Monarquia, república ou anarquia na sua empresa familiar? – Por Fabio Matuoka Mizumoto
28 de outubro de 2016
Carne bovina a pasto: entenda como é comercializada pelos produtores americanos [Relatório Completo]
28 de outubro de 2016

Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio bate recorde de público e já confirma edição de 2017

captura-de-tela-2016-10-28-as-15-21-19O Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, que aconteceu nos dias 25 e 26 de outubro, foi marcado pela participação de aproximadamente 700 pessoas, o que superou até mesmo as expectativas dos organizadores. O evento reuniu mulheres de 12 estados, de todo o país, como Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais.

Segundo a Transamerica Expo Center, responsável pela promoção, organização e realização do evento, a meta inicial era receber até 500 participantes. Na reta final, até mesmo o espaço dedicado ao evento teve que ser reformatado para atender a demanda. Mesmo após o término do prazo das inscrições, os organizadores continuaram recebendo solicitações para a criação de uma “lista de espera” caso houvesse desistências.

“Nos cercamos dos principais players do agronegócio para oferecer o que há de mais atual no setor, em termos de conteúdo e profissionais. Um dos pontos altos, inegavelmente, foi a apresentação da pesquisa sobre o Perfil da Mulher do Agronegócio, que atraiu a atenção do público, dos patrocinadores e apoiadores do evento justamente pela seriedade e profissionalismo com que foi tratada, além dos parceiros envolvidos: a ABAG e a PwC. Ainda assim, ter um acréscimo de 40% no público estimado nos deixou duplamente satisfeitos. Primeiro, porque acertamos na proposta do evento que, de fato, agregou valor ao segmento. Segundo, porque tivemos a validação do mercado, que captou a mensagem que queríamos transmitir, que é a relevância feminina para o avanço inovador, rentável, sustentável e ético do agronegócio”, declara Alexandre Marcílio, Diretor da Transamerica Expo.

Com a validação do mercado e do público, o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio entra oficialmente para o calendário anual do setor. Ainda sem data prevista, já foi anunciada a próxima edição do evento, provavelmente no segundo semestre de 2017.

mlheres-2

Pesquisa

O objetivo do estudo, Perfil das Mulheres do Agronegócio, foi realizar o retrato e a realidade da mulher que atua na gestão de empreendimentos agropecuários, através de um mapeamento que identificasse formação acadêmica, perfil do negócio ou empreendimento rural, atuação no negócio, dificuldades e desafios encontrados, gestão de tempo entre trabalho e família e inserção no mundo digital.

Para se ter uma ideia da importância do assunto, segundo o IBGE (dados de 2010), a participação das mulheres no agronegócio e na renda familiar do campo é maior do que a das mulheres que vivem na cidade e representam, respectivamente, 42,4% e 40,7%.

A metodologia adotada foi a da pesquisa quantitativa, realizada com 301 mulheres responsáveis pela gestão ou produção agropecuária no país, e da qualitativa, com 9 mulheres com papel de destaque na gestão de empreendimentos agrícolas, na produção de insumos agrícolas ou no manuseio da produção.

Já o método empregado para as entrevistas foi através de autopreenchimento de questionários online e com aplicação por telefone, ocorridos no período entre 10 de novembro de 2015 a 29 de abril de 2016.

Para as entrevistas em profundidade, qualitativas, foram abordadas mulheres atuantes da pecuária, da agricultura, da distribuição e de insumos. O contato foi individual e pessoal com o intuito de extrair informações profundas de perfil, dinâmicas do ingresso da atividade, realizações, metas, preocupações e dificuldades vividas ao longo da carreira, com foco sobre a diversidade de gênero no setor do agronegócio.

A fase quantitativa contou com técnica híbrida para alcançar a amostra e utilizou abordagem via web e telefone, com listagens cedidas por Federações do setor, pela ABAG, listagens de proprietários agropecuários adquiridas no mercado e indicações de diversas fontes. Foi abordado um número de mulheres cinco vezes maior para se chegar até a amostra. Os 301 casos possuem uma margem de erro de 5% para cada dado relatado a 95% de coeficiente de segurança.

Foi apurado, na fase qualitativa, que as agricultoras e pecuaristas entrevistadas descendem de famílias produtoras no setor, enquanto que as executivas da área de insumo e distribuição vieram de famílias de imigrantes. As mulheres são líderes nos seus setores, reconhecidas e gregárias. E as que estão na gestão de propriedades agropecuárias têm bons resultados econômicos.

Na fase quantitativa, a amostra contemplou mulheres de todas as faixas etárias e raças, com idade média de 48 anos. 60% das mulheres ouvidas têm curso superior.

Entre os principais tópicos abordados sobre a entrada no agronegócio, foram observados 4 dinâmicas diferentes, sendo um tradicional e os outros três mais recentes. São eles: o Processo Familiar, quando a mulher se casa com outro agricultor e se mantém na atividade com comando compartilhado; a Herança Programada, que ocorre quando a mulher de uma família de agricultores adquire formação em agronomia ou similar para retornar ao negócio; a Herança não Programada, quando a mulher tem outra atividade, geralmente em um grande centro, e recebe a propriedade como um desafio profissional; e as Executivas, pioneiras em empresas do agronegócio.

No Processo Familiar, as mulheres entendem que a sua participação é importante, mas nem sempre se colocam como proprietárias ou decisoras. Têm origem de família tradicional no setor por várias gerações e suas vidas pessoais são construídas paralelamente com a atividade agropecuária.

