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Conheça Cora Coralina, a poeta homenageada pelo Google

O Google celebrou neste domingo, com um doodle, o 128º aniversário da poeta brasileira Cora Coralina (1889 – 1985), uma das mais importantes escritoras brasileiras.

https://www.google.com/doodles/cora-coralinas-128th-birthday

Conheça mais sobre a poeta do Cerrado brasileiro.

Infância

Anna Lins dos Guimarães Peixoto (Aninha/ Cora Coralina) nasceu em 20 de agosto de 1889, na cidade de Goiás3, antiga Villa Boa de Goyaz e capital do estado de Goiás até 1937, na Casa Velha da Ponte, às margens do Rio Vermelho.

Com menos de dois anos, a menina ficou órfã de pai, e a mãe, com três filhas para criar, viúva, passou por momentos difíceis. Proprietária de escravos e terras, a família viu-se em dificuldades financeiras pela falta de mão de obra nas fazendas devido à abolição da escravatura e empreendimentos mal sucedidos. Dessa forma, mudaram-se em 1900 para a fazenda do pai de sua mãe, alugaram a casa e venderam muitos bens para sobreviver.

Cora sofreu grande influência da mãe, Dona Jacynta, na personalidade forte e libertária da filha. Era lutadora, trabalhou para sobreviver, apreciava a leitura de livros e jornais e integrou a Federação Goiana para o Progresso Feminino, tornando-se a primeira goiana a requere sua inscrição como eleitora.

O mundo da leitura e da escrita abriu-se a Cora através das aulas de sua madrinha e também professora particular, Silvina Ermelinda Xavier de Brito, a quem dedicou um de seus livros. Sem ensino formal, ela estudou apenas dois ou três anos, não se sabe ao certo, com a professora citada, abrindo-se um mundo de possibilidades. A leitura e a vida na fazenda foram uma fuga encontrada para seus dissabores. Um tempo livre para ler, escrever, ter contato com a natureza.

Paixão pela escrita

Foi na Fazenda Paraíso que a poetisa encontrou inspiração para começar a escrever suas primeiras crônicas. Optou pelo pseudônimo Cora Coralina, “escolhendo um codinome para se revelar”, destacam os autores de “Cora Coralina: raízes de Aninha”, enquanto autoras e autores escolhiam nomes para se esconder.

Entre as tentativas de entender o pseudônimo, “é importante reconhecermos que na mitologia grega Cora era o nome de Perséfone, que representava as mudanças na natureza e era a deusa da agricultura, da fecundidade, dos trigais e das colheitas”.

No entanto, conforme Cora, o nome foi escolhido porque na cidade havia muitas “Anas”, em homenagem à padroeira local, Sant´ Ana. Ela não queria ser mais uma “Ana”. Explicava que “Cora” vem de coração e “Coralina” significa a cor vermelha, Cora Coralina seria coração vermelho.

Com a volta da família a Casa Velha da Ponte, em 1905, Coralina teve a oportunidade de vivenciar um rico período intelectual da cidade de Goiás, quando inclusive a escrita de autoria feminina foi estimulada. Entre os 16 e 21 anos, destacou-se como escritora, conferencista, declamadora e jornalista.

A criação do jornal “A Rosa”, editado a partir de 1907 por quatro jovens escritoras, dá uma mostra da efervescência cultural local e abertura para a escrita feminina.

Cora Coralina foi redatora da publicação por um tempo, participando dessa empreitada intelectual ao lado de escritoras prestigiadas e intelectuais da região. No entanto, como para muitas mulheres de sua época, estava reservado para ela um espaço menos público e mais privado, o casamento e a constituição de uma família.

Indo embora de Goiás

“Meus anseios extravasaram a velha casa. Arrombaram portas e janelas, e eu me fiz ao largo da vida. Andei por mundos ignotos e cavalguei o corcel branco do sonho”.

Diante da dificuldade econômica e pouco estímulo familiar, Cora Coralina rendeu-se ao casamento. Apaixonou-se por Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, chefe de polícia do estado. Resolveram viver juntos, mas longe da terra natal porque Cantídio era separado da esposa, havendo certo preconceito com a união.

