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Curral para um homem só

Por Fernando Penteado Cardoso1

Em Maio de 1999 o Informativo ABCZ, que hoje evoluiu para importante revista, publicou matéria sobre comportamento animal, de autoria da Dra. Temple Grandin, cuja tradução e condensação foi de nossa iniciativa.

Naquele ano, os currais adaptados ao temperamento e à índole dos bovinos eram muito raros, senão inexistentes, pelo menos em nosso país.

Durante 2001 tivemos notícia de uma instalação da linha Grandin existente próximo a Pirapora/MG. Para lá nos dirigimos e visitamos um dos primeiros currais de mangas e tronco em curva, seringa de espaço redutível, brete de aperto lateral e áreas de trabalho vedadas dos lados. Distribuímos um relatório sobre o assunto informando que o vaqueiro responsável fizera as melhores referencias ao manejo nessa instalação.

Mais recentemente a Fazenda Mundo Novo de Uberaba construiu 3 currais desse tipo, o último após comprovação dos anteriores. São currais relativamente grandes observando medidas recomendadas como mínimas qual seja o raio de 3,5 m para o tronco e a seringa em curva, e área de 2.2 m2 para cada animal adulto.

Essas observações me animaram a reformar um pequeno curral tradicional existente na Fazenda Aparecida, de minha propriedade, localizada em Mogi Mirim/SP. O espaço era exíguo e o rebanho pequeno, justificando planejar uma operação para um homem só, nas linhas gerais de desenhos obtidos da Nova Zelândia.

Estudando melhor as recomendações da Dra. Grandin, descobrimos indicações sobre corredor curvo de fila única (tronco) para espaço reduzido com raio de 2,5 m, dimensão que estendemos por nossa conta para a seringa. Assim conseguimos introduzir o desenho recomendado no meio do velho curral tradicional (Vide planta).

O peão a pé, na passarela (9) com bandeirola na ponta de vara, conduz um número de rezes para encher a manga de acesso (2), fechando a porteira de entrada. Volta para a plataforma elevada de serviço e com outra bandeirola introduz cerca de 10 cabeças na seringa (3), cerrando por corda a entrada desta, cuja porteira volta sempre à posição aberta, por ação de um contrapeso.

A seguir abre a entrada do tronco (4) e, percorrendo a passarela à volta da seringa, puxa uma das porteiras giratórias enquanto a outra permanece na posição de funil. De vagar, com bandeirola, vai encaminhando os animais para o tronco, reduzindo aos poucos o espaço disponível na seringa. Uma vez cheio o corredor curvo de fila única – tronco (4) – para 9 cabeças adultas, fecha o portão corrediço de entrada.

Trabalha então os animais no tronco (4), brete (5), balança (6) e apartador (7), dotados de diversos portões corrediços, todos de fácil acesso. Reinicia nova operação introduzindo na seringa as rezes remanescentes na manga, e procedendo como indicado. Finda a segunda leva, retorna ao primeiro curralete (Div.1), passando pelos portões de serviço estrategicamente localizados, para repetir a manobra de encher a manga de acesso.

Nossa experiência de vários meses de lida nesse curral antiestresse mostrou que o desenho é funcional e que os princípios em que se baseia são totalmente válidos. Cumpre lembrar que as áreas das divisões podem ser ajustadas a outras condições locais, inclusive quanto ao número de curraletes.

Evitando, ou pelo menos minimizando o estresse, não somente se está evitando perdas de peso, de fertilidade e de tempo, como ainda se está zelando pelo conforto animal, matéria que a cada dia merece mais e mais atenção e que poderá vir a condicionar alguns circuitos comerciais no futuro.


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1Fernando Penteado Cardoso é engenheiro agrônomo sênior, Agrolida, São Paulo/SP

24 Comments

  1. Ricardo Rodrigues Alves disse:

    Fico feliz de saber sobre a introdução destas concepções de currais anti stress. Aproveito a matéria para dizer que a Ical Energética Ltda, em Felixlândia/MG, com área de confinamento para 5000 bois, possui estes currais há aproximadamente 13 anos, construídos por um profissional texano, que todos os anos visita nossas instalações para outros aperfeiçoamentos. Coloco nossa empresa à disposição para visitação. É com prazer que abrimos nossas portas para as visitas de alunos, técnicos e produtores, e sentimos orgulhosos de poder contribuir para o desenvolvimento da pecuária nacional.

    Atenciosamente,

  2. Cassio Bueno Rodrigues disse:

    Há muito venho a campo dizendo para o povo da lida que o ganha pão está ali, no animal que, passivo, está à espera de ser abatido. Muito bem, este artigo vem de encontro ao que preconizamos como manejo Humanitário, nada de ambientalistas ou defensores dos animais.

