Mercados Futuros – 20/05/08
20 de maio de 2008
Santa Vergínia vence Circuito Boi Verde em Bataguassú (MS)
23 de maio de 2008

Como melhorar a eficiência reprodutiva de vacas em anestro – Capítulo II: desmame temporário

Como vimos no artigo passado, uma das mais importantes habilidades da vaca é a capacidade de utilizar suas reservas energéticas corpóreas em períodos de balanço energético negativo. Foi mostrado também que há necessidade de adequada quantidade de energia para suprir o metabolismo basal, o crescimento, a lactação, a manutenção da saúde e, ainda, a função reprodutiva. Com base nestas observações, neste segundo artigo discutiremos o Desmame Temporário como ferramenta para diminuir problemas relacionados ao anestro pós-parto.

Como vimos no artigo passado, uma das mais importantes habilidades da vaca é a capacidade de utilizar suas reservas energéticas corpóreas em períodos de balanço energético negativo. Foi mostrado também que há necessidade de adequada quantidade de energia para suprir o metabolismo basal, o crescimento, a lactação, a manutenção da saúde e, ainda, a função reprodutiva.

Quando mantida sob condições favoráveis, uma fêmea tem potencial para produzir uma cria por ano, com intervalo entre partos de 12 meses. No entanto, durante o período pós-parto é comum as fêmeas apresentarem perdas de suas reservas corporais, o que pode ser verificado pela diminuição do escore de condição corporal (ECC). Essa queda do ECC pode afetar consideravelmente a eficiência reprodutiva. Ainda, nesse período, a amamentação e o contato vaca-bezerro podem prolongar o período de anestro dessas fêmeas.

Com base nestas observações, neste segundo artigo discutiremos o Desmame Temporário como ferramenta para diminuir problemas relacionados ao anestro pós-parto.

Desmame temporário

Pesquisadores sugerem que após o parto, as concentrações de FSH aumentam drasticamente em 5 dias e que, apenas após 15 a 30 dias pós-parto, os estoques de LH estejam efetivamente restabelecidos. Alguns outros fatores como presença do bezerro, idade, número de partos, efeito macho (presença de touro), atraso da involução uterina e distocias também podem influenciar a duração do anestro nesse período. No entanto, sugere-se que o estado nutricional e a amamentação possam ser os fatores mais importantes relacionados à inibição da ovulação pós-parto.

A amamentação é, de fato, um dos principais fatores que inibe a retomada da atividade sexual no período pós-parto, influenciando fortemente o desempenho reprodutivo de vacas de corte. Resultados de diversas pesquisas indicam que o desmame temporário é uma manobra capaz de induzir a retomada da pulsatilidade de LH e, com isso, promover o crescimento final do folículo dominante e a conseqüente ovulação.

Com o enfoque de aumentar a eficiência reprodutiva de bovinos e diminuir o período de anestro pós-parto, podemos utilizar tanto tratamentos hormonais para indução da ovulação quanto técnicas de manejo como desmame precoce (60 a 90 dias) ou interrompido (48 a 96 horas) ou, ainda, a restrição da mamada (uma ou duas vezes ao dia).

Técnicas de desmame têm apresentado efeitos positivos sobre a eficiência reprodutiva de matrizes, sendo que a utilização destas técnicas de manejo pode, de fato, axiliar a diminuição do intervalo entre partos dentro da bovinocultura de corte. Nesse contexto, Penteado et al. (2004) demonstraram o efeito do desmame temporário e do tratamento com eCG em animais submetidos à protocolos de sincronização da ovulação. Quando os efeitos principais foram analisados, verificou-se aumento na taxa de prenhez (P<0,05) tanto nos animais que receberam tratamento com eCG [55,6% (125/225)a vs. 42,2% (98/232)b] quanto naqueles em que foi realizado o desmame temporário [52,9% (120/227)a vs. 44,8% (103/230)b] em relação aos animais que não passaram por nenhum desses manejos (Gráfico 1). Os resultados indicaram que o desmame temporário foi tão eficiente quanto o tratamento com eCG (no momento da retirada do implante auricular) no incremento da taxa de concepção de vacas Nelore lactantes submetidas à IATF. Gráfico 1. Percentagem de vacas prenhes segundo a categoria (desmame ou eCG) (Adaptado de Penteado et al., 2004)


