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Covid-19 se alastra no norte gaúcho e desafia frigoríficos

O espalhamento do coronavírus no norte gaúcho, sobretudo em regiões de importância para a produção de frango, está mobilizando diversas autoridades e levantando preocupações sobre o baixo grau de isolamento social adotados nas cidades da região. Como as vagas de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) estão cada vez mais escassas e a covid-19 vem se disseminando entre funcionários de frigoríficos, o risco de fechamento de abatedouros na região é cada vez maior.

Em entrevista ao Valor, o promotor Sérgio Diefenbach, do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), disse estar avaliando pedir na Justiça a interdição dos frigoríficos de BRF e Minuano em Lajeado (ver mapa), a 133 quilômetros de Porto Alegre. A expectativa do promotor é que a medida seja definida até a próxima segunda-feira (dia 4).

De acordo com Diefenbach, pelo menos dez funcionários de cada unidade tiveram diagnóstico positivo para a covid-19. Com isso, ambas as companhias afastaram preventivamente mais de 200 funcionários.

“Nossa questão não diz respeito à culpa ou imprudência [das empresas], embora possam ter ocorrido, mas a uma necessidade do município”, argumentou o promotor. Terceira cidade do Estado em número de casos, Lajeado tem 84 casos (21 a mais nas últimas 24h) e quatro óbitos registrados. Os 13 leitos de UTI da cidade estão ocupados e a prefeitura quer ampliar o número para 18.

Conforme o promotor, um funcionário da Minuano e sua esposa, que viviam em Venâncio Aires – a 30 quilômetros de Lajeado -, faleceram nesta semana. A filha do casal teve alta ontem e o filho também testou positivo. “Não queremos fazer um contraponto entre saúde e economia, mas quando isso se transforma em uma família dilacerada é preciso ter atenção”, afirmou.

À reportagem, o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo (PP-RS), admitiu preocupação com o número de casos entre funcionários de frigoríficos. “Estamos acompanhando o número de casos na cidade. Mas, se considerarmos o avanço por estabelecimento, o número de casos nos frigoríficos é maior”.

Ao mesmo tempo, o mandatário defende manter as indústrias e o comércio local em funcionamento, com a adoção de medidas restritivas, como uso de máscaras e distanciamento. Segundo ele, o impacto econômico do fechamento seria significativo, ainda que 60% dos 5 mil funcionários das duas plantas não sejam moradores de Lajeado.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) também vem acompanhando com preocupação os casos na indústria frigorífica e tomando medidas. “As indústrias tem aptidão muito grande para a proliferação de casos de covid-19, pelas características de aglomeração ”, disse a procuradora Priscila Schvarcz, que também criticou o não cumprimento, na íntegra, das medidas de prevenção por parte das agroindústrias de carnes.

Entre os municípios que mais preocupam o MPT, está Passo Fundo (ver mapa), onde uma unidade da JBS foi interditada. Segundo a empresa, há 29 casos confirmados de covid-19. A cidade de 200 mil habitantes possui o segundo maior número de casos da doença do Estado (135), só ficando atrás de Porto Alegre (447).

Entre as principais companhias do país, há estratégias de abordagem diferente no relacionamento com o MPT. A BRF, por exemplo, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Segundo o CEO da Lorival Luz, o grupo procurou o MPT proativamente e assinou o acordo ratificando medidas de prevenção já adotava. A Seara, da JBS, não assinou TAC por entender que já cumpre todas as recomendações das autoridades de saúde e da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia.

Fonte: Valor Econômico.

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