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Commodities: Trigo alcança maior valor desde 2008 em Chicago

Em um dia em que a Rússia intensificou seus ataques à Ucrânia para dominar a capital Kiev, o mercado de grãos novamente reagiu e trigo e milho alcançaram novas máximas na bolsa de Chicago. Os dois cereais atingiram os limites máximos de alta para um único pregão e tiveram os negócios paralisados no início da tarde.

No caso do trigo, os papéis operaram nesta terça-feira dentro do limite de variação tradicional, de 50 centavos por bushel, uma vez que o gatilho para o limite estendido de 75 centavos não foi acionado.

Com isso, o contrato para maio, o mais negociado atualmente, subiu 5,35% (50 centavos de dólar), a US$ 9,840 o bushel — maior valor desde 2008 —, e passou a acumular valorização de 27% no ano.

Como se sabe, a guerra deixa o mercado de grãos preocupado com dois prontos principais. As sanções impostas a Moscou por europeus e americanos, que retiraram alguns bancos russos do Swift, podem impedir as transações comerciais e o fluxo de trigo, milho, óleos e fertilizantes.

A agência Bloomberg também acrescentou que empresas de seguros que operam com transporte de cargas já não geram novas apólices ou pedem prêmios elevados demais para os seguros de embarcações que navegam pela região.

Outro ponto de atenção são os portos dos dois países no Mar Negro e no Mar de Azov, que estão fechados e afetam o fluxo das commodities. “Apenas alguns embarques nos portos russos são observados em um contexto de navegação que se tornou muito perigoso em toda a bacia do Mar Negro”, disse a consultoria Agritel.

Ademais, a autoridade portuária da Ucrânia informou que a navegação no país só será retomada após o fim dos ataques russos. De acordo com a Reuters, importadores de grãos estão procurando fontes alternativas de trigo e milho, uma vez que a produção da Ucrânia está represada. Lotes da União Europeia, Romênia e França estão sendo usados para cumprir contratos, disseram traders à agência.

Rússia e Ucrânia respondem por quase 30% das exportações globais de trigo, pouco menos de 20% dos embarques de milho e pela grande maioria das venda externas de óleo de girassol.

Diante desses problemas, o milho para entrega em maio novamente alcançou a máxima diária permitida. O contrato, atualmente o mais ativo, subiu 5,07% (35 centavos de dólar), a US$ 7,2575 o bushel.

O suporte vem de diversas formas para o milho. O impacto direto ocorre porque a Ucrânia é o quarto maior exportador mundial do grão, sendo uma fonte relevante para a China. Inicialmente, estimava-se que os ucranianos seriam responsáveis por 16,4% do trade global nesta safra 2021/22.

O trigo também ajuda a puxar o milho, uma vez que um cereal pode substituir o outro na composição da ração animal. Além disso, o petróleo vem em forte escalada diante da importância da Rússia no fornecimento mundial. Com o barril do tipo Brent (a referência internacional) acima dos US$ 100, aumenta a competitividade do etanol americano feito de milho.

Por fim, a soja renovou sua máxima desde setembro de 2012 no pregão desta terça-feira em Chicago. O contrato com entrega para maio, o mais negociado atualmente, subiu 3,25% (53,25 centavos de dólar), a US$ 16,900 o bushel.

Embora os fundamentos da soja sejam consistentes por si só, o mercado também tem sido influenciado pelo conflito, em especial pelo óleo de soja.

Com o petróleo valorizado como está, sobem também os valores ofertados por combustíveis alternativos, como é o caso do biodiesel, que tem no óleo de soja seu principal insumo. Outro ponto é que o derivado tem forte procura no mercado de óleos vegetais.

Além disso, com o conflito impactando diretamente na oferta global de milho, a soja ganha estímulo para mais altas para garantir que os agricultores dos EUA não diminuam sua área em 2022/23 em detrimento do milho.

Para além da guerra na Ucrânia, dois outros fundamentos deram suporte à alta. O primeiro foi o anúncio da venda de 264 mil toneladas de soja americana para a China, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Paralelamente, o clima na América do Sul continua a preocupar os investidores da oleaginosa. “Os importadores estão rapidamente ficando sem opções com a oferta limitada da América do Sul e com a alta dos preços provocada pelo conflito no Mar Negro”, disse Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage.

Fonte: Valor Econômico.

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