    E sim que a pecuária é simples, como simples é a lida animal, temos temperamentos e manias tanto nos animais como em nós, pois um dia eu lidava no curral convencional, e me deparei com dois peões rindo, não me importei pois sabia o que estava fazendo, eles riam porque mesmo sendo com lotes de até 500 animais, eu não descuidei de dar o meu muito obrigado a quase todos.

    Daí o motivo do riso, pois eu era um doido de falar daquele jeito com os bois e eu sabia que estava certo, porque um dia me disseram que quando nós os “humanos” somos gratos a alguma coisa o tom de voz muda para agradecer.

    Então, muito obrigado, boiada, que dá emprego a uma manada de peões que batem e socam, porque não são valentes para espernear suas fraquezas na frente dos outros. Feliz a pecuária de idéias iluminadas, pois saibam a quem muito é dado, é cobrado.

    Deus é brasileiro.

  3. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Prezado Cássio,

    Muito obrigado pelas amáveis palavras sobre o artigo que escrevi tempos atrás com o título “Curral para um homem só”. Quero confirmar que o curral anti-estresse funciona muito bem e que deveria ser amplamente utilizado. Não só para ser gentil com os animais, mas principalmente porque é mais econômico. Quanto aos vaqueiros, eu pergunto: já falaram com eles sobre o assunto? Já ensinaram o que é certo? Minha experiência é de que os vaqueiros são muito receptivos ao treinamento sobre lida anti-estresse. Confiemos neles e vamos gastar um pouco em benefício dos nossos bois e de nosso bolso, reformando racionalmente os antigos currais. Assim seremos coerentes ensinando e proporcionando os meios necessários. Garanto que vale a pena! Abraços.

  4. José Carlos Beckheuser disse:

    Ah se todo pecuarista botasse atenção nos detalhes do manejo racional e enxergasse que é simples fazer quando o curral é novo! E é perfeitamente possível adaptar pontos críticos de currais antigos para reduzir perdas de qualidade no manejo. Só por esse caminho nosso rebanho estaria sendo melhor tratado e manejado enquanto a carne seria produzida com mais qualidade e padrão.

    Muito boa a matéria e didática a planta sugerida. Faço uma proposta ao BeefPoint para levantar o tema de nomenclaturas dos diversos cômodos de um curral. Será possível buscar padronização de nomes como brete, tronco, seringa etc.? Começando por curral, muitos chamam de mangueira (o).

    Segundo Aurélio Buarque de Holanda, o termo correto para aquele compartimento que confina “um a um” animal e o prende para tratamentos específicos como marcar, curar e outros procedimentos, é “tronco”. O “brete” é o corredor que antecede o tronco e serve para alinhar os animais para encaminhá-los ao trabalho individual.

    Notamos que em SP, MS, PR é mais comum o tronco ser tronco mesmo. No GO, TO, MA o tronco de contenção é mais comumente chamado de brete. A seringa às vezes é entendido como o espaço em “v” que antecede o corredor de alinhar animais. Noutro entendimento, é o próprio corredor que equivale ao êmbolo da seringa de aplicar medicamentos que ” empurra” o conteúdo para sair na agulha.

    Parabéns ao Dr. Fernando pelo texto e ao Beefpoint pela publicação dessa matéria.

    José Carlos Beckheuser

  5. Gelson Luiz Kruger disse:

    Caro Fernando,

    Estou reformando um antigo curral e gostaria de usar esta ideia que usou na Fazenda Aparecida.
    Gostaria de ter mais detalhes desta planta, principalmente na parte 3 da figura, ela é formada por portões? Pode enviar mais detalhes por email? Agradeço a sua colaboração.
    Abraço

  6. Alex Szczypkowski da Silva disse:

    Alex Szczypkowski da Silva, gado de corte e leite, Arapoti, Pr.

    Bom dia, estou vendendo uma propriedade e pegando uma outra, ai fica pra traz a minha mangueira, na outra propriedade não tem mangueira, gostaria se fosse possível me enviar o modelo, com planta baixa, e todas especificações possíveis e detalhadas deste seu tronco e de outros modelos de anti stress se possível.
    Antecipadamente grato, Alex.

    email: alexjacu@hotmail.com

  7. Alex Szczypkowski da Silva disse:

    Bom dia, estou precisando de mais informaçoes sobre este e outros modelos de curral anti stress, se for possivel me mandar modelo de planta baixa, todas especificações, medidas,etc, de modelos para lotaçao de mais ou menos 300 cabeças, antecipadamente grato, Alex.
    Email: alexjacu@hotmail.com

  8. Carlos A. Damião disse:

    Eu gostaria de receber o lay out para esta filosofia de curral para um único funcionário porém considerando redução do stress do gado. Há… existe pintura anti stress do curral? e o Piso pode ser de concreto? Qual a melhor prática para o piso anti stress e para drenagem de água das repartições do curral em épocas de chuva? Qual é a filosofia para cegar com madeira as divisões das repartições do curral? Que critério segue?