Em contrapartida, o grupo de pesquisa de Gabriel Bó (pesquisador do IRAC, Córdoba, Argentina) demonstrou que vacas em condição corporal muito baixa (<2,5 na escala de 1 a 5; Gráfico 2) não apresentaram melhora da eficiência reprodutiva quando submetidas ao desmame. Esse resultado nos leva a importante conclusão que, assim como outras técnicas, o desmame temporário também apresenta limitações no seu uso, as quais devem ser cuidadosamente consideradas no momento de tomada de decisão por manejos ou técnicas a serem utilizadas durante o período pós-parto para driblar o anestro. Gráfico 2. Percentagem de vacas prenhes segundo o escore de condição corporal e o uso do desmame temporário (Adaptado de Bó, G.A., comunicação pessoal)


Outra importante informação sobre a realização do desmame temporário está relacionada ao tempo de afastamento mãe e cria. Assim, deve-se observar o mínimo de 48 horas de apartação para que se possa obter aumento nos pulsos de LH e na eficiência reprodutiva de fêmeas de corte. Períodos de remoção do bezerro de 48 à 72 horas, têm se mostrado bastante eficientes na melhora do desempenho reprodutivo.

Outro ponto que deve ser levado em consideração diz respeito ao manejo necessário para a realização da desmama temporária, uma vez que a remoção do bezerro por um determinado período pode se mostrar bastante trabalhosa. Dessa forma, deve-se atentar para que os devidos cuidados sejam tomados e para que os métodos de manejo mais adequados sejam realizados em cada situação praticada, a fim de se evitar variações na resposta a essa técnica. Devemos ainda lembrar que o uso do desmame demandará quantidades variáveis de insumos, pois exigirá mudanças no manejo usual dos animais e fornecimento de alimentação adequada aos bezerros desmamados, para que não ocorra diminuição na taxa de crescimento destes.

Apesar de algumas limitações no seu uso, a remoção temporária do bezerro demonstra ser uma técnica de manejo razoavelmente simples e de custos relativamente baixos, sendo, portanto, uma boa alternativa para a melhora dos índices reprodutivos de fêmeas de corte, salvo algumas exceções.

Referência Bibliográfica:

PENTEADO, L.; AYRES, H.; REIS, E.L.; MADUREIRA, E.H.; BARUSELLI, P.S. Efeito DO eCG e do desmame temporário na taxa de prenhez de vacas Nelore lactantes inseminadas em tempo fixo. Acta Scienciae Veterinariae, v. 32, p. 223, 2004.

0 Comments

  1. Henderson Ayres disse:

    Prezado Walter Garcez de Carvalho

    Muito obrigado pela observação e colaboração.

  2. Rodrigo Martins Ferreira disse:

    Muito bom mesmo este artigo, faço a desmama temporária nas fazendas na qual fiz IA com observação do cio, usando o desmame T nas vacas de bezerros mais novos e que não entraram no cio normal, depois na IATF à ajuda do desmame temporário de 48/72 h.

    Os resultados foram ótimos 83%, as vacas estavam com bom ECC, mas eram vacas com mais de 10 anos.

  3. Wilmara Rampinelli Reuter Mota disse:

    Com quantos dias pós parto o bezerro deve ser separado da vaca por esse periodo de 48 a 72h? A aceitabilidade da vaca para com o bezerro apos esse periodo é boa?

    Em minha propriedade os bezerros ficam em locais separados e as vacas só são colocadas com eles de manhã e a tarde. Os resultados já melhoraram. Mas sempre é bom melhorar mais!

    Parabéns pelo artigo!

  4. Henderson Ayres disse:

    Cara Wilmara Rampinelli Reuter Mota

    Você poder fazer o desmame temporário quando se decidir pela IATF. No experimento do nosso grupo citado no texto, os animais estavam entre 50 a 60 dias de pós-parto.

    Parabéns pelos seus resultados.

  5. Antonio Roberto R. Mira Junior disse:

    Parabéns pelo artigo, e uma grande ferramenta, utilizamos bastante aqui em algumas fazendas Paraense, que utilizam o protocolo de IATF.

  6. Jean Pereira Tavares disse:

    Parabens Henderson Ayres, o artigo ficou otimo. Implantamos há quatro anos a técnica de estação de monta nesta fazenda aqui do TO e nos tres primeiros anos tinhamos um indice de média de 80%, mas acho que esse indice não era real, pois nestes anos estavamos aumentando plantel da fazenda e agora na estação de 2007/2008 fechamos com 64% de prenhez. Tivemos alguns problemas no ano de 2007, tais como atraso na desmama e uma seca mais prolongada, e apesar de conseguirmos manter o gado com um escore bom não conseguimos um indice melhor.

    Tambem a média de idade do gado abaixou por termos aumentado o plantel, principalmente com novilhas, estes fatores influenciam diretamente no indice de prenhez do nosso gado?

    Estamos pensando em implantar novas tecnicas e a desmama temporaria é uma de nossas ideias, essa tecnica pode nos ajudar a melhorar os indices da fazenda?

    E quais são os primeiros cuidados que devemos ter para implantar essa tecnica?

  7. Henderson Ayres disse:

    Prezado Jean Pereira Tavares

    A respeito das suas perguntas, novilha é uma categoria animal que quando esta ciclando e submetida a touro e/ou IA com observação de cio apresentam altas taxas de concepção (número de animais gestantes dentre dos animais inseminados). Porém, ainda não foi desenvolvido um protocolo de IATF para novilhas Nelore que possua regularidade de resultados, pois esta é uma categoria de animal que possue particularidades fisiológicas que devem ser levadas em conta. Outro ponto importantíssimo seria quanto ao grau de ciclicidade dos seus animais, pois se os mesmos forem tardios sexualmente, você terá queda nas taxas de prenhez.

    Outro ponto importante que deve ser levado em consideração seria que primíparas apresentam resultados inferiores em relação a vacas. Como o senhor relata estar trabalhando com gado mais novo, isto pode ter influenciado na sua taxa de prenhez.

    Os dados de literatura apontam que o desmame temporário é uma técnica que auxilia bem no incremento na taxa de prenhez, Porém você deve tomar alguns cuidados para implantar esta técnica, entre eles:

    Possuir um curral em boas condições para manter os bezerros;

    Oferecer alimento aos bezerros de boa qualidade e acesso à água;

    Ter boas condições de cerca na propriedade, pois as vacas tendem a querer ir atrás dos bezerros;

    Contabilizar que você poderá ter uma perda de peso tanto do bezerro, quanto da mãe;

    Estar preparado para o aumento do índice de diarréia após o desmame temporário, entre outros.

  8. Rogerio Eduardo de Souza Junior disse:

    Muito bom o artigo, parabéns.
    Gostaria de ter acesso ao artigo citado como referencia.

    Grato

  9. Henderson Ayres disse:

    Prezado Rogério Eduardo de Souza Junior,

    esta referência pode ser consultada através do site:
    http://www.ufrgs.br/favet/revista/SBTE.htm

  10. rodrigo Villela p Ferreira disse:

    Qual a sua opnião sobre o uso de tabuletas para que o bezerro não faça a mamada.

    Como informado no artigo, já fiz a retirada dos bezerros por 48 horas, confesso que tive problemas com a contenção das vacas. Quebra de cercas etc.

    Contudo continuo buscando uma forma de aumentar o indice de fertilidade.

  11. Henderson Ayres disse:

    Prezado Rodrigo Villela P. Ferrerira,

    Essa é uma prática que pode ser utilizada, trazendo alguns benefícios.

    O que devemos lembrar é que toda técnica tem pontos positivos e negativos, portanto devemos colocá-los na “balança” e verificar se vale à pena empregarmos ou não.

  12. Ataliba Perina Bueno disse:

    Muito bom o artigo.

    Parabéns.

  13. RUBICEL VIDAL disse:

    Muito bom o artigo.

    Sabe-se que animais criados em regiões tropicais apresentam comprometimento na atividade ovariana pós-parto devido ao inadequado conteúdo energético fornecido pelas pastagens. Que se reflecta nas fêmeas do ovários estáticos e lisos. O eCG administrado no dia 7, de protocolo crestas permitirá melhorar a taxa de prenhez nesses animais ainda mais.

  14. Henderson Ayres disse:

    Prezado Rubicel Vidal,

    A utilização da eCG no dia 7 implicará em um manejo a mais com os animais e terá efeito muito semelhante, portanto não vejo necessidade de alteração da data de administração da eCG.

  15. Leandro Facini Feitosa disse:

    Henderson Ayres, te parabenizo pelo ótimo artigo.

    Gostaria de saber se o estresse sofrido por essas vacas, principalmente as primíparas, devido o manejo do desmame mesmo sendo temporário, não aumentam o tempo de anestro ou interferem de alguma forma na reprodução destas?

  16. Aylton Cheroto disse:

    Parabens pelo artigo, extremamente instrutivo.

    Estou tentando voltar a IA, apos espaço de mais de vinte anos, devido ao insucesso por conta da mao de obra. Agora com IATF, vamos tentar.

  17. Gildo Cruz disse:

    Caro amigo Henderson Ayres, estou desenvolvendo um trabalho de conclusao de curso sobre condiçao de escore corporal, feito o analise antes do procedimento do protocolo pra IATF. sendo esse protocolo de 11 dias com a desmama temporaria de 48 horas. Pude observar que a bezerrada sofreu muito, alem disso aumentou os casos de diarreias. Teria uma maneira de evitar esse estresse no bezerro? Alem disso qual o índice de prenhês ideal de vacas multiparas, submetida a IATF?

    Obrigado.

plugins premium WordPress