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Custo acumulado de produção aumentou 117% de 2004 a 2012, reduzindo margem do pecuarista

Por André Luíz Barbosa Delgado, Nicole Rennó Castro; Mariane Crespolini dos Santos e Sérgio De Zen*

Objetivos

A pecuária é um setor de extrema importância para a economia brasileira e que vem apresentando consistente crescimento nas últimas décadas. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2012), o Brasil se destaca no contexto mundial, como o maior exportador e segundo maior produtor de carne bovina. Em 2011, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC, 2012), o país foi responsável por 21% das exportações mundiais do produto, ainda que a pecuária de corte brasileira tenha no mercado interno o seu maior consumidor.

A proposta deste trabalho é analisar como evoluíram o custo de produção e a arroba do boi gordo no período de 2004 a maio de 2012, buscando avaliar a evolução da margem do pecuarista brasileiro.

Métodos

Os dados de custo de produção e valor da arroba foram obtidos através dos dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) do projeto Custo de produção em pecuária de corte. Estes possuem periodicidade mensal.

O Cepea calcula dois diferentes índices de custo, o Custo Operacional Efetivo (COE) e o Custo Operacional Total (COT), sendo que neste trabalho será utilizado o COE, que não inclui depreciação. Para comparar a evolução do COE e da arroba, os índices foram transformados para base de janeiro de 2004.

Resultados

O custo do pecuarista, desde 2004, acumulou alta de 116,73%. A média mensal do indicador do bezerro (Mato Grosso do Sul), e os preços do grupo de suplementação mineral, insumos de expressivo peso nos gastos totais, apresentaram aumentos de 95%, e de 141% respectivamente no período. O custo da mão de obra, por sua vez, foi o que mais aumentou. Os salários acumularam alta superior a 170% no período. A figura 1 mostra a evolução dos índices acumulados de preços dos principais insumos da pecuária, e do COE.

O aumento mais expressivo de custo, superior a 36%, ocorreu em 2008, ano em que os preços de importantes insumos aumentaram, como dos produtos para suplementação mineral, 83%, e o bezerro, 36%. Os preços dos adubos e corretivos também apresentaram alta, superior a 40%, influenciada pela força da demanda mundial por alimentos no primeiro semestre, que impulsionou o consumo de insumos de produção agrícola. Como o fortalecimento da demanda por fertilizantes, por sua vez, influencia no aumento do preço da matéria-prima dos adubos, e os sais minerais compartilham esta matéria-prima, pode-se dizer que o aumento da demanda por alimentos, também impactou na alta dos preços da suplementação mineral.

Figura 1: Evolução das variações acumuladas do COE e dos índices de preço dos principais insumos.

Fonte: Cepea/Esalq/CNA (2012)

Em 2009, ao contrário, foi observada a única redução de custo do período, de 12,35%. Neste ano, os preços do bezerro, dos produtos de suplementação mineral e dos adubos e corretivos apresentaram reduções, de cerca de 9%, 27% e 24%, respectivamente, relacionadas à eclosão da crise financeira mundial. Para os adubos, por exemplo, que contém derivados de petróleo, a queda nas cotações deste, dada retração da demanda mundial, foi que pressionou os preços.

No mesmo período, o preço da arroba representado pela média mensal do indicador ESALQ/BM&F, teve alta acumulada de 69%. Em 2010, especificamente, foram alcançados preços recordes da arroba, e este aumento de preço não foi acompanhado por alta no custo de tamanha magnitude, então a margem do pecuarista apresentou grande recuperação neste ano, se aproximando ao máximo da margem observada em 2004, no início do período. Os elevados patamares de preços em 2010 foram influenciados pela forte demanda interna, de forma que em novembro o Indicador do boi gordo ESALQ/BM&FBovespa atingiu R$117,18, preço real mais elevado da série que tem início em 1997.

Mas apesar do ganho de margem observado em 2010, comparando-se as variações acumuladas do custo e da receita, pode-se dizer que o pecuarista brasileiro perdeu margem de 2004 a maio de 2012 – figura 2.

Figura 2 – Evolução das variações acumuladas do COE e da arroba (média mensal indicador Esalq/BMF)

Fonte: Cepea/Esalq/CNA (2012)

Destaca-se o caso de 2008, quando apesar da maior alta de custo do período, a arroba também apresentou expressivo aumento no ano, relacionada à restrição de oferta no primeiro semestre.

A tendência de queda da margem do pecuarista foi acentuada em 2012. Neste ano, a queda da arroba aliada a alta acumulada do custo pressionou a margem de forma que em abril de 2012, a diferença entre os valores acumulados do COE e da arroba (representando a variação de margem), em pontos percentuais, é a maior da série, que se inicia em 2004.

