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Definindo produção e comercialização no mercado de carne. Parte 1

Luís Orlindo Tedeschi1

Atualmente, o investimento de maior impacto para o futuro da produção de carne está na redefinição do sistema de produção e comercialização da carne.

No setor de produção, o uso de identificadores eletrônicos (Eletronic Identification – EID) para localizar e selecionar animais que possuem características desejáveis de produção está crescendo rapidamente desde 1998. Um dos fatores que acelerou a utilização dos EID foi o decreto da Comunidade Comum Européia obrigando o uso de localizadores para a importação de carnes. Nos EUA, no final de 1999 (após 5 anos de implementação), o NCBA (National Cattle Beef Association) confirmou que toda a produção Americana de carne já estava capacitada e preparada para o uso de EID para atender tanto a exigências de exportação para a CCE como o exigente mercado interno. Atualmente nos EUA, o uso dos EID está sendo utilizado como a principal ferramenta para incentivar a comercialização interna da carne em locais estratégicos através das “Alianças” (Beef Alliances).

Entretanto, a maior mudança tecnológica está em determinar individualmente qual o melhor planejamento de crescimento/engorda para animais em confinamento. Isso permite que o produtor planeje as datas de venda dos animais de forma a obter o melhor rendimento (menor custo por animal) associado às características desejáveis de carcaça tais como cobertura de gordura, maciez, textura, sabor, etc. Esses sistemas de manejo individual (individual management systems) têm sido utilizados com bastante êxito em grandes confinamentos nos Estados do Texas e Kansas. Basicamente, esses sistemas são alimentados com informações individuais ao início do confinamento tais como peso, estimativas de espessura de gordura e medidas de tamanho dos animais (altura, larguras, etc). Os animais semelhantes são agrupados no mesmo piquete para receber a melhor dieta, dado as características genéticas e do mercado. Após um certo período de crescimento, geralmente 60 a 75 dias, os animais são reavaliados e se necessário realocados. O sistema estima para cada animal o melhor ganho de peso e projeta o melhor dia de venda, visando o maior lucro. A figura 1 mostra que os produtores perdem ao redor de US$ 1 por animal para cada dia (antes ou após) a melhor data de venda, sendo que é melhor vender “antes” do que “depois” da melhor data predita, pois a perda de lucro é mais acentuada quando os animais são mantido em confinamento após a melhor data de venda prevista. Esse fato é provavelmente devido ao custo energético de manutenção de animais acabados. Muitas vezes, a “espera” de um preço melhor não suporta os custos extras para manter animais acabados no confinamento. Por exemplo, segundo a Figura 1, vendendo um animal 15 dias antes da melhor data de venda acarreta uma perda de US$ 6/animal, ao passo que vendendo o mesmo animal 15 dias após a melhor data de venda a perda é de US$ 16/animal.

Figura 1

Embora essa relação lucro x dias (Figura 1) está baseada nas características do mercado de carne Americano, que classifica a carcaça segundo características de acabamento do animal, no mercado de carne do Brasil é esperado uma curva similar mas talvez menos acentuada no período antes da melhor data de venda, uma vez que não existe desconto se a carcaça não atingir um determinado padrão (que nos EUA é o low choice).

Outra vantagem desses sistemas de manejo individuais é a capacidade de estimar a quantidade de alimento consumido individualmente mesmo quando os animais são alimentados em grupos. Isso é devido às equações desenvolvidas pelo projeto chamado Value Discovery da Cornell University (Ithaca, NY) que permite estimar o consumo individual baseando-se nas características e composição da carcaça do animal. Portanto, a grande aplicação prática dessa tecnologia é permitir que diferentes produtores (investidores) sejam cobrados adequadamente pela quantidade de alimento consumido pelos seus animais durante o período de confinamento. No Brasil, esses sistemas seriam de grande utilidade para os confinamentos de aluguel e de cooperativas.

Para que esse sistema se torne realidade é necessário uma íntima relação entre produtores e abatedores (frigoríficos), pois as informações de carcaça são de extrema importância para o funcionamento do sistema tanto no âmbito de seleção de animais e escolha de reprodutores como para a correta divisão dos custos de alimentação.

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1 Doutorando, Ciência Animal, Universidade de Cornell

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