro. Outro ponto importante seria avaliar a diferença entre o ganho e a perda de peso no caso da não suplementação, e nesse caso passam de 700g, ok?
    Aproveitando seus comentários, gostaria de exaltar o resultado que vejo como o mais importante do trabalho, que seria o incremento de 500g de far de soja no supl 2 em relação ao supl 1. Apesar de haver um alto incremento em proteína via far de soja (custo alto) não verificamos aumento no desempenho. É comum encontrarmos suplementos tendo o preço “balizado” pelo seu teor de proteína o que pode ser um tremendo desperdício, como ficou demonstrado. O excesso protéico consome energia para ser eliminado, diminuindo o ganho de peso. esse gasto de energia é chamado de custo uréia, o que acredito ocorrer em um grande númento de programas de suplementação Brasil afora, concorda?

    Grande abraço!

  7. Marcelo Manella disse:

    Andre,
    gostaria de mencionar, como co-autor deste trabalho, que na verdade teria de apresentar os dados de carcaça e do abate, onde os dois grupos suplementados ao final do experimento foram 100% abatidos com acabamento de 5mm de gordura, enquanto a leucena apenas 50% dos animais foram abatidos, e do controle apenas 10%, sendo que os outros 90% ficaram mais 6 meses para serem abatidos.
    alem do mais os animais suplementados apresentaram 2 pontos percentuais a mais em redimento, que representou 1,5 @ a mais de carcaça. Com estas informações, creio que os amigos poderiam mais facilmente chegar a mehor analise economica.

  8. Cynara Oliveira Diniz Rodrigues disse:

    Os animais dos grupos suplementados foram abatidos com qual idade, 24 meses?

  9. WALTER LEANDRO PATRIZI disse:

    Dr. André Souza,
    Primeiramente lhe parabenizo pelo trabalho e pelo seu poder de síntese.
    Você atribui o desempenho igual ou pior do supl.2 em relação ao supl.1 nos últimos períodos devido ao excesso de proteína na dieta. O excesso de proteína na dieta estaria causando redução de desempenho pela redução da exigência proteica em animais próximos ao ponto de abate, ok? Portanto, você acredita que o supl.2 teria desempenho melhor que supl.1 se fosse oferecido a animais em recria? Ou poderíamos esperar resultados semelhantes devido à um possível excesso de PDR em relação ao energia ruminal disponível?

  10. André Alves de Souza disse:

    Prezado Walter,
    O desempenho do supl 2 foi inferior no período final, devido ao excesso de proteína ingerido pelos animais. A ingestão de proteina em excesso, aumenta a exigência energética para a metabolização do excesso protéico. Esse gasto de energia na eliminacão do excesso proteico é chamado de “custo ureia” e desvia energia do ganho de peso para transformacão e eliminacão de proteina, diminuindo o desempenho de bovinos com suplementos com excesso de proteína.
    Esses resultados evidenciam que o mais importante em relação aos suplementos é o balanceamento adequado de nutrientes, e não “quanto mais proteico melhor”.
    É comum vermos técnicos usando o teor proteico na avalaição da qualidade da qualidade do suplemento, bem como na estimativa de ganho.
    Excesso proteico levará não só a baixo desempenho como também a perdas financeiras devido a elevação do custo do ganho.

    Um grande abraço.

  11. Marcelo Martorano Vallone disse:

    Prezado André,
    Considero importante salientar dois pontos que se tornam importantes quando se analisa cada período do experimento e depois como um todo. Primeiramente seria o periodo 4, onde não foi observado diferença entre os ganhos diários, sendo que foi atribuido o acontecido pela alta disponibilidade de forragem, correto? Concordo, mais não seria importante comentar sobre possivelmente a presença do ganho compensatório nos animais do tratamento controle, já que provavelmente alcançaram ganhos de aproximadamente 1Kg devido a permanência durante os demais periodos que antecederam o mesmo com queda no desempenho??
    Outro ponto importante nesse artigo não seria colocar e analisar estatisticamente se houve diferença no ganho (que com certeza ocorreu) durante todo periodo, para saber qual o peso que eles ganharam durante todo experimento e nao apenas o ganho diário.
    Abraço

  12. André Alves de Souza disse:

    Prezado Marcelo,
    Realemente é muito provável que tenha ocorrido ganho compensatório para os animais controle, porém não afirmamos tal fato por não ter avaliado esse variável diretamente, ok? Os dados foram analisados por “períodos”pelo fato de ter ocorrido efeito de tempo em relação aos velores obtidos, e portanto, deve-se fazer a análise por período, e não do período todo. A descrição dos dados no período todo foi realizada para exiir as diferenças observadas quando do uso da suplemntação dentro do sistema de produção como um todo.

    Forte abraço.

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