Dessa forma, mudaram-se para Jaboticabal, no estado de São Paulo, no início do período áureo do café na região. Ela tinha 22 anos e estava grávida. Do casamento com Cantídio nasceram outros filhos, dos sete criou cinco, dois morreram.

Além da família, Cora continuava escrevendo, apesar de guardar grande mágoa do marido ciumento, ele geralmente não a deixava publicar seus escritos. Em 1929, mudou-se para a cidade de São Paulo, distanciando-se do marido na tentativa de garantir estudo para os filhos. Lá participou da Revolução Constitucionalista de 1932, alistando-se como enfermeira.

Viúva em 1934, começou um novo período em sua vida de luta pela sobrevivência dela e dos filhos. Abriu uma pensão, vendeu livros da editora José Olympio. Mudou-se, novamente, para a cidade de Penápolis, São Paulo, em companhia da filha. Lá virou comerciante, fato raro para uma mulher na década de 1940, e depois dona de terras em Andradina.

O amor pela terra

“Amo a terra de um místico amor consagrado, num esponsal sublimado,/ procriador e fecundo./ (…) Minha identificação profunda e amorosa/ com a terra e com os que nela trabalham./ A gleba me transfigura”.

Para quem foi criada em quintal de pomares, à beira do rio e na Fazenda Paraíso, a terra era um espaço de liberdade e inspiração. Mesmo antes de comprar terras e começar a plantar algodão, Cora Coralina, morando em cidades do estado de São Paulo, vendeu plantas para a prefeitura arborizar a cidade de Jaboticabal e Penápolis.

A temática da natureza esteve sempre presente nos escritos de Cora Coralina, não apenas como exaltação, mas como crítica social à situação dos lavradores.

Também durante a ditadura militar apoiou a reforma agrária e os posicionamentos de D. Pedro Casaldáglia e D. Tomás Balduíno sobre o nascente movimento dos trabalhadores rurais sem terra, além de alertar sobre a falta de apoio aos trabalhadores rurais, que levava ao êxodo rural e à marginalização nas grandes cidades.

Por seu engajamento, foi eleita Símbolo da Mulher da Trabalhadora Rural pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) em 1984.

Mas as preocupações sociais de Cora Coralina não se restringiram à preservação ambiental e ao trabalhador rural. Ela posicionou-se publicamente e trabalhou por outras causas, como a dos idosos, das mulheres, das crianças, dos indígenas, dos pobres, dos presidiários e dos excluídos.

Chegou a fazer votos de franciscana em 1937. Dessa forma, conquistou admiração, respeito e muitas amizades ao longo dos anos passados fora de sua terra natal.

Volta para Goiás

“A minha terra, que sempre esteve presente ao meu emocional. Nunca me apaulistei, nunca deixei de ser mulher goiana e mais que tudo, mulher sertaneja, com todas as marcas de uma mulher sertaneja que me orgulho”.

Com os filhos criados, Cora Coralina resolveu voltar para Goiás inicialmente para resolver problemas de inventário familiar. Ela saiu de Goiás com 22 anos e voltou com 67, indo morar novamente na Casa Velha da Ponte.

Somente após esse período teve oportunidade de organizar seus escritos e enviá-los para publicação. As dificuldades naquele momento foram outras: era uma mulher, idosa, sem recursos, moradora do interior do país.

Sobre a publicação tardia da obra coralineana, vários foram os motivos, alguns já registrados aqui, como o casamento e as proibições do marido. Mas Clóvis Carvalho Britto e Rita Elisa Seda enumeram outras questões.

Havia dificuldade financeira na época de sua juventude para publicar, a família não a apoiava e duvidava de sua capacidade. Outro motivo seria o fato de Cora Coralina não ter escrito poesia no início de sua vida literária e sim prosa, enquanto a poesia era o gênero em evidência na efervescente Goiás de 1910.

Coralina encontrou uma liberdade de escrever ao longo dos anos, sem rigidez métrica e rítmica, com características épica e lírica, memorialística, exaltação ao trabalho e também com elementos eróticos.

