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Como melhorar a eficiência reprodutiva de vacas em anestro – Capítulo III: uso de eCG

Como vimos nos artigos passados, a vaca necessita de adequada quantidade de energia para suprir o metabolismo basal, o crescimento, a lactação, a manutenção da saúde e, ainda, a função reprodutiva. Com base nestas observações, neste segundo artigo discutiremos o uso da eCG como ferramenta para diminuir problemas relacionados ao anestro pós-parto.

Como vimos nos artigos passados, a vaca necessita de adequada quantidade de energia para suprir o metabolismo basal, o crescimento, a lactação, a manutenção da saúde e, ainda, a função reprodutiva.

Fêmeas bovinas durante o período pós-parto apresentam período variável de anestro. Esse período pode ser influenciado por diversos fatores, como a amamentação, o contato vaca-bezerro, a baixa condição corporal, as doenças puerperais, dentre outros, que podem acarretar em prolongamento do período de anestro dessas fêmeas.

Com base nestas observações, neste segundo artigo discutiremos o uso da eCG como ferramenta para diminuir problemas relacionados ao anestro pós-parto.

Uso da eCG

Estudos utilizando a eCG têm demonstrado aumento nas taxas de prenhez de vacas lactantes no pós-parto e que apresentam alta incidência de anestro. Em um desses estudos, no qual foi avaliada a condição ovariana dos animais tratados, constatou-se o efeito positivo da eCG, especialmente em vacas em anestro (Tabela 1).

Tabela 1. Taxa de prenhez à inseminação artificial em tempo fixo conforme classificação da funcionalidade ovariana de vacas Nelore lactantes tratadas com dispositivo intravaginal de progesterona (DP4) associado ou não ao tratamento com eCG na retirada do dispositivo (Dia 8; Adaptado de Baruselli et al., 2003)


Ainda, um estudo posterior (Baruselli et al., 2004) demonstrou o efeito do tratamento com eCG em função da condição corporal dos animais no momento do início do protocolo de sincronização da ovulação. Nesse experimento, analisou-se o efeito do escore de condição corporal (ECC) no início do tratamento (escala 1-5) sobre a taxa de concepção dos animais (Gráfico 1).

Como pôde ser notado, o tratamento com eCG somente aumentou a taxa de prenhez nos animais que apresentavam baixo ECC (≤ 3). Em animais com satisfatória condição corporal (> 3) não foi verificado efeito positivo do tratamento com eCG na taxa de concepção. Sabemos que a condição corporal está freqüentemente relacionada à ciclicidade. Assim, animais com boa condição corporal apresentam alta taxa de ciclicidade, o que dispensa o tratamento com eCG.

Gráfico 1. Taxa de concepção de vacas Nelore lactantes (n=1.984) tratadas com ou sem eCG no momento da retirada do dispositivo intravaginal de progesterona conforme o escore de condição corporal (Adaptado de Baruselli et al., 2004)


Complementarmente, um outro estudo avaliou o efeito da eCG em diferentes períodos pós-parto (PPP) de vacas Nelore lactantes submetidas a protocolos para IATF a base de progestágeno e estrógenos (Rodrigues et al., 2004). Os resultados mostraram que o tratamento com eCG, no momento da retirada do implante auricular de Norgestomet, aumentou a taxa de concepção após a IATF em vacas de corte recém-paridas (Gráfico 2).

Gráfico 2. Percentagem de vacas prenhes segundo o período pós-parto (PPP) e o uso de eCG (a,b no mesmo PPP, P < 0,05; Adaptado de Rodrigues et al., 2004)


Com base nestes dois últimos resultados um terceiro estudo avaliou o efeito da eCG no protocolo de IATF em 3 diferentes períodos pós-parto (PPP) em vacas Nelores lactantes com baixo (< 3,0) ou alto (≥ 3; escala de 1 a 5) ECC (Ayres et al., 2007). Nesse experimento, os animais com PPP de 30 a 59 dias (n=427) compuseram o grupo P30-59, animais com PPP de 60 a 79 dias (n=256) formaram o grupo P60-79 e animais com PPP de 80 a 99 dias (n=194), o grupo P80-99 (Gráfico 3). Os resultados demonstram que o tratamento com eCG, no momento da retirada do implante de progestágeno, no período pós-parto precoce (PPP entre 30 e 59 dias) promoveu taxas de concepção superiores a 45%, independentemente do ECC. Porém, quando iniciamos o protocolo de IATF em vacas com PPP superior a 60 dias, o uso da eCG se tornou necessário apenas em animais que apresentavam baixo ECC (< 3,0; escala de 1 a 5). Gráfico 3. Percentagem de vacas prenhes segundo o período pós-parto (PPP), escore de condição corporal e o uso de eCG (a,b,c no mesmo PPP, P < 0.05; Adaptado de Ayres et al., 2007)


Em conclusão, estes dados (juntamente aos dados apresentados nos dois capítulos anteriores) mostram que é possível melhorar a taxa de prenhez em vacas de corte com baixa condição corporal e/ou em anestro e antecipar o primeiro serviço pós-parto com a utilização de técnicas de manejo e/ou de fármacos em programas de sincronização da ovulação para IATF.

