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Commodities: Negociação entre Rússia e Ucrânia avança, e trigo despenca em Chicago

O avanço das negociações por um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia pesou sobre as cotações do trigo, e o cereal, que ontem já havia caído mais de 4%, despencou mais uma vez na bolsa de Chicago. Na sessão de hoje (29/3), o contrato para maio, o mais negociado no momento, recuou 4,04% (42,75 centavos de dólar), a US$ 10,1425 o bushel – no início do pregão, o papel chegou a cair mais de 7%. A posição seguinte, julho, fechou em queda de 4,02% (42,25 centavos), para US$ 10,0925 o bushel.

Durante a manhã, em negociações na Turquia, a Ucrânia propôs adotar neutralidade, o que significa, entre outras coisas, não aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nem oferecer seu território como base militar para outra nação. Em contrapartida, a Rússia afirmou que vai “reduzir radicalmente” seus ataques a Kiev.

Com isso, o trigo entrou novamente em forte liquidação, assim como havia ocorrido na sessão da véspera. O movimento não é trivial, uma vez que os operadores estão retirando os prêmios de risco diante da possibilidade de um cessar-fogo na guerra.

Rússia e Ucrânia respondem por cerca de 30% do comércio global de trigo, mas suas exportações estão paralisadas, seja porque seus portos estão fechados e destruídos, seja porque os embarcadores têm receio de enviar navios para a região. Em menor proporção, russos e ucranianos também são exportadores de milho, principalmente para países da Ásia, Leste Europeu e África.

“Essa reaproximação é urgentemente necessária para o fornecimento de grãos, já que os portos ucranianos foram fechados desde o início da guerra”, diz o Commerzbank em relatório.

Apesar disso, a Rabo AgriFinance apontou à Dow Jones Newswires que os problemas já causados pelo conflito não poderão ser desprezados. Segundo o analista Andrick Payen, as restrições de oferta na Ucrânia e a redução da área de plantio no país poderão abrir mercado para o trigo americano na safra 2022/23, elevando ainda mais os preços.

No mercado de grãos, em especial nos de soja e milho, os investidores também aguardam os relatórios de estoques trimestrais e de intenção de plantio nos Estados Unidos, a serem divulgados pelo Departamento de Agricultura do país (USDA) nesta quinta-feira.

No caso do trigo, a média dos analistas ouvidos pelo jornal “The Wall Street Journal” indica uma área de plantio de 19,33 milhões de hectares, um aumento de 2,3% em relação aos 18,9 milhões de hectares do ciclo 2021/22.

Já as reservas de trigo no país deverão cair, refletindo uma safra menos volumosa e o aumento das exportações entre uma temporada e outra. A estimativa é de estoques de 28,96 milhões de toneladas, volume 18,8% menor que as 35,68 milhões de toneladas de 2021.

Milho

O milho também teve baixa expressiva nesta terça. O contrato com vencimento em maio, o mais negociado, caiu 2,97% (22,25 centavos de dólar), a US$ 7,2625 o bushel, e a posição seguinte, para julho, recuou 3,01% (22 centavos), para US$ 7,0850 por bushel.

O grão acompanhou a forte queda do trigo – os dois produtos são concorrentes na indústria de rações animais – e também o recuo do petróleo, que fechou em baixa de 1,6%. A desvalorização do petróleo reduz a competitividade do etanol nos Estados Unidos, onde o biocombustível é feito principalmente de milho.

A perspectiva de aumento da umidade em áreas de cultivo dos EUA também tem pressionou as cotações dos grãos. A previsão de uma primavera mais úmida e fria para o Meio-Oeste americano poderá aliviar os efeitos da seca na porção sul do Centro-Oeste, explicou a Best Weather à Dow Jones Newswires.

Para os relatórios do USDA, os analistas esperam redução nas estimativas de área de plantio em 2022/23. A média das projeções para o milho é de redução de 1,4%, passando de 37,78 milhões de hectares para 37,23 milhões.

Já nos cálculos dos estoques, a previsão dos analistas é de aumento de 2,45%, para 200,28 milhões de toneladas. Um ano antes, os estoques somaram 195,48 milhões de toneladas.

Soja

A soja também caiu, mas de maneira menos acentuada. O contrato com vencimento em maio, o mais negociado atualmente, recuou 1,28% (21,25 centavos de dólar), a US$ 16,430 o bushel. A posição seguinte, para julho, por sua vez, fechou em baixa de 1,4% (23 centavos), a US$ 16,2375 o bushel.

Assim como nas negociações de trigo e milho, o declínio também foi reflexo do avanço nas negociações por um cessar-fogo na Ucrânia. Com o petróleo novamente em queda, o óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel, recuou 1% na sessão, enquanto o farelo de soja caiu mais de 2%.

Nas avaliações sobre o relatório do USDA, a expectativa do mercado é de redução das exportações e aumento dos estoques de soja. Os estoques americanos de soja nos EUA deverão somar 51,52 milhões de toneladas em 1º de março, segundo as projeções, uma queda de 21% em comparação com as 42,51 milhões de toneladas registradas nessa mesma data em 2021.

“A verdadeira questão sobre o estoque de milho e soja dos EUA é quais mudanças podemos ver para o restante do ano de comercialização”, afirmou o analista Karl Setzer, da AgriVisor, em relatório.

No documento que reunirá a intenção de plantio para 2022/23 espera-se aumento de 1,8% em relação a 2021/22, passando de 35,3 milhões de hectares para 35,9 milhões de hectares.

Fonte: Valor Econômico.

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