  9. alair camilo da silva disse:

    gostaria de receber planta de curral um homem so,pois achei excelente e gostaria de adaptar os currais existente em minha propriedade, se possivel detalhes como travar a cancela quando os animais estao sendo forcados a entrar no trono que acredito ser no piso, e detalhes edificacao

  10. Luis Claudio disse:

    Olá Fernando, Parabéns pelo post.
    Seria possível , enviar o modelo de planta baixa deste curral, com especificações e medidas.
    Obrigado!

  11. Wilson Lopes disse:

    Parabéns ao autor.
    Estou iniciando na área e fico feliz com a preocupação não só dos lucros mas também na humanização no campo.Desejo construir um curral nesses moldes, e se possível se puder encaminhar a planta e as recomendações. Nesses 8 anos após a publicação você mudou algo?
    Mais uma vez, parabéns

  12. Leopercio Cossari disse:

    Parabéns pela iniciativa, já naquele tempo (8 anos passados).
    Preciso construir um novo curral (aproximadamente 250 animais) e se possivel e puder encaminhar-me a planta e as recomendações/especificações para construção, bem como as mudanças, caso houveram, fico desde já agradecido. Obrigado.

  13. Wanderson Araujo disse:

    Bom dia! Fernando me chamo Wanderson moro no interior do Pará e estou começando a atividade pecuaria fiquei muito interessado em construir um curral com boas facilidades de manobras onde um homem só possa dar conta de trabalhar com a boiada e por isso peço que meajude enviando a planta do curral para um homem só, muito obrigada prla atenção.

  14. Magali Azevedo V. Dantas disse:

    Bom dia! Fernando, meu nome é Magali Dantas, meu marido iniciou a atividade pecuária há algum tempo atrás e agora que me interessei pela atividade vejo que o curral que ele criou é bom. Gostaria de obter uma planta do curral para um homem só para que possamos melhorar o manejo com nossos animais. Fico-lhe eternamente grata. Parabéns!

  15. Euripedes Ferreira disse:

    Olá Fernando, Parabéns pelo post.
    Meu nome é Euripedes Ferreira, estou no interior de Goias.
    Seria possível , enviar o modelo de planta baixa deste curral, com especificações e medidas.
    Obrigado!

  16. Emocir Otavio Rorato disse:

    bom dia Fernando, Parabéns pelo post.
    Meu nome e Emocir, estou em Santa Maria-RS, seria possível enviar o modelo de planta baixa deste curral, para 250 animais, com especificações e medidas.
    Obrigado

  17. Anselmo Benvindo Cadorin disse:

    Parabéns pelo trabalho e iniciativa de extrapolar o conhecimento. É a promoção do ganha ganha. Sou Eng. Agr. e lido com crédito rural. Considerando a contínua escassez de mão de obra esse modelo serve como uma luva.
    Ficarei muito grato se pudesse receber uma planta completa do respectivo modelo.

  18. Dornélis José Fronza disse:

    Oi Fernando…parabéns pela matéria.
    Poderia me enviar uma planta com as dimensões, pois estou concluindo as instalações para confinamento de 400 animais, e deixei por último esta parte.
    Certamente você a tem fornecido para vários agropecuaristas, a julgar pelos comentários acima.
    Grato e um grande abraço

  19. Barros oliveira disse:

    Amigos, bela reportagem
    Estou pretendendo fazer um curral anti estres com confinamento ao lado
    Se alguem tiver alguma plata por fazor mande via E-mail
    Agradecido, Barros

  20. Joelcio Sntuzzi disse:

    Boa tarde Fernando, excelente matéria.
    Como posso conseguir a planta e detalhes para construção de um curral como este.
    Atenciosamente, Joelcio Santuzzi

  21. Claudio Moraes da Trindade disse:

    Fernando.
    Sou professor de uma escola agrícola e responsável pelo setor de Bovino de Corte. Vamos iniciar a reforma da mangueira e gostaria de usar esta ideia que usou na Fazenda Aparecida. Gostaria de ter mais detalhes desta planta. E de outros modelos de anti estresse, se possível.
    Ficarei muito grato se pudesse receber uma planta completa do respectivo modelo.
    Agradecido, Claudio.

  22. Sylvio Rocha disse:

    Olá, Fernando

    Informações muito boas no artigo. Como os colegas acima, gostaria de obter uma planta mais detalhada do curral. Preciso fazer um curral para 70 cabeças e gostaria de implantar esta proposta – que de todas as que encontrei, me pareceu a mais inteligente. Desde já muito obrigado.

  23. Renata Pritsch disse:

    Poderia me enviar a planta com as dimensões e mais detalhes dessa planta? Se possível outros modelos de anti estresse. Obrigada.

  24. Jean Doffemond disse:

    Olá Fernando,

    Gostei do artigo. Gostaria de saber se é possivel me enviar a Planta com Especificações, Dimensões e Detalhes para uma instalação com capacidade de 250 animais ou capacidade aproximada.
    obrigado.
    Jean

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