O Brasil se destaca na produção de bovinos devido ao seu enorme rebanho, sendo internacionalmente reconhecido como o principal exportador de carne bovina. Para falar um pouco sobre este cenário Dr. David W. Bohnert, diretor do “Eastern Oregon Agricultural Research Center – EOARC”, centro de pesquisa na produção de bovinos de corte da “Oregon State University – OSU”, em Burns – Oregon, EUA, nos conta um pouco sobre sua visão em relação à produção bovina brasileira e seu relacionamento com instituições de ensino e pesquisa do Brasil.
Dr. David Bohnert e Rodrigo Araújo de Souza
Eastern Oregon Agricultural Research Center
Quando questionado sobre a produção de bovinos de corte brasileira ele disse que é uma questão complexa, uma vez que as coisas estão funcionando, os produtores conseguiram chegar a um nível de produção que colocou o Brasil como um dos principais fornecedores de carne para o mundo. Mas destaca que podemos melhorar em alguns pontos como a taxa de prenhez, idade de abate, uso de dietas com alta energia (confinamento) e manejo dos ecossistemas. E conclui que o Brasil pode melhorar a produção investindo em pesquisa.Devido à sua atividade científica, Dr. Bohnert tem contato com universidades brasileiras como a USP, UNESP e UEM, trabalhando em parceria com alguns professores. Ele ressalta o potencial de crescimento do Brasil na pesquisa agropecuária, que estamos formando bons pesquisadores e temos muitos recursos e investimentos na pesquisa, e que deveríamos trabalhar mais em programas de extensão e melhor a infra-estrutura para pesquisa.
Em relação à produção de bovinos norte-americana, Dr. Bohnert ressalta como pontos fortes o aproveitamento do rebanho. Ele coloca que, com um menor número de matrizes os EUA conseguem produzir mais carne que o Brasil e que isso se deve ao uso de tecnologia na produção. “Os EUA investiram no aumento da produção por matriz através da habilidade de realizar pesquisas e estudos voltados para o campo, boa genética, utilização de milho (relembrando as dietas de alta energia) e abate aos 15-17 meses”.
Como fragilidades do sistema norte-americano ele coloca a pouca utilização de inseminação artificial, alto preço do milho (agora destinado para a produção de etanol), longas distâncias que o gado deve viajar até chegar às áreas de confinamento e abate. Ele também acredita que se a indústria de insumos e frigorífica estivessem mais unidas a cadeia como um todo seria favorecida.
Durante a entrevista, Dr. Bohnert levantou a importância da raça Nelore no Brasil, porém ressaltou a necessidade de investirmos em cruzamentos com raças de melhor aptidão para ganho de peso e qualidade de carcaça através do uso de inseminação artificial e sincronização das vacas. Outro aspecto conversado foi sobre a utilização de beta-agonistas e implantes hormonais, os quais favorecem o desempenho dos animais.
Ele compreende as restrições que os produtores brasileiros possuem sobre o uso de algumas dessas tecnologias devido às exportações para a União Europeia, entretanto diz que essas tecnologias são seguras e que não entende como existem pessoas no Brasil passando fome e nossos produtores restritos à utilização destas tecnologias que podem aumentar a produção de alimentos. Segundo Dr. Bohnert, deveríamos utilizar dessas tecnologias para atender o mercado interno.
Rebanho da EOARC – Eastern Oregon Agricultural Research Center
Rebanho da EOARC – Eastern Oregon Agricultural Research Center
Outro aspecto conversado foi sobre a melhoria na produção a pasto, deveríamos aproveitar melhor os nossos recursos integrando as produções de várias espécies animais, como bovinos, ovinos e caprinos, desta forma teríamos um ganho na produção de carne. Segundo o pesquisador, a produção integrada das criações são complementares na utilização dos recursos disponíveis.
Como mensagem final aos nossos produtores, Dr. Bohnert diz que o momento do Brasil é muito excitante e que temos um enorme potencial para crescimento e que não devemos ter medo da tecnologia. Para os nossos pesquisadores, a mensagem foi que devemos encorajar os produtores e a indústria a usufruir da tecnologia e principalmente investir em educação.
Instalações do confinamento da EOARC
Instalações do confinamento da EOARC
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A entrevista foi realizada por Rodrigo Araujo, que mora nos EUA atualmente.