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Contra a ortodoxia de Copenhague!

Em cinqüenta anos, 3,4 bilhões de pessoas dos países em desenvolvimento devem alcançar os níveis de renda, consumo, uso de energia e volumes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) hoje existentes nos países mais avançados. O patético é que quando os líderes do planeta voltarem a se encontrar neste dezembro de 2009 em Copenhagen, eles mais uma vez abraçarão a mesma solução fracassada: promessas e mais promessas de corte drástico de emissões, que, como todos sabemos, não se concretizarão.

“Limites de emissão de gases de efeito estufa: para os países ricos, sim; para os países em desenvolvimento, não! Isto os levaria à estagnação inconseqüente.” (Michael Spence, Nobel de economia em 2001, in “Climate Change and Developing Country Growth”, WP 64 – Commission on Growth and Development, 2009).

Em cinqüenta anos, 3,4 bilhões de pessoas dos países em desenvolvimento devem alcançar os níveis de renda, consumo, uso de energia e volumes de emissão de gases de efeito estufa (GEE) hoje existentes nos países mais avançados.

O argumento a favor da “mitigação” e contra a “adaptação” fundamenta-se na “urgência”. Confesso que fico com medo comer peixe cru. A opção pela mitigação (adoção de metas) é, simultaneamente, uma falsa solução e uma anedota do ponto de vista da lógica. É falsa, porque para ser adotada implica o extermínio de toda a economia dos países em desenvolvimento; é uma anedota, porque se houver o extermínio, não haverá mais emissão de qualquer espécie, logo não há que se falar em mitigação.

O patético é que quando os líderes do planeta voltarem a se encontrar neste dezembro de 2009 em Copenhagen, eles mais uma vez abraçarão a mesma solução fracassada: promessas e mais promessas de corte drástico de emissões, que, como todos sabemos, não se concretizarão, pois são medidas que prometem além do possível a um custo de oportunidade altíssimo: apagar mais da metade da população do planeta. Serviço de gangster.

A novidade – pelo menos para nós, os bons selvagens da Região Amazônica – deve ficar por conta de um mecanismo chamado REDD (sigla em inglês para redução de emissões para o desmatamento e degradação ambiental dos países em desenvolvimento). A Floresta Amazônica vai brilhar com todo o seu encantamento. Sairá da Amazônia o “rentier” da floresta, pois a matemática é transparente: um hectare/ano de pasto rende U$ 200,00 (duzentos dólares por ha/ano), enquanto que um hectare de carbono estocado vale no mercado voluntário U$ 10.000,00 (dez mil dólares por há/ano), diz o Banco Mundial.

Estranho? É muito estranho, pois ou nós somos uns perfeitos idiotas para desperdiçar tamanha oportunidade de ganhar dinheiro sem trabalhar – seríamos “rentistas”, lembram? – ou esse mercado não existe (a propósito, o ilustre leitor conhece, ou já viu alguém que viva da renda pelo “valor da floresta em pé”?).

Só mais um ponto: é importante dizer que a opção pela “vantagem comparativa” de termos floresta apenas pereniza o atraso. É necessário investir em grande escala em ciência e tecnologia, pois é a única alternativa ao congelamento mental que se pretende impor a nossa gente capaz de também mitigar os riscos do aquecimento global. A solução de impor metas de emissões (mitigação) é exclusão social pura e cruel.

A alternativa de investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é solução de inclusão social, afinal de contas dominar uma tecnologia é um ativo valioso para um povo, pois diminui a sua dependência em relação às outras economias.

