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Cuidados com o período inicial de confinamento de animais jovens

Atualmente os sistemas de produção do Novilho Superprecoce (abate de bezerros com 12 a 15 meses de idade e pesos acima de 16@) e de Vitelos (abate com 8 a 10 meses e peso entre 8 e 10@) têm sido utilizados como alternativas para intensificação da produção de carne. São sistemas em que logo após a desmama os bezerros são confinados até o abate com dietas contendo elevado teor de concentrado, ricas em energia, permanecendo no cocho entre 90 e 160 dias.

Atualmente os sistemas de produção do Novilho Superprecoce (abate de bezerros com 12 a 15 meses de idade e pesos acima de 16@) e de Vitelos (abate com 8 a 10 meses e peso entre 8 e 10@) têm sido utilizados como alternativas para intensificação da produção de carne. São sistemas em que logo após a desmama os bezerros são confinados até o abate com dietas contendo elevado teor de concentrado, ricas em energia, permanecendo no cocho entre 90 e 160 dias.

Neste artigo não discutiremos a viabilidade destes sistemas sob o ponto de vista econômico ou produtivo, mas sim abordaremos aspectos relevantes de uma fase muito importante, que coincide com a desmama e entrada dos animais no confinamento, a chamada fase de adaptação ou recebimento dos animais.

Bezerros recém desmamados estão quase sempre sob um grande estresse, seja pela separação da mãe, seja pela nova alimentação ou mesmo pelo agrupamento com outros animais nos currais do confinamento. Muitas vezes também os animais são transportados por longas distâncias, perdendo peso e ficando desidratados, agravando a situação.

Os índices de morbidade e mortalidade podem ser elevados nos primeiros 15 dias de engorda, gerando desempenho fraco e custos adicionais com medicamentos e manejo. Por exemplo, são comuns casos de acidose, diarréia e problemas pulmonares.

Outra questão importante é que durante o preparo dos animais, transporte ou comercialização, período em que os bezerros não têm acesso a alimento e água, a capacidade fermentativa do rúmen é significativamente reduzida, permanecendo assim por dias durante a realimentação. Outras alterações incluem também aumento do pH ruminal, da osmolarilade sérica, da glicose e uréia plasmáticas (NRC, 1996).

Neste sentido, consultores americanos seguem algumas recomendações para a fase inicial de engorda de animais jovens e que podem também ser adotadas nos confinamentos brasileiros.

O primeiro ponto é o correto balanceamento da dieta de adaptação, com níveis de proteína, energia, fibra efetiva, minerais e vitaminas ajustados, no sentido de fortalecer o sistema imune nesta fase, o qual é criticamente desafiado. Na verdade, o maior desafio é fazer com que os animais consumam logo a dieta nos primeiros dias, o que em algumas situações não ocorre. Baldwin (1967) sugere que o número de bactérias e protozoários ruminais diminui rapidamente após um evento que cause estresse como o transporte. Estas mudanças na população microbiana tendem a reduzir o consumo de matéria seca.

Muitos bezerros não consomem a dieta após entrarem no confinamento. Hutcheston (1990) destaca que apenas cerca de 21,7% dos animais comem no primeiro dia, e aproximadamente 30% continuam sem se alimentar após uma semana (Tabela 1).

Tabela 1. Porcentagem de bezerros comendo durante os 10 primeiros dias após a chegada no confinamento


Animais recém chegados não apresentam consumos elevados de matéria seca. Normalmente consomem cerca de 1% do peso vivo (Tabela 2). Uma meta inicial é fazer com os bezerros consumam o suficiente para manutenção de seus pesos. A situação se agrava em animais doentes (Tabela 3). O consumo de MS pode diminuir em 50% em animais com problemas respiratórios e febre (NRC, 1996).

Tabela 2. Consumo de matéria seca por bezerros recém desmamados


Tabela 3. Consumo de matéria seca por bezerros recém desmamados considerando animais sadios ou doentes


Adaptado de Hutcheston (1990)

Tendo em vista que os bezerros apresentam baixo consumo no período inicial, é importante que a dieta contenha maior densidade de nutrientes, especialmente proteína (Tabela 4). Também se recomenda utilizar feno longo, ao invés de silagem ou volumosos úmidos ou fermentados, os quais são menos palatáveis. É comum em confinamentos americanos e também na África do Sul deixar feno à vontade em cochos separados nos primeiros 6 dias. Bezerros sob estresse preferem dietas mais secas comparado à dietas ricas em silagem de milho (NRC, 1996).