Já na dinâmica Herança Programada, o retorno é programado pela herdeira e não necessariamente é apoiada pela família. A decisão geralmente é da herdeira; Ela faz seus cursos para contribuir com a produção, além de desenvolver planos para atuar no negócio dos pais. Vislumbra novas possibilidades na operação, no cultivo, na criação e na organização do negócio. Está bastante conectada com o que se passa no mundo em relação à sua atividade e algumas se ressentem em sair do círculo de um grande centro.

A categoria Herança não Programada compreende a mulher sem preparo e conhecimento da gestão, mas que aceita o desafio e procura consultores para auxiliar no planejamento, operação e comercialização. Além disso, quer sempre fazer o melhor e inovar. Não se intimida se outros não aprovarem sua proposta de mudança e priorizam o trabalho, em detrimento da vida pessoal.

As executivas enfrentaram grandes desafios nas suas áreas, muitas vezes inéditos para mulheres naquela época. Os maiores estão relacionados à conciliação entre a vida pessoal e a profissional. Apesar de pertencerem à cadeia do agro, trazem pouca referência aos agricultores e pecuaristas na sua carreira.

Entre tantos outros aspectos, o que se observou, segundo a Fran6, foi o surgimento de uma nova mulher no agronegócio, mais preparada, conectada e instigante. Além disso, são atuantes do cenário nacional, abertas à inovação e tecnologia, com visão holística e bastante comunicativa. A principal tendência foi a possibilidade de mudar o setor.

Papel efetivo

As mulheres têm papel efetivo na organização e estruturação do patrimônio das propriedades rurais, participam das grandes decisões e são bem-sucedidas na área de gestão. A avaliação é da chefe do Departamento de Educação Profissional e Promoção Social (DEPPS) do SENAR, Andréa Barbosa Alves, ao conhecer o resultado da pesquisa.

Para Andréa o que mais chama a atenção nas mulheres do agro é o investimento em capacitação continuada. “Elas querem produzir bons resultados e padrão na produção, mas também pensam na equipe como comunidade porque convivem com as famílias que estão dentro da propriedade rural. Elas são agregadoras, detalhistas, se preocupam com o bem-estar animal”.

Durante o evento, Andréa e a Coordenadora Técnica do Programa CNA Jovem, Fernanda Jackeline Nonato, também conheceram de perto a história de mulheres que fazem a diferença no setor agropecuário brasileiro. Ela conta que muitas produtoras receberam a propriedade rural como herança e já estavam inseridas no processo de sucessão, a herança programada. Outras tinham familiares na propriedade rural, mas deixaram o campo para estudar na cidade e, depois, precisaram voltar para assumir a gestão da propriedade. Além das representantes de Brasília, Andréa e Fernanda, estavam presentes no congresso técnicas de algumas regionais do SENAR e uma participante do CNA Jovem 2016, Talitha Tábatha do Ceará.

A coordenadora do CNA Jovem diz que participar desse tipo de evento e a rede de contato que proporciona é oportunidade riquíssima. “ Afinal, tínhamos ali várias mulheres que são ícones dentro do setor e que tem muito a contribuir para o nosso programa e as demais ações de continuidade na Rede CNA Jovem. Isso nos faz perceber o quanto as mulheres do setor, das mais jovens as mais experientes,  estão sedentas por conhecimento e o quanto elas valorizam as oportunidades, as tendências de gerenciamento e a inovação”, declara Fernanda.

As mulheres geralmente são mais sensíveis, abertas a inovações, possuem visão sistêmica dos processos e têm grande capacidade de transformação e buscam constantemente a qualidade. De acordo com a pesquisa sobre o perfil da mulher do campo, essas características também se aplicam às produtoras rurais. O levantamento aponta que, das 300 entrevistadas, 57% participam ativamente dos negócios rurais; 2/3 são casadas e têm filhos; 88% se consideram independentes financeiramente; 60% tem curso superior completo e 55% acessam a Internet diariamente.

mlheres-1

71% das mulheres do agro já se sentiram discriminadas pelo gênero

A pesquisa aponta que 71% delas já sentiram o machismo na lida rural. Entre as principais queixas estão não serem levadas a sério pelos seus funcionários (43%), resistência da família ao se interessarem pelo negócio (41%), dificuldade em terem um relacionamento estável por serem trabalhadoras (24%) e até a solidão em um ambiente majoritariamente masculino (27%).

Além disso, 67% das mulheres do agro não sentem que o espaço dado a elas é igual ao dos homens. Elas também foram unanimes sobre a não necessidade dos homens se reafirmarem todo o tempo no trabalho, ao contrário de como se sentem as mulheres. “O mundo ainda desconhece a capacidade da mulher e temos que deixar isso mais claro”, disse a pesquisadora Adélia Franciscini.

Como conclusões, a pesquisa apontou que a mulher do agro hoje é bem diferente do passado, ou seja, busca seu espaço, procura se profissionalizar e tem uma visão holística do campo. Mas ainda há grandes batalhas pela frente: segundo o último censo agropecuário do IBGE, de 2006, apenas 1 em cada 10 das pessoas que trabalham no agronegócio é mulher. “São mulheres antenadas e competentes, e a tendência é que elas sejam mais presentes e se tornem peças fundamentais para mudar o setor”, finalizou Franciscini.

Fontes: SENAR, Dino Globo Rural, adaptada pela Equipe BeefPoint.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress