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Conceitos sobre sincronização de receptoras

Por Renato Valentim1 e Leandro Gofert2

A transferência de embriões (TE) e Fecundação in vitro (FIV) são tecnologias de multiplicação de fêmeas de genética superior, que junto à inseminação artificial, geram um rápido progresso genético nos rebanhos bovinos, fazendo parte da realidade de inúmeras fazendas tecnificadas.

Contudo a TE e FIV, dependem de animais que desempenhem a função de receptoras (barrigas de aluguel), emprestando seu aparelho reprodutor para a produção de um bezerro de genética superior.

As receptoras são animais comuns, mas que devem ter como características desejáveis: habilidade materna, fertilidade e rusticidade. Também devem ser submetidas a um intenso controle sanitário. Obter e manter uma grande quantidade de animais nessas condições é, sem dúvida, um grande obstáculo para a massificação da técnica, tanto pelo valor desses animais quanto pelos custos de alimentação e dos procedimentos sanitários.

O aumento da demanda por receptoras levou ao surgimento de fazendas denominadas: Centrais de Receptoras, que são propriedades especializadas na recria e preparação de fêmeas, destinadas à venda como receptoras prenhes de embriões transferidos.

Assim, viabiliza-se hoje uma parceria entre essas duas categorias de criadores, onde um fornece o material genético superior (embriões), e o outro se especializa em disponibilizar receptoras para esses embriões.

Para obter lucro, o proprietário da central precisa gerar o maior número de prenhezes no menor tempo possível, ou mais que isso, uma grande proporção de receptoras prenhes todo mês em relação ao total de fêmeas mantidas no rebanho, o que significa que esses animais devem permanecer o menor tempo possível na propriedade para não gerar custos.

Técnicas de sincronização de receptoras

Método tradicional (prostaglandina)

A sincronização de receptoras é fundamental à TE. Sem ela seria necessário um número elevadíssimo de receptoras para o uso do cio natural ou o congelamento rotineiro dos embriões. No primeiro caso o custo de manutenção dessas fêmeas seria imenso, e no segundo haveria uma grande diminuição das taxas de prenhez dos embriões.

Existem várias técnicas de controle do ciclo estral para sincronização de receptoras, dos mais antigos, à base de prostaglandina aos mais modernos protocolos, que associam vários fármacos.

O primeiro fármaco desenvolvido foi a prostaglandina (PG), utilizado para lisar o corpo lúteo (estrutura ovariana que secreta progesterona), gerando um encurtamento no ciclo dos animais, e sincronizando o aparecimento do cio em um intervalo entre 24 e 72 horas após a aplicação. Essa técnica gera resultados limitados, pois:

  • Somente animais que tiverem corpo lúteo responderão à PG.
  • Animais que não estejam ciclando (anestro), ou com menos de 5 dias pós ovulação não responderão à PG.
  • A PG pode lisar o corpo lúteo, mas o cio pode não ser detectado (cio silencioso ou falha de observação)
  • O manifestação do cio após a PG, pode não ser sincrônico com a doadora, inviabilizando a utilização de muitas receptoras tratadas.

Pesquisas e dados de campo demonstram que, em média, 40% das fêmeas tratadas com PG são consideradas aptas a receber embriões. Essa técnica de sincronização, portanto, deve ser utilizada em um grande número de receptoras para se obter a quantidade necessária, cerca de 15 a 20 por doadora.

Por exemplo, se temos 5 doadoras, e considerarmos uma média de 6 embriões por coleta isso significa que necessitaremos de 30 receptoras aptas a receber embrião, isto é: cerca de 75 animais tratados. Dessa maneira, o número de fêmeas será alto, assim como o nível de ociosidade do rebanho e os custos de manutenção, diminuindo a lucratividade da central.

Método moderno (TETF: P4; PG ; eCG)

Novos protocolos para melhorar o aproveitamento das receptoras foram desenvolvidos nos últimos anos. Os mais modernos utilizam o conceito de sincronização do crescimento folicular e da ovulação. Esses protocolos, utilizam dispositivos liberadores de progesterona associados a prostaglandina, estrógeno e eCG. As vantagens dessas técnicas são:

  • Alto grau de aproveitamento de receptoras.
  • Grande sincronização entre doadora e receptora
  • Permitem a utilização de fêmeas em anestro
  • Aumento da fertilidade (em função da melhora da qualidade do corpo lúteo e aumento da progesterona induzidos pelo eCG

Vários trabalhos mostram um aproveitamento de 80 a 90% das receptoras tratadas por esses protocolos. Assim, no exemplo anterior, para termos 30 receptoras aptas para receber os embriões, utilizando o método TETF, necessitaríamos apenas de 38 receptoras tratadas, ou cerca da metade do que é usado quando se sincroniza com prostaglandina. Outra grande vantagem, principalmente quando falamos de embriões de alto valor, é o aumento das taxas de fertilidade das receptoras submetidas e esse tipo de tratamento.

Conclusões

A implantação desse tipo de tecnologia necessita de um investimento maior em produtos, entretanto, o resultado é amplamente favorável, levando-se em conta a economia na compra e no custo de manutenção dos animais e os ganhos de fertilidade. A intensa procura por produtos e por informação sobre esses programas mostra que os produtores já perceberam essas vantagens.
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1Renato Valentim é médico veterinário, doutorando em reprodução animal e diretor técnico da Tecnopec

2Leandro Gofert é médico veterinário do departamento técnico da Tecnopec

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