Não podemos esquecer que é possível ainda investir nas duas alternativas P&D “já”, e em grande escala, e cortes graduais de emissões (o “regime de adaptação”, já previsto no texto da Convenção Quadro para Mudanças Climáticas da ONU, em 1992). É preciso fugir do lugar comum, da mesmice torturante (como diria Euclides da Cunha), do que é apenas aparentemente mais simples. Duas razões para tanto:

a) o combustível fóssil ainda é o único meio de fugir da pobreza para os países em desenvolvimento. O carvão garante metade da energia do mundo. Na China e na Índia, ele provê 80% da geração de energia, e tem ajudado os indianos e chineses a usufruírem um padrão de vida que seus antepassados nunca imaginariam possível. Não existe nenhuma “energia verde”, alcançável, a curto prazo, que possa substituir o carvão;

b) cortes imediatos de carbono são bastante caros – e aqui, o custo supera substancialmente o benefício. Se o Protocolo de Kyoto tivesse sido implementado, teria havido uma redução insignificante de temperatura de 0,2ºC (ou 0,3ºF) a um custo de U$ 180 bilhões por ano. Em termos econômicos, Kyoto teria gerado 30 centavos de benefício para cada dólar gasto!

É preciso desafiar a estranha ortodoxia que sairá de Kyoto e desembarcará em Copenhague!

0 Comments

  1. Helio Cabral Junior disse:

    Parabéns!

    Finalmente começam a se levantar vozes acadêmicas contra o flagrante “nonsense” de muitas mentiras convenientes apregoadas aos 4 ventos por “especialistas”.

    Vale lembrar que há poucos anos a “turma” do IPCC afirmava que o planeta seria assolado por secas terríveis devido ao aquecimento global, até que um “gênio” dissesse: -“esperem um momento, se o clima ficar mais quente teremos mais evaporação e com isso mais chuvas…”, aí se deram conta de mais uma grande bobagem!

    E este mesmo pessoal em final dos 70 e início dos 80 afirmavam que estariamos à beira de uma nova era do gelo!

    As pessoas mais antenadas já perceberam uma mudança no discurso que até 5 anos atrás era: ” O aquecimento global antrópico!”. Hoje já é: “Mudanças climáticas globais causadas pelo homem!”. Aos mais incautos pode parecer a mesma coisa, mas são bem distintas na verdade.

    Com a ideologia de Goebells tornaram um gás essencial à vida no planeta ( o CO2 ) um poluente! Simplesmente desconsideraram o vapor d´água o verdadeiro principal responsável pelo “efeito estufa” ( mais de 75% ), pois como alegou o IPCC: ” o homem não tem nenhum controle sobre a emissão do mesmo…”.

    Nos dizem que se o planeta aquecer a floresta amazônica irá morrer… ora, acabaram de encontrar salvo melhor juizo no Illinois uma floresta tropical fossilizada datada justamente do período carbonífero e chegaram à brilhante conclusão que o que prejudica florestas tropicais é o frio e não o calor!

    Além do que, a floresta amazônica já estava luxuriante e faceira a 12.000 anos atrás quando tivemos um aquecimento de 9 graus centígrados em 10 anos ( isso mesmo, apenas uma década ) ao final da última era glacial e a floresta continua até hoje… ah, e os ursos polares também ( já estão no planeta há pelo menos 1.000.000 de anos quando se separaram do tronco dos ursos pardos ( grizzle bears ) e estão vivinhos até hoje.

    Finalmente alguns pensadores tem a coragem de de gritar em alto e bom som “O rei está nú!” e mostrar a verdade: o norte quer manter a qualquer custo seu padrão de vida e para isso quer que nós não só mantenhamos o nosso, como regridamos no mesmo!

    Já disse uma vez: se todos os habitantes do planeta tivessem o padrão de consumo da França ( que nem de longe é o maior consumista do planeta ) seriam necessários 5 planetas Terra para suprir os recursos necessários para tal.

    Cordialmente,

    Helio Cabral Jr

  2. Gil Marcos de Oliveira Reis disse:

    Caro Mário Ramos Ribeiro,

    Seja benvindo ao BeefPoint, você que é articulista do jornal “O Liberal”, do Pará, e sempre foi um grande defensor do Brasil e da Amazônia.

    Artigo fantástico que reduz aos seus devidos termos o assunto abordado.

    Lembrando que a região Amazônica é a menos devastada do Brasil.

    Gil Reis

  3. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Dr Mário Ramos Ribeiro

    O Brasil já foi dito o país da construção interrompida, não poderemos ser o da oportunidade perdida.Essa chamada crise internacional decorreu da especulação, nada a haver com a produção.A nossa hora é, justamente, agora.

