Controle de perdas na ensilagem de capins tropicais

A intensificação dos processos de produção, com formas de manejo mais adequadas para as forrageiras tropicais, tem sido estimulada, uma vez que a menor produção das forragens durante o “inverno” contribui para a baixa produtividade dos rebanhos. Uma alternativa apontada é a intensificação de produção de volumosos suplementares durante o verão, visando a conservação de forragem para o inverno, aproveitando-se do potencial na produção de gramíneas tropicais, sejam pastagens excedentes ou campos exclusivos para produção de silagem.

Nesse contexto a silagem de capim vem surgindo como uma alternativa às culturas tradicionais, tendo como vantagens: as características de uma cultura perene, possibilidade de suportar elevadas lotações na propriedade e apresentar grande flexibilidade em manejo na tomada de decisões. Um gênero de capins que tem se destacado pela alta produtividade é o Panicum maximum, com produtividade média observada entre 20 a 30 t MS.ha-1.ano-1, segundo Jank (1994), a qual observou a superioridade do Tanzânia 1, Mombaça e Tobiatã que apresentaram produção de matéria seca 86%, 136% e 96% maiores que o capim Colonião. Entretanto, características intrínsecas das plantas forrageiras observadas no estádio fisiológico ideal para o corte, como a alta umidade e baixo teores de carboidratos solúveis (prejudiciais à boa fermentação), levam ao questionamento sobre as perdas no valor nutritivo e em matéria seca, ocasionando inflação dos custos de produção.

Para reduzir essas perdas na ensilagem, seria possível adicionar ingredientes que atuem no sentido de melhorar as características fermentativas, minimizando perdas nessa etapa. Também, aumentar o teor de matéria seca (emurchecimento ou adição de materiais absorventes), minimizando as perdas por efluente e gases, além da adição de inoculantes bacterianos, que visam aumentar a população de bactérias desejáveis.

Além disso, a alteração de práticas de manejo na ensilagem, como a redução no tamanho da partícula picada, melhorando a compactação do material ensilado, são fatores que favorecem a fermentação e conseqüentemente a qualidade do produto final.

Com o objetivo de avaliar as perdas associadas à ensilagem de capim Tanzânia (Panicum maximum, Jacq.), IGARASI (2002), utilizou tratamentos que consideraram os efeitos de umidade, adição de substrato absorvente e fermentável (polpa cítrica), redução no tamanho de partícula e a adição de inoculante bacteriano. Foram realizadas as avaliações da eficiência de colheita da forragem à campo e do índice de perdas observadas durante o processo fermentativo, e as alterações no valor nutritivo da silagem resultante. Efetuados cortes durante o inverno e no verão, em uma área destinada a produção de silagem, foram analisados os efeitos da alteração do teor de matéria seca (forragem fresca, emurchecida e a adição de polpa cítrica), do tamanho de partículas (maior e menor) e da aplicação ou não debactérias homofermentativas.

Foi observado que com a adição de polpa cítrica (5% no inverno e 10% no verão) para atingir o mesmo teor de MS da silagem emurchecida, houve melhora das características fermentativas (pH, nitrogênio amoniacal); diminuiu as perdas no processo fermentativo (efluente e gases), aumentou a recuperação de matéria seca. Entretanto, piorou a estabilidade aeróbica da silagem em relação à silagem obtida da forragem fresca. Também aumentou o teor e a taxa de recuperação do NDT; contudo, elevou o custo relativo do NDT. Comparativamente à forragem fresca, o emurchecimento elevou as perdas na colheita apesar de diminuir as perdas na fermentação (gases, efluente e recuperação de matéria seca), gerou silagens mais instáveis em aerobiose, além de diminuir o teor de nitrogênio amoniacal sem alterar o pH, e apresentou os menores índices de recuperação de NDT.

A redução no tamanho da partícula promoveu o aumento na densidade da silagem sem alterações na produção de efluente e de gases. Entretanto, houve a menor recuperação de matéria seca após a fermentação; produziu silagens com menor pH, maior teor de N-amoniacal e com maior estabilidade aeróbica. As perdas integradas não ocasionaram alterações no teor de NDT, bem como na taxa de recuperação e no custo relativo do NDT.

A adição do inoculante bacteriano (homoláticas) não refletiu em alterações nos parâmetros fermentativos (pH e nitrogênio amoniacal), na produção de efluentes e na recuperação de matéria seca, porém promoveu a redução na produção de gases e elevou o custo relativo do NDT.

Concluindo, no corte de verão, a melhoria no processo de ensilagem pode ser alcançada através da elevação do teor de matéria seca. A busca por maior eficiência de recolhimento de forragem emurchecida e a redução no tamanho de partícula, constitui-se em áreas promissoras para o desenvolvimento da indústria de equipamentos de colheita para ensilagem de forragens. A silagem de forragem bem manejada durante o inverno constitui-se numa fonte de volumoso de bom valor nutritivo e de baixo custo do NDT.

A ensilagem de capins tropicais exige profissionalismo, caracterizado por programas permanentes de intensificação das práticas agronômicas para obtenção da forragem de bom valor nutrivo, explorando o potencial de produção da cultura. Além disso, a maior competência na conservação dessa forragem prevê o manejo voltado ao controle de perdas desde a fermentação até a oferta no cocho para os animais. O uso esporádico de forragem excedente das pastagens, de baixo valor nutritivo, tem resultado em silagens cujo custo de NDT é incompatível com sistemas de produção animal eficientes.

Figura – Custo relativo do NDT (%) da silagem de capim Tanzânia em função dos tratamentos experimentais.
(MO – forragem com a umidade original; MOPC – forragem ou silagem com adição de polpa cítrica peletizada; PE – forragem ou silagem pré-emurchecida; PMa – partícula maior; PMe – partícula menor; C – com inoculante bacteriano; S -sem inoculante bacteriano.)
Fonte: IGARASI (2002)

Referências bibliográficas

IGARASI, M.S. Controle de perdas na ensilagem de capim Tanzânia (Panicum maximum Jacq. cv. Tanzânia) sob os efeitos do teor de matéria seca, do tamanho de partícula, da estação do ano e da presença do inoculante bacteriano. Tese Mestrado, ESALQ/USP, 2002, 152 p.

JANK, L. Potencial do gênero Panicum. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE FORRAGEIRAS E PASTAGENS, Campinas, 1994. Anais… Campinas: CBNA, 1994. p. 25-31.