Vale ainda lembrar que o aumento da taxa de concepção em animais tratados com eCG e desmame temporário pode estar relacionada ao incremento na taxa de ovulação e/ou ao aumento das concentrações plasmáticas de progesterona no diestro do ciclo estral subseqüente à IATF, que pode melhorar o desenvolvimento embrionário e a manutenção da gestação.

Deve-se ressaltar que a IATF não é uma técnica milagrosa, e, portanto, não é capaz de emprenhar vacas que estejam com algum problema reprodutivo e/ou nutricional severo. É importante também registrar que, o escore de condição corporal utilizado isoladamente, não é a melhor ferramenta para tomada de decisão, pois deve-se atentar para o fato de que animais em boa condição corporal (ECC=3, por exemplo) que estejam perdendo peso rapidamente, ou ainda que estejam em pós-parto precoce, tendem a ter piores resultados quando submetidos a programas de IATF.

Ainda, não podemos nos esquecer da qualidade do sêmen utilizado, pois de nada adianta realizarmos todo o programa de forma correta, corrigir possíveis erros nutricionais ou mesmo de manejo, se a concepção desta vaca for comprometida pelo uso de um sêmen de baixa ou má qualidade.

Portanto, pode-se concluir que existem diversos fatores capazes de influenciar os resultados em um programa de IATF, porém muitos deles podem ser controlados por um profissional atento e experiente, sendo o veterinário a pessoa mais indicada para essa função.

Referências Bibliográficas:

Ayres, H.; Marques, M.O.; Silva, R.C.P.; Rodrigues, C.A.; Ferreira, R.M.; Baruselli, P.S. Influência do uso de eCG em diferentes períodos pós parto e do escore de condição corporal na taxa de prenhez de vacas Nelore inseminadas em Tempo Fixo. Acta Scientiae Veterinariae 35(Suplemento 3), p.113, 2007.

Baruselli, P.S.; Madureira, E.H.; Marques, M.O.; Rodrigues, C.A.; Nasser, L.F.; Silva, R.C.P.; Reis, E.L.; Sá Filho, M.F. Efeito do tratamento com eCG na taxa de concepção de vacas Nelore com diferentes escores de condição corporal inseminadas em tempo fixo. Acta Scientiae Veterinarae 32 (suplemento), p. 228, 2004c.

Baruselli, P.S., Marques M.O., Nasser, L.F., Reis, E.L., Bo, G.A. Effect of eCG on pregnancy rates of lactating zebu beef cows treated with cidr-b devices for timed artificial insemination. Theriogenology, v. 59, n. 1, p. 214.2003.

Rodrigues, C.A.; Ayres, H.; Reis, E.L.; Madureira, E.H.; Baruselli, P.S. Aumento da taxa de concepção em vacas Nelore inseminadas em tempo fixo com o uso de eCG em diferentes períodos pós-parto. Anais da Sociedade Brasielira de Transferência de Embriões; 2004, abstr.

4 Comments

  1. Irezê Moraes Ferreira disse:

    Excelente artigo e serve muito para complementar os outros dois artigos aonde foram analisados as ferramentas de que dispomos para incrementar a eficiência reprodutiva de fêmeas em anestro.

    Muitas variantes devem ser analisadas em conjunto antes de implantarmos um protocolo de IATF em uma propriedade.

    Porém hoje vemos técnicos de nível médio ou até mesmo vendedores de sêmen se dispondo a implantar protocolos de IATF em propriedades sem nenhum conhecimento de reprodução. Achando que a IATF é uma técnica milagrosa e que tem indicação para emprenhar vacas com problemas reprodutivos, fazendo com que os maus resultados obtidos por pseudotécnicos venham a desacreditar uma boa técnica para melhorarmos os índices reprodutivos dos rebanhos.

  2. Henderson Ayres disse:

    Prezado Irezê Moraes Ferreira

    Muito obrigado pelos comentários pertinentes.

  3. Antônio Braga Neto disse:

    Só para parabenizar o Henderson, a Roberta e em especial ao Dr.Pietro pelo artigo, o bom momento da pecuária tem tudo a ver, mas sobretudo pela contribuição que tem dado à pecuária do Brasil através de estudos de novas técnicas e sua aplicabilidade na área de biotecnologia da reprodução.

    Parabéns!

  4. Kedson Alessandri Lobo Neves disse:

    Caro Henderson Ayres.

    Muito bom o seu artigo e da Roberta, a utilização de ECG é uma ferramenta válida para melhorar os índices reprodutivos e temos que avançar ainda mais para conseguirmos realmente consolidar a técnica.

    Abraços

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