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Demanda firme valoriza oferta de milho

O ritmo acelerado de vendas antecipadas da segunda safra de milho desta temporada 2019/20 mostra que o cereal será novamente protagonista no setor de agronegócios este ano. Embora as estimativas apontem para a queda da colheita, que no ano passado bateu recorde, a demanda aquecida nos mercados interno e externo e os preços atraentes ainda poderão levar produtores a arriscar plantar fora da janela ideal de clima em busca de lucros extras.

Segundo Sérgio Bortolozzo, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), 70% da produção esperada para a segunda safra já foi negociada, enquanto na média dos últimos anos para o período foi de 40% a 50%. A entidade espera que a área plantada aumente de 1% a 2% e que a colheita alcance entre 70 milhões e 71 milhões de toneladas, mesmo patamar previsto pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Conforme a estatal, serão 70,9 milhões de toneladas, 3,1% menos que a safrinha do ciclo 2018/19, quando o clima foi particularmente favorável. Mais otimista, a consultoria Céleres ainda aposta que a colheita poderá chegar a 80 milhões de toneladas diante das condições favoráveis do mercado. “Mas existe uma expectativa de que o plantio atrase um pouco, o que eleva o risco de perdas”, afirmou Bortolozzo ao Valor.

Mesmo assim, ponderam analistas, como a perspectiva é de valorização do grão muitos produtores correrão esse risco e ligarão as plantadeiras depois da janela ideal, que é entre a primeira semana de janeiro e meados de fevereiro. O indicador Esalq/BM&FBovespa para o preço da saca de 60 quilos negociada no mercado interno subiu 23,4% em 2019 e começou 2020 em mais de R$ 48.

A alta é resultado da demanda firme por proteínas da China, em razão do surto de peste suína africana, que elevou as importações do país asiático de carnes brasileiras e, por tabela, a necessidade dos frigoríficos de aves de suínos por grãos para alimentar os animais. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os embarques de carne de frango, que cresceram 2,8% em 2019, para 4,2 milhões de toneladas, deverão aumentar até 6% em 2020. Já as exportações de carne suína tendem a avançar mais 20% após a alta de 16,2% do ano passado, quando o volume atingiu o recorde de 750,3 mil toneladas.

A consultoria INTL FCStone projeta que, diante desse cenário, o consumo interno de milho deverá alcançar 68,5 milhões de toneladas nesta safra, ante 63,9 milhões em 2018/19. E, mesmo com a queda na colheita da safra de verão em Estados como o Rio Grande do Sul (ver matéria abaixo), também há estoques suficientes da colheita recorde do ano passado para atender à demanda, na avaliação da Abramilho.

O mercado também ganhou sustentação no front externo, com os problemas climáticos nos Estados Unidos. A agência Farm Progress estima que o relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) de sexta-feira indicará uma colheita de 343 milhões de toneladas em 2019/20, 3,7 milhões de toneladas a menos que a previsão feita em dezembro e quase 39 milhões de toneladas abaixo do projetado em maio (381,8 milhões).

Na temporada 2018/19, os americanos produziram 366 milhões de toneladas, mas no ciclo atual, cuja colheita terminou, o clima no Meio-Oeste atrapalhou. A quebra foi tão grande que pode ter aberto espaço para o Brasil assumir a liderança nas exportações mundiais de milho em 2019. No ano passado, os embarques brasileiros superaram as 43,2 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Economia, aumento de 88,5% ante o ciclo anterior, enquanto o volume estimado pelo USDA para a safra americana 2019/20 é de 46,9 milhões de toneladas.

Diante da aquecida demanda doméstica – e independentemente do comércio com o Irã, grande importador de milho -, os embarques do Brasil deverão recuar este ano, para entre 34 milhões e 35 milhões de toneladas, conforme Bortolozzo, da Abramilho. E o estoque de passagem deverá ficar entre 11 milhões e 12 milhões de toneladas, ante as 17 milhões do ciclo anterior. “O produtor pode até guardar um pouco desse milho para negociar mais adiante, mas acredito que será algo pontual, já que a minoria tem margem suficiente para isso”, afirmou ele.

Assim sendo, o dirigente afasta a possibilidade cogitada por alguns analistas de escassez do grão no país. Para Bortolozzo, “se isso acontecer, será uma questão pontual”. Na avaliação de Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone, a preocupação é maior no primeiro semestre, já que a safra de verão deverá encolher mais que o previsto por causa de calor excessivo e chuvas irregulares, sobretudo no Rio Grande do Sul. “Essa quebra agrava e preocupação que já tínhamos, já que a safrinha só chega no segundo semestre e a demanda para a produção de aves e suínos está elevada”.

Esse cenário também abre espaço para uma ampliação das importações, especialmente por parte de frigoríficos instalados no Sul do país, que podem trazer milho do Paraguai e da Argentina a custos competitivos. Conforme Ana Luiza, as compras no exterior deverão atingir 1,5 milhão de toneladas em 2019/20, ante 1,3 milhão na safra 2018/19. 

De acordo com Anderson Galvão, da consultoria Céleres, caso ocorram problemas climáticos neste primeiro semestre, quando a safrinha estará em desenvolvimento, os preços poderão subir para R$ 60 a saca no Sul do país, e para entre R$ 30 e R$ 35 em Mato Grosso. “Se considerarmos também a demanda para a produção de etanol, que deverá crescer com a entrada de novos projetos em atividade, o valor praticado no mercado interno deverá ser mais atraente que na exportação”, acrescentou.

Fonte: Valor Econômico.

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