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Desafios do agro impõem melhor coordenação

Potência no mapa-múndi dos alimentos, o Brasil consolidou nos últimos 30 anos seu protagonismo em mercados como grãos, carnes, café, açúcar, tabaco e suco de laranja mesmo com claras carências de coordenação estratégica para tal, seja entre órgãos do governo ou por parte de empresas. Tendo em vista os desafios atuais, contudo, essa fragilidade poderá custar caro nas próximas décadas, e por isso é preciso aprofundar a capacitação dos agentes públicos e privados que estarão na linha de frente da defesa dos interesses do agronegócio do país no exterior.

Essa é uma das principais preocupações de Marcos Jank à frente do Insper Agro Global, vinculado ao Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper, uma das principais instituições de ensino e pesquisa do Brasil. Com larga experiência em comércio exterior, Jank pôs em marcha cursos voltados a funcionários públicos que atuam com o agro, em parceria com a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) – vinculada ao Ministério das Relações Exteriores -, e, com a participação de 34 alunos da primeira turma formada, em 2020, organizou, com o pesquisador Leandro Giglio, um guia para ajudar no trabalho que vem pela frente.

Lançado ontem pelo Insper Agro Global e pela Funag, com apoio do think tank CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), o livro “O Brasil no Agro Global” analisa nove macrorregiões (América Latina, Estados Unidos e Canadá, União Europeia, Oriente Médio, Rússia, África Subsaariana, Sul da Ásia, Sudeste da Ásia e China) e identifica desafios e oportunidades em cada uma delas. E mapeia denominadores comuns, entre os quais arestas deixadas de lado em meio ao acelerado ritmo de aumento dos embarques setoriais, que neste ano deverão superar US$ 110 bilhões e manter o país como o maior exportador líquido de alimentos do mundo.

Entre os esforços que deverão ser intensificados, aponta o livro, estão a melhoria na comunicação e na imagem do Brasil e seus produtos no exterior, um engajamento mais pró-ativo na agenda ambiental e climática internacional, a diversificação e a adição de valor às exportações, a ampliação do acesso a mercados (com o combate a barreiras tarifárias e não-tarifárias) e a melhoria na política de atração de investimentos. Tudo isso com a partir de uma coordenação mais estreita e eficiente nas estratégias públicas e privadas envolvidas.

“Identificamos, com os cursos que promovemos, uma forte demanda dos funcionários públicos por informações do agro. São diplomatas e funcionários dos ministérios da Agricultura e da Economia, entre outros agentes, que precisam e querem conhecer melhor o setor, que ganhou muita relevância. E é ótimo que seja assim, porque os próximos 30 anos serão muito mais difíceis para o setor do que os últimos 30”, afirmou Jank ao Valor. E, embora estejam na ordem do dia, não são apenas as questões ambientais que pressionarão cada vez mais o Brasil.

“A globalização está desacelerando”, observa Jank, e diante dessa tendência é preciso maior atenção com eventuais barreiras, legítimas ou não, e com oportunidades que podem surgir em negociações bilaterais, por exemplo. Nesse processo, diz, uma melhor compreensão do setor como um todo e de suas principais cadeias produtivas, bem como uma comunicação mais eficiente, são indispensáveis. “Mas antes da comunicação, é preciso ação, sobretudo em um mundo em que todo mundo olha tudo em tempo real”.

Outro ponto importante e ainda vilipendiado, realça, é a presença brasileira nos mais de 200 países para os quais o agro do país exporta. O número de adidos agrícolas cresceu para 28, é verdade, o Itamaraty tem melhorado a formação de seus diplomatas sobre o setor e a Apex-Brasil tem apoiado participação do país em um número crescente de feiras e eventos no exterior, mas ainda é pouco, afirma. “E a iniciativa privada também tem que avançar. Temos grandes empresas com escritórios e operações em outros países, mas, normalmente, cada uma cuida de seus próprios interesses. As associações setoriais começam a montar estruturas fora, mas é preciso acelerar esse processo”, diz Marcos Jank.

Fonte: Valor Econômico.

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