Tabela 4. Níveis nutricionais recomendados para dietas de adaptação


Energia: dietas iniciais devem conter de 50 a 70% de alimentos concentrados. Caso se utilize milho este pode ser fornecido inteiro o moído grosseiramente.

Proteína bruta: rações inicias devem possuir de 13 a 15% de PB, com níveis baixos de uréia ou fontes de nitrogênio não protéico. Bezerros estressados possuem menor tolerância à uréia. Consumos de uréia de 30g/cabeça/dia são permitidos nas duas primeiras semanas (NRC, 1996).

Minerais: zinco, cobre e selênio desempenham papel importante no sistema imune. Ca, P e K são os macrominerais mais relevantes. O K é essencial para animais que foram transportados por distâncias maiores e que estejam desidratados.

Vitaminas: vitaminas A e E são importantes para imunidade.

Aditivos: dentre os aditivos recomendados, ionóforos (coccidiostáticos) e leveduras têm sido utilizados.

Outras observações relevantes:

– Práticas de manejo com vacinação, aplicação de antibióticos e vermífugos, colocação de brincos de identificação devem ser feitas no máximo até 24 h antes da entrada no confinamento;

– Para animais que foram transportados de outros lugares, permitir acesso à água dentro de 3 a 4 h após o desembarque;

– Prover 30 cm de espaço de cocho;

– Observar os animais pelo menos duas vezes ao dia (especialmente durante os tratos). Remover e tratar animais doentes;

– Fazer mudanças graduais na dieta. Normalmente utilizam-se duas dietas de adaptação, por cerca de 7 a 10 dias cada uma, com níveis crescentes de energia. Lembre-se que é necessário adaptar a parede ruminal e a população microbiana às novas dietas;

– Bezerros que foram suplementados em creep feeding se adaptam mais rápido, pois já têm costume como o cocho;

– A utilização de animais mais velhos e experientes, que já tenham costume com o cocho, pode ser uma medida eficaz no sentido de estimular o consumo por parte dos bezerros. Normalmente são utilizadas vacas mansas, chamadas de madrinhas.

Literatura citada

BALDWIN, R.L. Effect of starvation and refeeding upon rumen fermentation. California Feeders Day, Report 7:7.

HOWIE, M. Starting program, improved feed intake vital to calf performance. Feedstuffs, 16 de Dezembro, 1996.

HUTCHESTON, D.P. Starting on the right track. Proc. Land O’Lakes Beef Seminar. p. 3-15.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. 1996. Nutrient Requirements of Beef Cattle 7. ed. Washington D.C. 242p.

2 Comments

  1. maria elizabete zoupantis lenzi disse:

    Prezado professor Rafael

    Obrigado pelos esclarecimentos,procurei no site algo que me informasse sobre alimentação de bezerros,e alguns tópicos da sua matyeria me foram bastante valiosos,como quantidade de concentrados e de uréia que deva conter ou não. Mas para uma das minhas questões ainda não encontrei resposta, que é quanto tempo de adaptação um bezerro precisa para se adaptar da pastagem para o cocho, e se poderia intercalar cocho e pastagem de periodo em periodo,ou isso não é possivel pois causaria um estresse pior? Pois isso diminuiria meus custos .

    Abraços e parabens, sua materia está bem esclarecedora e isso é muito importante

  2. João Paulo Rocha de Sousa disse:

    Professor Rafael, faço minhas as palavras da prezada Maria Elizabete, e também tenho a mesma dúvida: intercalar pastagem com cocho no inicio pode gerar mais estresse? Grato e parabéns pela rápida e excelente matéria.

    Resposta do autor:

    Prezado João Paulo Rocha de Sousa,

    Grato pelo comentário.

    É preciso considerar alguns aspectos nesta fase. Principalmente se forem bezerros desmamados.

    A suplementação pré-confinamento pode auxiliar bastante em dois pontos: adaptar o rúmen e a microbiota ruminal ao novo regime alimentar (principalmente em dietas com maior teor de amido) e promover o costume com o cocho, facilitando o manejo alimentar.

    Na verdade este conceito se aplica para qualquer categoria animal, mesmo bois mais erados.

    O primeiro mês de confinamento é muito importante para o sucesso da engorda, quanto mais acertarmos (isto é, maximizarmos consumo, sem problemas de ordem digestiva ou sanitária), melhor será o resultado final.

    Abraço, Rafael.

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