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Consumidor ainda desconfia dos benefícios da agricultura inteligente

A agricultura de precisão pode aumentar a produtividade, dosando fertilizantes, pesticidas e água com uso maciço de dados coletados no campo e transmitidos por internet.

Mas o consumidor talvez não queira comer plantas e animais tratados pela indústria química ou pela genética. O custo da tecnologia da “agricultura inteligente” pode ajudar a concentrar ainda mais a propriedade, pois pequenos agricultores sem acesso a mercados, crédito e educação teriam ainda menos como bancar a competição.

Um debate do Fórum Econômico Mundial para a América Latina procurou tratar desses problemas, na manhã desta quinta-feira (15), em São Paulo, em particular de inovação. Como todo seminário, a conversa foi inconclusiva, um tanto menos assim que se abriu o debate para a plateia.

Os brasileiros na audiência lembraram que uma alternativa de eficácia provada para melhorar a situação de pequenos agricultores é o cooperativismo, extenso em estados como Santa Catarina e Paraná.

Um brasileiro era o ex-ministro do Desenvolvimento do primeiro governo Lula da Silva e ex-presidente da Sadia Luiz Fernando Furlan. Os debatedores, nenhum deles representante de agricultores brasileiros, concordaram em grande parte com a solução que até então não tinham cogitado.

Além da conversa sobre como fazer com que pequenos agricultores tenham acesso a recursos técnicos e a canais de distribuição, discutia-se o problema de como aumentar a produção sem causar ainda mais danos climáticos, os quais por sua vez encarecem e dificultam a produção agrícola.

Mauricio Adade preside a DSM América Latina, produtora de insumos para a indústria de alimentos e rações, que desenvolve o inibidor de metano para bovinos, talvez à venda no ano que vem. No debate, era um entusiasta da inovação e do investimento regular em pesquisa, faça chuva ou sol na economia.

Svein Tore Holsether, que preside a Yara, grande multinacional norueguesa de fertilizantes, acredita em “agricultura inteligente”, claro, mas diz que é preciso ouvir o pequeno agricultor e suas necessidades. Seguem-se então histórias sobre o sitiante africano e o plantador de limão na Tailândia.

Como pequenos agricultores podem ter acesso a tecnologia se nem acesso a mercados eles têm? Era a questão de Patrick Struebi, fundador e presidente da empresa social Fairtrasa, que procura integrar a pequena agricultura sustentável ao mercado internacional.

Não adianta muito a inovação tecnológica chegar à agricultura se o consumidor não quiser saber dos produtos dessas fazendas mais tecnológicas, diz Marcos Medina, fazendeiro e ministro da Agricultura do Paraguai. Seu país tem crescido muito rapidamente e se tornou um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. Se o consumidor não quer produto geneticamente modificado, por exemplo, o fazendeiro tem um problema.

De resto, diz o ministro, não há condições de implementar tecnologia se não há educação ou crédito para os pequenos fazendeiros. Para piorar, em particular na América Latina, há oposição política ao uso de tecnologia na agricultura, pequena ou grande, observa Medina, com desgosto aparente. É preciso fazer mais campanhas de comunicação sobre genética e tecnologia no campo, acredita.

Sim, diz Struebi, da empresa social: o consumidor mais e mais vai querer saber do que e como é feita a comida que come, em termos tecnológicos, sociais, trabalhistas e ambientais.

Fonte: Folha de São Paulo, adaptada pela Equipe BeefPoint.

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