Conseguiu publicar seu primeiro livro em 1965, “Poemas dos becos de Goiás”, pela editora José Olympio de São Paulo. Na obra, a autora retrata a vida das pessoas marginalizadas dos becos, locais periféricos e, ao mesmo tempo, indispensáveis à vida na cidade. Local dos pobres, das lavadeiras, das prostitutas, da gente humilde e sem voz, esquecida pela sociedade e pela literatura.

Na cidade onde nasceu, a poetisa apura sua escrita, mas não é bem recebida pela crítica e a intelectualidade, que obscureceram sua obra, dando maior destaque a sua idade. Diante das dificuldades para viver de literatura, Coralina rendeu-se à fabricação de doces para sobreviver.

Encantando pelo paladar

Uma tradição goiana há séculos, Cora Coralina começou a fabricar doces e comercializá-los, atividade aprendida com as mulheres da família e exercida entre os anos de 1965 a 1979. Os doces de laranja, figo, mamão, goiabada, banana, entre outros encantavam o paladar de quem provava. Dizia ter sido um tempo maravilhoso, quando se sentiu útil, forte e por ter dado exemplo para outras mulheres da cidade que não sabiam como ganhar dinheiro com o seu próprio trabalho.

Muitas das frutas vinham do pomar da Casa da Ponte. Os doces eram cuidadosamente feitos no fogão à lenha e em tachos de cobre, por isso faziam muito sucesso. Pessoas de várias partes do país iam à casa para comprar os doces de Cora Coralina, conversar e ouvi-la declamar poesias, contar casos.

O reconhecimento literário

Mesmo com mais de 70 anos e uma rotina pesada de trabalho, Cora Coralina continuou suas leituras, escrevia e acompanhava os acontecimentos literários. Até que, em 1970, mulheres escritoras goianas resolveram criar a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, convidando-a para ser uma das componentes. O reconhecimento público enfim começava.

A elaboração de um novo livro foi possível depois que Coralina teve que ficar um longo tempo convalescente após uma queda que ocasionou a fratura do fêmur. Uma segunda queda, cinco anos após a primeira, obrigou-a a abandonar os doces e dedicar-se exclusivamente à literatura.

A partir de 1975, Cora Coralina finalmente começou a receber a atenção merecida em todo o Brasil, sendo convidada para eventos literários e solenidades no estado de Goiás e muitas outras cidades no país, dando muitas entrevistas. Também foi laureada com diversos prêmios e recebeu o título de Drª. Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás em 1983.

Lançou seu segundo livro “Meu livro de cordel”, em 1976, uma segunda edição de “Poemas dos becos de Goiás”, no ano de 1978, “Vintém de cobre – meias confissões de Aninha”, em 1984; “Estórias da Casa Velha da Ponte” e o livro infantil “Os meninos verdes”, em 1985.

Cora Coralina morreu no dia 10/04/1985, aos 95 anos, por complicações de uma pneumonia, apesar de que, como poetizou Coralina, “não morre aquele/ que deixou na terra/ a melodia de seu cântico/ na música de seus versos”.

Frases

“Desistir? Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério. É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.

“Há muros que só a paciência derruba. E há pontes que só o carinho constrói”.

“Coração é terra que ninguém vê/ – diz o ditado./ Plantei, reguei, nada deu, não./ Terra de lagedo, de pedregulho,/- teu coração. Bati na porta de um coração./ Bati. Bati. Nada escutei./ Casa vazia. Porta fechada,/ foi que encontrei…”

“A estrada da vida pode ser longa e áspera. Faça-a mais longa e suave. Caminhando e cantando com as mãos cheias de sementes…”

“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.

“Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas. Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração”.

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

“Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma”.

“Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça”.

“Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista”.

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir”.

“A verdadeira coragem é ir atrás de seu sonho mesmo quando todos dizem que ele é impossível”.

“Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo”.

“Me esforço para ser melhor a cada dia. Pois bondade também se aprende”.

“Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade”.

“O saber se aprende com mestres e livros. A Sabedoria, com o corriqueiro, com a vida e com os humildes”.

“Não podemos acrescentar dias a nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias”.

Fontes: Doodle, Jornal Mulier – www.jornalmulier.com.br, El País, http://www.unievangelica.edu.br, UOL, compilada, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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