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Depreciação de bens de produção em análise econômica na agropecuária: o que você precisa saber?

Por Gustavo Lineu Sartorello¹, João Paulo Sigolo T. Bastos², Augusto Hauber Gameiro³

Motivados pelos comentários feitos na publicação anterior “Importância de análise completa de custos e os itens que não enxergamos”, em especial pelo comentário do nosso colega Daniel- Vicari, iremos abordar neste artigo a depreciação de bens de produção na agropecuária.

Textos sobre depreciação geralmente são motivo de diversas discussões, pois existem divergências entre o entendimento do conceito. Entender bem como devem ser feitos os cálculos, é uma etapa importante, porém entender o porquê fazer o uso da depreciação é fundamental para a “saúde” financeira da agropecuária.

Para esclarecer a importância deste assunto, usaremos a seguinte história de um produtor. “Senhores preciso adquirir um trator novo para a minha propriedade. A produção está aumentando a cada ano, e não posso conduzir minhas atividades com o trator velho. É necessário um trator novo e com mais potência. Vendendo o trator velho, mais o valor que tenho poupado completará o valor para adquirir um trator novo, que tanto estimo. Entretanto fico pensando, se a utilização do trator for de 1.000 horas anuais, daqui a aproximadamente 10 anos o dinheiro (capital financeiro) investido no trator novo, será como nesse trator velho, com pouco valor. Perderei uma parte do dinheiro (capital financeiro)! Será que existe alguma estratégia para proteger o meu dinheiro que será transformado em um bem físico?”

Nossa resposta: Sim, existe. Utilize a depreciação!

Abaixo está exemplificado por meio de ilustração qual é o sentido da depreciação do trator do exemplo citado acima, para melhor entendimento.

Captura de Tela 2014-10-18 às 11.59.10

Portanto o produtor irá investir o seu capital financeiro (dinheiro) no bem que servirá para a sua produção, mas ao longo do tempo deverá poupar, fazer uma reserva, de dinheiro ano a ano, para compensar a perda de valor do bem físico (trator). Essa reserva é, contabilmente, a depreciação.

Dessa forma, quando for necessário adquirir um novo bem para reposição, não haverá um novo aporte de capital financeiro. Ou seja, a depreciação (aquela reserva) deverá manter o capital total equivalente ao longo dos anos, sem exigir que o produtor coloque mais capital próprio no seu negócio. Assim a utilização da depreciação tem por finalidade proteger o capital financeiro que o empresário imobilizou no seu negócio.

Agora que entendemos para que serve a depreciação, podemos então, analisar alguns de seus conceitos teóricos.

Conceitos de Depreciação

Dentre as várias definições encontradas para depreciação, entende-se que é a diminuição do valor de um bem, resultante do desgaste pelo uso, pela ação da natureza ou pela obsolescência normal, correspondente à perda do valor dos equipamentos com o passar do tempo e o uso. Para a contabilidade o termo é definido como forma de destinar a prover fundos necessários para a substituição do capital investido em bens produtivos de longa duração.

Existem diferentes métodos para se calcular a depreciação, como o método linear, a depreciação acelerada, a soma dos dígitos e o método do saldo decrescente. Na agropecuária é comumente mais utilizado o método de depreciação linear. Sendo que é possível adotar o uso da melhor opção conforme a gestão aplicada na propriedade e conforme as exigências legais do fisco.

O método de depreciação linear caracteriza-se por atribuir uma parcela constante ao longo da vida útil do bem em cada período. Trata-se do caso exemplificado anteriormente para o trator.

A fórmula para depreciação linear é:

Depreciação = (Vaquisição – Vresidual) / Vidaútil

Vaquisição = Valor de aquisição do bem, (R$);

Vresidual = Valor residual do bem ou descarte, (R$), podendo eventualmente ser zero;

Vidaútil = Vida útil do bem, em horas, meses ou anos.

Para cálculo da depreciação de animais, parece claro que não se deveria usar um método que considerasse a mesma depreciação ao longo da vida útil deste animal. Entretanto pela dificuldade em se determinar a curva de eficiência produtiva deste animal, o método mais utilizado acaba sendo mesmo o de depreciação linear.

