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Contaminação por coronavírus ainda é baixa em frigoríficos brasileiros, mas há riscos

A confirmação dos primeiros casos do novo coronavírus entre trabalhadores de frigoríficos no Brasil levantou preocupações sobre o risco de o país rumar para um quadro crítico como o dos Estados Unidos, onde diversos abatedouros fecharam por causa do rápido espalhamento da covid-19 entre funcionários.

No sábado, a prefeitura de Concórdia, no oeste catarinense, confirmou o primeiro caso da doença — uma funcionária do abatedouro da Seara em Ipumirim (SC), cidade vizinha. Posteriormente, mais dois funcionários da mesma fábrica tiveram o diagnóstico positivo. Dois trabalhadores atuavam na desossa e um na área de higienização, segundo a prefeitura de Ipumirim.

A BRF, que ainda não havia comunicado casos publicamente, confirmou nesta terçafeira à reportagem que seis funcionários também tiveram o diagnóstico positivo — eles foram afastados após apresentarem sintomas. A empresa não revelou as plantas onde os trabalhadores atuavam.

Ao Valor, o Ministério Público do Trabalho (MPT) informou que recebeu denúncias de contágio em trabalhadores de abatedouros do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Goiás — região onde a produção de carne bovina é mais importante —, e as investigações devem ser feitas pelos procuradores de cada região.

O MPT recomendou, em 31 de março, que os frigoríficos adotem uma distância de 1,8 metro entre os funcionários no abatedouros, o que é considerado inviável pelas empresas.

“Se não forem adotadas as medidas de controle necessárias, há potencial risco para explosão de casos”, advertiu o procurador Lincoln Cordeiro, que é vice-gerente nacional do projeto de adequação das condições de trabalho nos frigoríficos do MPT.

Diante da dinâmica de disseminação do vírus, a avaliação de executivos do setor é que outras plantas também inevitavelmente serão afetadas. Também há preocupação com o comportamento da doença no Sul, região de clima frio onde está concentrada grande parte da produção de aves e suínos do país.

Para alguns executivos, o alento é que o Brasil pode estar melhor preparado para minimizar os problemas e afastar um caos como o americano. Para uma fonte da uma das principais agroindústrias brasileiras, os americanos demoraram para agir e adotar medidas de prevenção, o que pode ter agravado a situação.

“Acho que passaremos por problemas semelhantes, mas não na quantidade reportada nos EUA”, avaliou um executivo.

Nos Estados Unidos, um dos agravantes pode ter sido o fato de funcionários seguirem trabalhando já com sintomas do coronavírus, como ocorreu no abatedouro de bovinos da JBS em Greeley, no Colorado.

À reportagem, o diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, minimizou o risco de fechamento de abatedouros.

“Não vejo risco de parar porque as empresas tem trabalhado com prevenção e estão cumprindo a risca esse protocolo, com desinfecção reforçada”, sustentou Santin.

Questionado sobre o que teria dado errado nos Estados Unidos e quais seriam as diferenças para a situação da indústria brasileira, Santin evitou comentários, mas disse, em alusão às contaminações em um abatedouro de suínos da gigante Smithfield, que “algum equívoco de procedimento deve ter acontecido para ter 200 pessoas infectadas”.

A dimensão dos casos na Smithfield também chamou a atenção da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. “Tenho acompanhado os EUA de perto, inclusive fazendo levantamentos semanais dos estados americanos do interior, onde a produção está. E é preocupante”, disse ela anteontem, em entrevista à BandNews.

Procurado pelo Valor para tratar dos casos de covid-19 na agroindústria brasileira, o Ministério da Agricultura respondeu apenas que “até o momento não há impacto na produção e que casos pontuais estão sendo relatados por empresas”.

Em nota, a BRF destacou as medidas que vem adotando para mitigar o risco, o que inclui reforço de higiene e medição de temperatura dos funcionários. A empresa também já havia anunciado a contratação de 2 mil pessoas para substituir aqueles que forem afastados e, assim, preservar o abastecimento de alimentos.

Procurada, a JBS, dona da Seara, não fez comentários sobre os casos em Ipumirim, mas citou as medidas que adotou, e que também incluem o afastamento preventivo de trabalhadores que fazem parte do grupos de risco e a medição de temperatura de todos os funcionários antes deles ingressarem nas fábricas.

Fonte: Valor Econômico.

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