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Desempenho, consumo alimentar residual, digestibilidade, características de carcaças e rentabilidade de novilhos Angus-Hereford estabulados em baias individuais ou em grupo

O alimento é o componente mais caro de qualquer sistema de produção animal. O custo de alimentação é mais importante na bovinocultura de corte que em outras culturas, devido ao fato de que 70 a 75% do custo da energia dietética total é usado para mantença. Neste sentido, um conceito denominado consumo alimentar residual, tem sido estudado por vários centros de pesquisas.

O alimento é o componente mais caro de qualquer sistema de produção animal. O custo de alimentação é mais importante na bovinocultura de corte que em outras culturas, devido ao fato de que 70 a 75% do custo da energia dietética total é usado para mantença.

Neste sentido, um conceito denominado consumo alimentar residual, tem sido estudado por vários centros de pesquisas. Este conceito foi inicialmente apresentado em 1963, como uma eficiente variável não correlacionada com o peso vivo ou com o ganho de peso diário.

Então, consumo alimentar residual é definido como a diferença entre o consumo de alimento atual e o consumo requerido para mantença e ganho. Trata-se de uma medida individual, sendo assim, os animais podem ser alimentados individualmente ou em grupos, mas este último requer o uso de dispositivos eletrônicos que mensuram o consumo de cada animal. Contudo, existem algumas questões por serem definidas, como a validação dos dados de consumo de alimento obtidos em baias individuais.

Vários mecanismos tem sido sugeridos para explicar as diferenças no consumo alimentar residual. Uma possibilidade poderia ser a diferença na composição do ganho de peso vivo; consequentemente, animais com baixo consumo alimentar residual (mais eficiente), potencialmente tem baixa quantidade de gordura corporea.

Outra possibilidade poderia ser a diferença no requerimento de energia para mantença, uma vez que foi observado que o requerimento de energia para mantença está geralmente relacionado com a massa dos órgãos viscerais, os quais possuem alta intensidade metabólica em relação aos outros tecidos. Outra possibilidade sugerida é o fato de touros jovens e novilhas, fenotipicamente ranqueados para baixo ou alto consumo alimentar residual, tenderem a diferir em aproximadamente 1% na habilidade de digerir alimento.

Desta forma, uma pesquisa realizada na Universidade da Califórnia com o objetivo de estudar as relações entre ganho de peso diário (GPD), consumo de matéria seca (CMS), digestibilidade da MS (DMS), consumo alimentar residual (CAR), eficiência alimentar(G:C) e rentabilidade de bovinos de corte confinados. Também, foi re-avaliado o efeito do manejo (baias individuais ou em grupo) no GPD, CMS, DMS, CAR, G:C e as diferenças nas composições finais das carcaças e massa de órgãos viscerais entre novilhos de baixo e alto CAR.

Para tanto, 60 novilhos com média de 12 meses de idade, mestiços Angus-Hereford, foram trasnportados da fazenda de cria da faculdade para o confinamento, onde ficaram um mês em período de adaptação antes de começar o experimento. Após o período de adaptação, os animais foram pesados e avaliados por ultrasonografia. Em seguida, 30 animais foram colocados em baias individuais e os demais em seis grupos de cinco animais por baia.

Uma vez transcorrido o período de 60 dias, os animais foram trocados das baias em grupo para as baias individuais, e vice-versa, e alimentados por mais 60 dias. Assim, no final dos 120 dias de experimento, todos os animais do rebanho geraram dados de consumo individual. Após a conclusão do experimento, os animais foram alimentados por mais aproximadamente dois meses, para então serem abatidos.

Os animais foram pesados a cada 28 dias, com privação de sólidos durante a noite (água a vontade), e o GPD foi estimado como a inclinação da regressão entre tempo e peso vivo para cada animal. A avaliação da gordura sub-cutânea foi feita na região lombar, entre a 12º e 13º costela, objetivando-se uma média de 12 mm. Todos os animais foram alimentados uma vez ao dia, pela manhã, e estimulados a comer à tarde através de chamado e movimentação do alimento no cocho. A composição da dieta está apresentada nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Composição da dieta utilizada no confinamento

Tabela 2. Análise química da dieta utilizada no confinamento

A análise de rentabilidade foi avaliada com base no custo do ganho de peso vivo (GPV), calculado usando os dados coletados durante os 120 de experimento e os dois meses complementares, até a completa terminação dos animais, utilizando custo com alimentação de U$ 150,00 por tonelada, U$ 15,00 por animal para medicamentos e U$ 0,10 por dia para taxa do confinamento.