Conclusões finais

No período analisado neste trabalho, pôde-se observar aumento acumulado de 116,7% do custo, que ocorreu de forma mais acentuada em 2008. Este aumento foi devido, essencialmente, a insumos de maior representatividade nas despesas, como o bezerro, os produtos para suplementação mineral e a mão de obra, cujos preços apresentaram expressivas altas no período. Os preços dos adubos e corretivos também aumentaram, apesar de estes representarem um menor peso nas despesas totais. Já em 2009, houve redução acumulada do custo. Tal redução se relaciona, entre outros, às retrações de demanda devidas a eclosão da crise financeira mundial.

Quanto à análise da evolução da relação entre receita e custo, pôde-se observar que o pecuarista brasileiro perdeu margem no período analisado, que vai de 2004 a maio de 2012. Esta perda foi de certa forma atenuada em 2010, quando o expressivo aumento do preço da arroba, relacionado à forte demanda interna, compensou a alta no custo e a margem do pecuarista se recuperou, chegando a níveis próximos ao observado em 2004. Nos anos seguintes, a margem retornou a tendência de queda, que foi expressivamente acentuada a partir de dezembro de 2011, e em 2012, alcançando o pior patamar da série analisada.

André Luíz Barbosa Delgado Nicole Rennó Castro e  Mariane Crespolini dos Santos são Graduandos pela ESALQ/USP.

Sérgio De Zen é Professor Doutor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP e pesquisador do CEPEA-ESALQ/USP.

Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES (Abiec). Estatísticas. Disponível em: < http://www.abiec.com.br/#> Acesso em: 01 jun. 2012.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Agronegócio Brasileiro em números. Disponível em: < http://www.slideshare.net/MinAgriculturaBrasil/agronegcio-brasileiro-em-nmeros> Acesso em: 01 jun. 2012.

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (Cepea). Custos de produção. Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/> Acesso em: 01 jun. 2012.

 

4 Comments

  1. Gustavo Freitas disse:

    Ótimo trabalho! Os números representam nada mais do que a pura realidade vivida pelos produtores rurais, ou até mesmo por nós – cidadãos.
    Hoje em dia, na tentativa de reduzir os elevados custos de produção e maximizar a receita, os produtores precisam investir em alternativas de manejo de baixo investimento e ao mesmo tempo de resultados.
    Caso contrário será muito difícil continuarem na atividade, que a cada ano fica mais onerosa e a dificuldade em “ganhar dinheiro” aumenta.
    Tudo isto em função dos elevados custos com mão de obra, suplementos, medicamentos, reforma de pastagens (entre outros) e principalmente os baixos indices produtivos que infelizmente ainda temos em grande parte do nosso Brasil.
    Estas alternativas são simples e podem resultar em ótimos resultados, principalmente quando falamos em “dinheiro no bolso”.
    Se já ouviram falar em Escrituração Zootécnica, Bem-Estar Animal, Manejo Racional e Boas Práticas de Manejo – mas não se atentaram a grande importância destas ciências, vale a pena relembrar e conhecer um pouco mais.
    Diversos estudos comprovam que estas ações – DE BAIXO INVESTIMENTO – geram ótimos resultados, tanto em relação a qualidade de vida dos trabalhadores e animais, quanto em ao $$$!

  2. evandro souza disse:

    Gostaria de parabenizá-los pelo artigo, fácil entendimento e bem didático em minha opinião.
    Por favor, quando vcs se referem ao bezerro como um dos insumos que mais sofreu alta, quais indices estão relacionados com bezerro? é somente o valor médio de compra do mercado ou para se produzir um bezerro? No caso da segunda opção seria até desmama de quanto tempo?

  3. jose roberto puoli disse:

    Bom dia a todos,
    Quando vi o título deste artigo, pensei, que ótimo, finalmente alguém vai falar e mostrar os custos de produção da pecuária brasileira………………………..
    Que decepção…………………..
    Tudo bem que é importante saber os valores relativos das coisas, as porcentagens. Mas, por que não colocar os valores absolutos também??!!!!!!!!!!!! Uma vez que as porcentagens foram calculadas, obviamente, os valores absolutos existem!!!!!
    Por favor, os publiquem. Estes números são importantíssimos para que as pessoas possam conhece-los e comparar com os custos próprios. Pelo menos para ter uma ideia de como andam as coisas.
    Sei que os custos têm enormes variações e premissas diferentes. Quando divulgar o custo, simplesmente especifique que tipo de exploração que aquele custo se refere, e pronto. Já servirá de benchmarking para alguém.
    Obrigado pela atenção e fico na espera da divulgação dos valores.
    Abraço
    limão

  4. Marcos Simões disse:

    Parabéns André pelo estudo, principalmente por considerar um período de 8 anos, mais de dois ciclos de produção, quando ocorreu de tudo na economia interna e exteerna.

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