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Custo elevado reduz expectativa de confinamento de bois em 2002

O total de bois que serão confinados em 2002 deverá totalizar 1,925 milhão de cabeças, segundo a primeira estimativa de engorda intensiva divulgada esta semana pela FNP Consultoria. O volume é apenas 3% superior aos 1,869 milhão de bovinos confinados em 2001, mas ainda menor que o confinamento de 2000, que atingiu 1,950 milhão de animais. Esta perspectiva de um crescimento modesto deve-se, basicamente, segundo José Vicente Ferraz, da FNP Consultoria, a um cenário atual adverso que combina custos de confinamento elevados, relação de troca desfavorável e previsão de preços mais baixos para a arroba na entressafra de 2002. “O principal fator que leva ao confinamento é a perspectiva de lucro e existe um sentimento de que as margens estão curtas este ano”, explica.

Muitos pecuaristas estão buscando formas alternativas de confinamento, que tenham menor risco, diante de um cenário de ganhos mais apertados. Uma delas é a conhecida “troca de peso”, feita entre pecuarista e confinador, principalmente nos chamados “boitéis”, propriedades que recebem animais de outros criadores para confinar, em troca de uma tarifa diária. No caso da “troca de peso”, esta diária não existe. O pecuarista entrega o boi para engorda no “boitel” e todo o peso adquirido pelo animal durante o período de confinamento – geralmente 3 meses – fica como pagamento pelo serviço. Ferraz acredita que a “troca de peso” é uma boa alternativa à medida que distribui o risco de mercado entre o pecuarista e o confinador. “No confinamento tradicional, todo o risco fica concentrado nas mãos do confinador”, disse.

Divergências

A poucos meses do início da entressafra, pecuaristas ainda divergem sobre as projeções para o confinamento de animais neste ano. Nas propriedades onde a prática é utilizada como fechamento do ciclo de produção, a dúvida refere-se ao clima, à indefinição quanto a oferta de animais no período de estiagem e aos preços do milho, utilizado na alimentação do rebanho. Para Ricardo Magnino, administrador de três propriedades na região de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, outra questão é que “o mercado ainda não pode definir como andará a oferta de animais durante a entressafra, já que ainda não há como mensurar se houve ou não queda no consumo de carne bovina. Caso a produtividade seja melhor, acreditamos que os preços ficarão estáveis em relação ao ano passado, mas com a perspectiva de aumento do preço do milho, o custo do confinamento será praticamente inviável”, diz.

Relação de troca

Outro fator pontual que, atrelado ao aumento dos custos de produção, pode desestimular o confinamento de bovinos na entressafra deste ano é a relação de troca desfavorável entre boi gordo e animais de reposição. Para o assessor técnico da Associação Nacional dos Confinadores, João Carlos Pimentel, a relação de troca é o principal fator que deve determinar uma redução nos confinamentos. O analista Ferraz, da FNP Consultoria, diz que “se o desânimo atual em relação ao mercado de boi gordo persistir, muita gente vai desistir de confinar. Se o pecuarista tivesse que decidir agora pelo confinamento, ele ficaria muito desestimulado e não confinaria”. Ferraz adverte, porém, que o volume confinado em 2002 vai depender dos preços dos animais de reposição na primeira quinzena de maio, pois a maioria dos pecuaristas inicia seus confinamentos no final do mês.

Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea/Esalq, informa que, com a reposição cara, o custo da alimentação teria que ser reduzido para manter o equilíbrio da conta, o que não deverá acontecer com o milho caro e a proibição do uso da cama de frango. Para ele, com este cenário, o pecuarista tem basicamente duas opções caso não queira mexer muito na sua margem: reduzir o número de animais em semi-confinamento ou em confinamento – diminuindo a oferta para os período mais secos -, ou aumentar o volume de animais criados somente a pasto, que estariam mais vulneráveis às condições climáticas. Neste caso, a diminuição da oferta poderia ser sentida com maior intensidade no estado de SP, onde as entregas de rebanhos confinados são mais freqüentes.

Para o consultor da Hencorp Commcor Élio Micheloni, porém, outras variáveis, além do custo e da relação de troca devem ser consideradas. A primeira delas é que apesar do alto custo, os animais podem ter uma sustentação de peso durante a entressafra, o que é um inibidor de preço. A outra é que embora o risco esteja todo direcionado ao pecuarista que envia o gado para o confinamento, o lucro das fazendas que têm a prática do boitel está dentro da realidade, em torno de 20% considerando os encargos sociais. “Quem confina joga com a possibilidade de ganhar mais ou menos, mas acredito que o risco maior é deixar o boi no pasto”, disse.

Crescimento

A prática da “troca de peso” entre pecuarista e confinador está voltando a crescer este ano nas principais regiões de confinamento de gado da região Sudeste. Aquele animal que iria perder peso na entressafra e ser vendido localmente a um preço menor, será vendido mais adiante, a um preço melhor, para um comprador melhor. O crescimento desta modalidade de confinamento está vinculado ao aumento de custos do confinamento, principalmente os ligados à ração, e à expectativa de que os preços na entressafra não estarão tão altos como em 2001.

A prática da “troca de peso” – que vinha diminuindo nos últimos anos – voltou com maior força não apenas no Estado de São Paulo, mas também em estados vizinhos como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Segundo o diretor do BeefPoint, consultor e professor aposentado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Celso Boin, a volta da maior procura pela modalidade “troca de peso” tem como motivo a diária que está sendo cobrada pelos boitéis, considerada alta, em torno de R$ 2,30 a R$ 2,40, na região de Ribeirão Preto, e chegando a R$ 2,50 em Minas Gerais. Boin explica que o aumento do valor da diária deve-se a elevação dos custos, principalmente em relação ao milho e ao sorgo, componentes da ração. Existem exceções como o caso da Usina Vale do Rosário, cujo boitel cobra uma diária de R$ 2 porque consegue utilizar subprodutos como a polpa cítrica e o bagaço de cana para alimentar os animais. Mesmo assim, este nível está maior que o cobrado o ano passado.

Para Boin, este nível de “diária” projeta uma arroba final da entressafra de R$ 50. “Isso dificilmente vai ocorrer porque, na melhor das hipóteses, vamos manter o volume de exportações de carne este ano, além de torcer para que não haja queda no consumo do mercado interno, o que já está sendo sentido. Isso tudo diante da possibilidade de aumento no volume de abate, já divulgado pelos frigoríficos, na faixa de 4%”, avalia. Com a expectativa de que a arroba não atingirá o nível ideal de retorno em relação à diária paga pelo pecuarista, a “troca de peso” torna-se melhor alternativa, afirma.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo (Eduardo Magossi, Fabíola Salvador, Kelly Lima e Raquel Massote), adaptado por Equipe BeefPoint

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