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Consumo alimentar, eficiência alimentar e impactos na qualidade da carne – parte I

Eficiência talvez seja a idéia mais presente em qualquer sistema produtivo, porém, a questão "Como alcançá-la?", talvez seja o que mais demande energia daqueles que a tem como meta. Levando o tema eficiência para nossa realidade, a produção de bovinos de corte, a questão tende a ser "Quais as conseqüências da seleção animal para algum parâmetro de eficiência alimentar?".

Eficiência talvez seja a idéia mais presente em qualquer sistema produtivo, porém, a questão “Como alcançá-la?”, talvez seja o que mais demande energia daqueles que a tem como meta. Levando o tema eficiência para nossa realidade, a produção de bovinos de corte, a questão tende a ser “Quais as conseqüências da seleção animal para algum parâmetro de eficiência alimentar?”.

Sem pretender responder concretamente a estas perguntas com esta revisão, deseja-se apresentar nesta primeira parte, a importância da eficiência alimentar, os problemas que existem em adotar parâmetros de eficiência como critério de seleção e serão abordados aspectos metodológicos envolvidos na avaliação do consumo alimentar residual, um importante parâmetro de eficiência alimentar.

A importância da eficiência alimentar nos sistemas de produção

A rentabilidade da produção de bovinos de corte é dependente dos “inputs” e dos “outputs” do sistema. O fornecimento de alimentos é o input de maior custo na maioria dos empreendimentos pecuários (Arthur et al., 2004), principalmente naqueles mais intensivos. Talvez devido a isto, sua importância no melhoramento genético e na seleção de animais foi reconhecida há muito tempo pelas indústrias de suínos e aves (Arthur, 2001) já que aumentos na eficiência da utilização dos alimentos poderiam em longo prazo reduzir os custos de produção (Arthur et al., 2004).

Já para bovinos de corte, praticamente todos os programas de melhoramento genético enfatizam apenas a seleção para aumento dos outputs, tais como pesos a diversas idades, ganho de peso diário, circunferência escrotal, características de carcaça e até mesmo o desempenho reprodutivo (Lanna & Almeida, 2004), sem se atentar para a diminuição dos custos com alimentação. Para bovinos confinados, onde o custo de alimentação representa cerca de 70% do custo de produção, o aumento na eficiência alimentar seria de extrema importância, pela diminuição da quantidade de alimento consumido para cada quilo de carne produzido.

A relevância do aumento da eficiência alimentar também se expande à medida que a área de pastagens para a produção de bovinos e também a produção de poluentes ambientais como o esterco e o metano são reduzidos (Basarab, 2003), questão esta de extrema importância quando o foco se torna a sustentabilidade dos recursos naturais. Portanto, a eficiência alimentar é um candidato óbvio para o melhoramento genético para melhorar a rentabilidade e a sutentabilidade da bovinocultura de corte.

Problemas da seleção para eficiência alimentar

Diversas medidas de eficiência alimentar têm sido desenvolvidas e usadas ao longo dos anos. Dentre elas estão conversão alimentar, eficiência parcial de crescimento, eficiência de mantença, eficiência de lactação e consumo alimentar residual. Todas são altamente correlacionadas com eficiência alimentar, porém a maioria delas também correlaciona-se com características de crescimento, com exceção do parâmetro consumo alimentar residual (CAR; Arthur et al., 2004).

Desta forma, esta medida tem o importante benefício de ser independente do peso e do ganho animal, comparado, por exemplo, com a medida de eficiência de conversão alimentar, que é calculada pela razão do consumo alimentar / ganho de peso, onde existe a ligação direta com o ganho de peso e o tamanho adulto do bovino, resultando em aumento do tamanho adulto (Sundstrom, 2004), o que nem sempre é desejado por comprometer a eficiência reprodutiva (Lanna et al., 2003).

Com o uso do CAR como critério de seleção, os animais podem ser selecionados por requererem menos alimento para o mesmo nível de produção, e com isso, aumentar a rentabilidade da indústria de carne bovina (Moore et al., 2005). Em trabalho realizado com gado Angus, Arthur et al. (2001a), relataram que o peso corporal metabólico e o ganho médio diário foram fenotipicamente e geneticamente independentes do CAR.

Assim, com o uso do CAR é possível obter animais mais eficientes dentro dos limites desejáveis, e dessa forma a seleção não conduz a aumentos no tamanho adulto dos animais (Sundstrom, 2004). Por outro lado, Crews (2005) recomendou que a seleção fosse feita através de regressões genéticas ao invés de regressões fenotípicas para evitar a ocorrência de efeitos indesejáveis possivelmente correlacionados ao CAR.

Metodologia para mensurar o CAR

O consumo alimentar residual é um dado individual, calculado após um período de alimentação (pelo menos 70 a 84 dias), onde os animais são dispostos em baias individuais ou em grupos. Devem ser registrados diariamente as quantidades de alimento oferecido e recusado, bem como o ganho médio de peso diário.

Quando os animais são colocados em grupos numa mesma baia, somente é possível verificar o consumo individual mediante o uso de equipamentos especializados (ex., Calan gates, Gro-Safe). Entretanto, algumas pesquisas têm mostrado um efeito significativo do tipo de instalação (grupos ou baias individuais) na performance e eficiência alimentar (Paulino et al., 2004), porém outros relatos implicam que não há diferença (Cruz et al., 2006).