A vida útil deve-se iniciar a partir do momento que estes animais estão aptos a reprodução (estado adulto), e então será feito o cálculo da depreciação. Para animais de criações próprias que entraram em idade reprodutiva (matrizes e reprodutores) não se considera, neste caso, a sua depreciação (pois não foi necessário imobilizar capital financeiro para a compra), mas sim o custo de oportunidade do capital imobilizado, no item remunerações, sugerido por nós no artigo anterior.

Para alguns equipamentos que são utilizados intensamente pode-se adotar a depreciação acelerada. A depreciação acelerada é utilizada quando o uso do bem apresenta desgaste em regime de operação superior ao normal, calculada com base no número de horas diárias de operação. A Receita Federal  discrimina um turno de oito horas de operação como normal, portanto, com fator de depreciação igual a 1. Para dois turnos de 8 horas, ou seja, 16 horas de operação a depreciação aumenta 50% (fator seria de 1,5), e para três turnos de 8 horas, ou 24 horas de operação, a depreciação é aumentada em 100% (fator seria igual a 2).

Para exemplificar a depreciação acelerada, um trator que segundo a tabela da Receita Federal tem depreciação de 10% ao ano, se for usado em operações diárias de 16 horas, terá sua depreciação de 15% ao ano (10% x 1,5), ou se o equipamento operar por 24 horas diárias, será de 20% ao ano (10% x 2). O conceito de depreciação acelerada deve estar alinhado com a contabilidade fiscal, pois dependendo do regime tributário da empresa é considerado como benefício fiscal.

Aplicação de depreciação e exaustão

A depreciação e a exaustão são termos semelhantes, sendo utilizados com o conceito anteriormente apresentado. Aplica-se depreciação aos bens tangíveis (corpo físico), como máquinas, equipamentos, móveis, utensílios, benfeitorias, ferramentas, implementos assim como animais de trabalho ou de reprodução, culturas anuais, etc. A exaustão é aplicada somente aos recursos naturais exauríveis, como reservas florestais, canaviais, pastagens, entre outras culturas perenes.

Apesar de algumas culturas serem adubadas conforme as recomendações técnicas podem ocorrer perdas de potencialidade. Portanto é necessário em algum momento recuperar as culturas para que volte a ser produtivo.

Para a contabilidade fiscal (oficial), tem-se a tabela da Receita Federal que padroniza a vida útil dos bens. Para fins gerenciais, porém, o produtor deve ajustar o que acontece na prática para realização dos cálculos de depreciação e/ou exaustão. Como cada operador tem seu próprio modo de trabalhar, é de se esperar que haja diferenças entre o que se diz na teoria e o que se encontra na prática. Por isso os exemplos dados seguem como recomenda a Receita Federal.

Conclusões

Por fim entende-se que depreciação é uma proteção necessária para o empresário (produtor) que investiu seu capital na atividade produtiva, e que precisa manter sua riqueza (capital total) ao longo do tempo. Portanto, observa-se que a depreciação é um importante item a compor o custo de produção a ser considerado. Sem o devido cálculo e reserva da depreciação, o produtor se descapitaliza. Quantas vezes já ouvimos alguém falar: “as máquinas, os implementos, as benfeitorias, as pastagens e o solo do fulano estão desgastados, mas ele está sem dinheiro para recuperá-los”. Em outras palavras, ele se “descapitalizou” e isso aconteceu porque, por um motivo ou outro, não foi capaz de fazer a reserva para substituir seu capital físico que foi desgastado pelo uso e pelo tempo. É isso que temos que evitar. É para isso que serve a concepção da depreciação.

Participe fazendo comentários, ou expondo suas dúvidas, talvez seja um ponto importante a ser discutido para o momento.

Por Gustavo Lineu Sartorello¹, João Paulo Sigolo T. Bastos², Augusto Hauber Gameiro³

1
Zootecnista. Mestrando no Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo (VNP/FMVZ/USP), Pirassununga, São Paulo, Brasil
² Zootecnista, Mestre em Nutrição e Produção Animal pela Universidade Estadual Paulista “Profº Júlio
de Mesquita Filho”, Campus Botucatu. Gerente Técnico e de Operações da JBS Confinamentos
3
Engenheiro-Agrônomo, Doutor e mestre em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). É Professor Doutor na Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia

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