    O nosso grande desafio brasileiro é garantir padrões e índices crescentes de desenvolvimento de modo moderno,inovador e sustentável, isto é: economicamente viável,ambientalmente correto e socialmente justo.

    Não existem soluções mágicas para o desenvolvimento.Escapar ao círculo vicioso do “não pode” e gerar o circulo virtuoso do “como pode” é a chave para liberar o potencial desenvolvimentista da sociedade brasileira.

    A sustentabilidade não é utopia, ela é possível com ações lógicas , éticas e pragmáticas induzidas por uma gestão pública eficiente e uma ativa participação do setor produtivo .

    O país que queremos e precisamos é o que compete para vencer e não apenas para participar. A nossa meta olímpica é ,também, a medalha do progresso.

    Assim é preciso preservar e produzir. Ao mesmo tempo que é necessário preservar a floresta em pé é fundamental produzir alimentos,celulose,fibras e biocombustíveis para o País viver e,também, vender para crescer.

    O caminho para a solução, a vereda para a salvação , está na integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura.Compreender ,também, que o semiárido brasileiro não é problema, mas, sim , uma das soluções.

    Para isso precisamos de um programa decisivo,eficiente,eficaz e permanente de extensão rural e tecnológica para levar para respirar o puro ar da zona rural os diversas estudos já existentes e empoeirados nas estantes,prateleiras e computadores das instituições de pesquisa e ensino brasileiras.

    Ciência,tecnologia e inovação, a serviço da produção para benefício do cidadão.
    Continuar a estimular a Pesquisa(P) , mas, sobretudo acionar o desenvolvimento(D).Induzir a Capacitação,Cooperação,Comunicação,Compromisso e Confiança (5C).

    Vale, assim, o estabelecimento e/ou fortalecimento de um Programa Nacional de Recuperação das Pastragens Degradadas, aumentando o suporte e consequentemente a produtividade.Conseguiremos produzir mais nas mesma áreas já utilizadas, minimizando e tendendo a zerar o desmatamento.

    Para isso deve ser levado em conta que o Brasil é um país continente e o programa deveria ser adequado aos diversos climas,cultura, níveis e portes das atividades produtivas aliado a um crédito com taxas e prazos compatíveis com o segmento rural.Economia,geografia e sociologia.Colocar no contexto o que já estabeleceram no texto.

    Não poderemos nunca sobreviver com uma estagnação inconsequente.Enquanto os ditos desenvolvidos acendem o farol ,querem que os emergentes alumiem com o fifó.

    Vamos e precisamos avançar.Participar e inovar é preciso.

    PAULO CESAR BASTOS é engenheiro e produtor rural

  4. Mário Ramos Ribeiro disse:

    Prezados Helio e Enaldo,

    Obrigado pelo incentivo. Vocês foram muito generosos. A Amazônia merece bem mais. Nosso governo ainda não acordou: não tem projeto algum para a Amazônia. Quanto às Universidades, bom, infelizmente elas estão sendo transformadas em “braço” político.

    Qualquer semelhança com o PRI- Patrido Revolucionário Institucional do México-, não é apenas mera coincidência: basta dar uma olhada no google.

    Abraços,
    Mário Ramos Ribeiro

  5. Mário Ramos Ribeiro disse:

    Prezados Gil Reis e Paulo César Bastos,
    Agradeço e muito os comentários. Ao Gil por me apresentar ao beefpoint, e pelos constantes incentivos para escrever sobre a Amazônia. E quanto a você Paulo César,creio que o seu texto é muito rico e pode ser desdobrado em dois ou três artigos para montar uma agenda positiva para a Agropecuária no Brasil. A turma dos afortunados lá bem acima do equador está montando uma agenda do que “não pode ser feito”na Agropecuária (veja o último World Development Report 2010 do Banco Mundial- existe uma “agenda negativa”!!). Precisamos inverter a ordem : “crescer preservando” é bem diferente de “preservar crescendo”. Aqui, “a ordem dos fatores altera o produto”, pois revela o que é prioritário. Parabéns e obrigado.
    Cordialmente,
    Mário Ramos Ribeiro

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