A metodologia para medir o CAR baseou-se na utilização da média de consumo e o GPD do período de 60 dias de coleta individual de dados. As quantidades de alimento oferecidas e recusadas foram pesadas diariamente, e o consumo foi calculado pela diferença. A quantidade oferecida foi ajustada diariamente para produzir aproximadamente 0,5kg/d de sobras. A média do CMS dos 60 dias foi estimada por meio de regressão para peso vivo metabólico (PV0,75) e GPD, pela seguinte fórmula:

Onde, B0 é o intercepto, B1 e B2 são os coeficientes da equação, e o E é o residual, ou seja, o CAR. O intercepto da equação foi testado para ser diferente de zero, e se não significante diferente de zero, uma nova equação foi calculada sem o intercepto. O consumo atual de MS menos a correspondente da predição de consumo caracteriza o CAR. Isso significa que um animal mais eficiente tem um CAR negativo, ou seja, o consumo alimentar observado era menor do que o predito pela equação.

Assim, a pesquisa gerou os dados que permitiram construir a seguinte equação para o consumo de MS:

Sendo que os dados de desempenho estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Desempenho dos animais, nos períodos experimentais, em função do manejo (baias individuais ou grupo)

Não foi observado efeito de período ou tipo de baia no CMS, no GPD ou G:C, conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 4. Desempenho de novilhos durante teste de CAR

Por outro lado, o período teve efeito no GPD e G:C (Tabela 4), o que era esperado, pois se devem provavelmente ao aumento da maturidade fisiológica, uma vez que os animais ficaram mais gordos. Em animais de maior idade, a proporção de gordura:músculo no GPD aumenta, e os animais ganham peso vivo mais lentamente e se tornam menos eficientes.

A digestibilidade da matéria seca não foi diferente entre os grupos de CAR ou períodos, contradizendo alguns dados de literatura, talvez, devido ao tipo de dieta oferecida na presente pesquisa.

Também, não foi observada diferença na composição das carcaças, bem como nenhuma interação entre período e grupo de CAR, sendo que todos os animais, com baixo ou alto CAR, alcançaram similar peso, composição de carcaça, gordura abdominal e massa de vísceras, conforme apresentado na Tabela 5.

Tabela 5. Composição corporal e de carcaças de animais com baixo ou alto CAR

Conclusões

Os dados obtidos não suportam a existência de maiores diferenças na composição e massa de órgãos de novilhos com baixo ou alto CAR, ao abate. A literatura relata que órgãos viscerais como os do trato gastrointestinal, fígado, coração e rins, possuem alto consumo de oxigênio por unidade de massa, comparativamente a tecidos não viscerais. Outros estudos demostraram existir relação entre energia gasta para mantença e massa dos órgãos viscerais. Mas, isso não pode ser notado, uma vez que esta pesquisa foi conduzida até dois meses antes do abate dos animais.

Portanto, os dados obtidos no abate podem não refletir a composição dos novilhos durante o teste. Alternativamente, é possível que outros mecanismos, tais como diferenças nos padrões metabólicos ou eficiência digestiva, sejam responsáveis pela variação no CAR observado. Sendo o CAR de característica composta, é improvável que somente um mecanismo explicará as diferenças de CAR entre os animais.

De fato, é provável que cada animal possua seu próprio fenótipo para CAR, resultado da sua própria combinação de mecanismos. Se isso for verdadeiro, as comparações de variáveis fisiológicas entre grupos de alto e baixo CAR, geralmente não produziram diferenças significativas, como apresentado neste estudo.

Assim, o CAR é menos útil do que a eficiência alimentar, como indicador de eficiência e rentabilidade de confinamentos. Entretanto, CAR é a relação GPV e CMS, estes estão fenotipicamente e genotipicamente correlacionados, sendo mais desejável como critério de seleção. Entretanto, ainda é necessário trabalhar para identificar e produzir bovinos de corte com menor CAR e superior eficiência alimentar, a fim de melhorar a rentabilidade.

O valor preciso da contribuição de cada mecanismo responsável pelas diferenças no CAR ainda estão obscuros. Em outras palavras, um determinado mecanismo poderia contribuir mais em um animal e menos em outro.

Este estudo ainda gerou uma informação bastante interessante. Animais em baias individuais consumiram o mesmo montante que animais em baias de grupo uma vez que estes sejam estimulados a ir ao cocho mais de uma vez ao dia.

Adaptado de CRUZ, G.D., RODRÍGUEZ-SÁNCHEZ, J.A., OLTJEN, J.W., SAINZ, R.D. Performance, residual feed intake, digestibility, carcass traits, and profitability of Angus-Hereford steers housed in individual or group pens. Journal of Animal Science, v.88, p. 324-329, 2010

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