Após o período de alimentação, o consumo alimentar residual é calculado como a diferença entre o consumo alimentar observado (CA, kg/dia) e o consumo estimado através de ajustes para peso médio metabólico (PMM, kg0.75) e taxa de ganho de peso (GMD, kg/dia).

Assim, animais que apresentam consumo alimentar residual negativo (baixo CAR) são mais eficientes em razão de consumirem menos que a quantidade necessária predita para um mesmo ganho em peso, quando comparados a animais com consumo alimentar residual positivo (alto CAR). Nas Figuras 1 e 2 pode-se observar as relações entre o consumo alimentar e o peso médio metabólico e o ganho de peso, respectivamente.


Figura 1. Relação entre o peso médio metabólico e o consumo alimentar médio de novilhos Angus-Hereford

Combinando o peso médio metabólico (PMM) e o ganho médio diário (GMD), obtemos a equação para a predição de consumo alimentar:

CA = 0,0665 PMM + 2,88 GMD
R2 = 0,42, sy.x = 0,7718

A Figura 3 mostra a relação entre o consumo observado e o predito, com uma representação gráfica do cálculo de CAR. Nesses animais, houve uma diferença de cinco quilos de consumo entre o animal mais eficiente (CAR -) e o menos eficiente (CAR +).


Figura 2. Relação entre o ganho de peso diário e o consumo alimentar médio de novilhos Angus-Hereford

Figura 3. Relação entre o consumo alimentar predito e observado em novilhos Angus-Hereford

Considerações finais

A seleção para consumo alimentar residual pode melhorar a eficiência de utilização de energia sem reduzir o apetite requerido para a produção. Sendo assim, a seleção para o CAR, isto é, o alimento consumido acima ou abaixo do requerido, para produção e mantença, pode ser a alternativa mais eficiente para ser utilizada no melhoramento animal, tornando-se um provável indicador genético das diferenças na exigência de mantença de cada animal.

Referências

ARTHUR, P.F.; ARCHER, J.A.; HERD, R.M. Feed intake and efficiency in beef cattle: overview of recent Australian research and challenges for the future. Australian Journal of Experimental Agriculture, v.44, p.361-369, 2004.

ARTHUR, P.F. Feed efficiency in a historical context. In: FEED EFFICIENCY WORKSHOP, 2001, Armidale. Proceedings. Armidale: Cooperative Research Center for Cattle and Beef Quality, 2001. p.7-10.

ARTHUR, P.F.; ARCHER, J.A.; JOHNSTON, D.J. Genetic and phenotypic variance and covariance components for feed intake, feed efficiency, and other postweaning traits in Angus cattle. Journal of Animal Science, v.79, p.2805-2811, 2001a.

BASARAB, J.A. 11/20/2003 – Latest indicator of feed efficiency could spur new generation of efficient cattle – 11/13 Canada Alberta Beef Industry. Disponível em http://www.fass.org/fasstrack/news_item.asp?news_id=1705. Acessado em: 26 de outubro de 2005.

CREWS, D.H. Genetics of efficient feed utilization and national cattle evaluation: a review. Genetics and Molecular Research v. 4, p. 152-165, 2005.

CRUZ, G.D.; MONTEIRO, R.B.; R. B.; RODRIGUEZ, J.A.; MONTEIRO, D.B.; SAINZ, R.D. Performance and residual feed intake are similar in Angus-Hereford steers housed in individual or group pens. Proceedings. Western Section: American Society of Animal Science, 2006. vol. 57 (no prelo).

LANNA, D.P.D..; CALLEGARE, L.; ALMEIDA R.; BERNDT,A. Eficiência econômica de vacas de corte de raças puras e cruzadas. In: III Simpósio de Pecuária de Corte, 2003, Lavras. Anais... , Lavras,2003. p.87-110.

LANNA, D.P.D.; ALMEIDA, R. Exigências nutricionais e melhoramento genético para eficiência alimentar: experiências e lições para um projeto nacional. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41, 2004, Campo Grande. Palestra… Campo Grande, SBZ, 2004, p.248-259.

MOORE, K.L.; JOHNSTON, D.J.; GRASER, H.U.; HERD, R. Genetic and phenotype relationships between insulin-like growth factor-I (IGF-I) and the net feed intake, fat and growth traits in Angus beef cattle. Australian Journal of Research. v.56, p. 211-218, 2005

PAULINO, P. V. R., CASTRO, F. C., MAGNABOSCO, A. C. AND SAINZ, R. D. Performance and residual feed intake differences between crossbred Angus versus crossbred Gelbvieh steers housed in individual or group pens. Journal of Animal Science, v. 82 (Supplement 1), p. 43, 2004.

SUNDSTROM, B. 2004. Net Feed Intake – A feed efficiency measure (Now with IGF-1). Disponível em: http://www.angusaustralia.com.au/netfeed intakeebvs.htm. Acesso em: 23 jul. 2004.

Fonte: V Simpósio de Produção de Gado de Corte, 2006, Viçosa/MG

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