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Comportamento maternal de vacas de primeira cria exige manejo diferenciado

O período imediatamente após o parto é de primordial importância para a relação entre mãe e cria. Geralmente, depois de parir as vacas iniciam o comportamento de cuidados com seus bezerros. Esses cuidados podem acontecer quando existe íntimo contato entre mãe e bezerro, como é o caso de lamber, que ajuda a eliminar os resíduos fetais presentes nas narinas da cria, ativar a circulação, diminuir a perda de calor pela evaporação e promover o imprinting entre eles. Ou ainda apresentam outro comportamento sem contato físico com o bezerro, como é o caso da ingestão de placenta, que ajuda a diminuir o número de predadores na área onde se encontra a cria, e também o de espantar os que aí surgirem. Porém, nem sempre a relação materno-filial terá êxito. Problemas de diversas ordens, como falta de experiência da vaca, falta de procura de tetas pelo bezerro, manejo, entre tantos outros, parecem resultar em fracasso na mamada (Paranhos da Costa, 1998 e Toledo, 2001).

No sistema de produção de bovinos de corte, a seleção de reprodutoras leva em conta sua capacidade de parir um bezerro em cada estação reprodutiva, bem como conseguir desmamá-lo, oferecendo alimento, proteção e aprendizado durante o período em que convivem juntos. Ao analisarmos o comportamento maternal de vacas primíparas e pluríparas, deparamos com maiores problemas nas vacas de primeira cria, que apresentam um comportamento que definimos como falta de experiência ou imaturidade.

Nossos estudos mostraram que elas permitem com maior freqüência que outras vacas toquem em suas crias (46,67% contra 23,19% das vacas de segunda ou mais crias). Esse contato feito por outras fêmeas levam à uma deficiência na relação mãe e cria que deve ser estabelecida logo após o nascimento, podendo chegar até a rejeição do bezerro pela mãe. Freqüentemente, as fêmeas no peri-parto sentem atração por recém-nascidos, e caso a mãe não espante outra que se aproxima (o que é muito comum nas vacas de primeira cria), esta pode acabar ficando com o bezerro da outra, resultando em troca de bezerros e abandonos, causando problemas na escrituração zootécnica e tempos extras dispensados ao manejo, como apartação da fêmea com a cria ou em últimos casos, onde ela não mostra mais interesse, será necessário fazer a adoção.

Os movimentos que atrapalham o acesso ao úbere (60% de vacas primíparas contra 17,39% de vacas pluríparas), levam a um atraso na ingestão do colostro, primordial para a obtenção das imunoglobulinas que vão conferir imunidade ao bezerro. Além da imunidade passiva, é importante para a obtenção de carboidratos, lipídeos, proteínas, minerais e vitaminas, além de conter hormônios e fatores de crescimento que ajudarão no desenvolvimento do trato gastrointestinal dos neonatos (Blum e Hammon, 2000). Com isso, o tempo que o bezerro leva para realizar a primeira mamada tem-se mostrado maior para as primíparas do que para pluríparas, 116,00+-40,65 e 75,30+-44,60 minutos, respectivamente.

Considerando que a habilidade maternal é passível de experiências e amadurecimento fisiológico, devemos oferecer um ambiente mais controlado para as fêmeas de primeira cria, onde possamos detectar qualquer problema que possa ocorrer, desde rejeição da cria, roubo por outras fêmeas até a impossibilidade de mamada do bezerro. Acreditamos que esse ambiente de parição de primíparas deve ser diferente do ambiente preconizado para as outras fêmeas, sendo um pasto de fácil visualização para a rotina de acompanhamento de partos.

Referência Bibliográficas

BLUM J.W., HAMMON, H., 2000. Colostrum effects on the gastrointestinal tract, and on nutritional, endocrine and metabolic parameters in neonatal calves. Livestock Production Science v. 66, p. 151-159.

PARANHOS DA COSTA, M.J.R., CROMBERG, V.U., 1998. Relações materno-filiais em bovinos de corte nas primeiras horas após o parto. In: Comportamento Materno em Mamíferos (Bases Teóricas e Aplicações aos Ruminates Domésticos). (Eds. M.J.R. Paranhos da Costa, V.U. Cromberg). São Paulo: Sociedade Brasileira de Etologia, p. 215-235.

TOLEDO, L.M., 2001. Relações materno-filiais em bovinos de corte nas primeiras horas após o parto: efeitos ambientais. Dissertação de mestrado apresentado a FZEA/USP.

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