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Commodities: Grãos acompanham petróleo e recuam em Chicago

Em dia de aversão ao risco no mercado de commodities, soja, milho e trigo fecharam em queda na bolsa de Chicago. Os preços dos grãos acompanharam a forte desvalorização de outros produtos básicos, em particular do petróleo, que recuou mais de 3% nesta quarta-feira, sob a expectativa do mercado com a reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.

O vencimento da soja para janeiro, o mais negociado, cedeu 0,96% (12 centavos de dólar), a US$ 12,4425 o bushel. Já a posição seguinte, que vence em março, recuou 0,93% (11,75 centavos de dólar), para US$ 12,5525 por bushel.

“Uma correção ocorreu hoje no mercado, já que o recente rali que experimentamos ficou sem impulso. Isso foi provocado por vários pequenos fatores, mas uma reversão nos mercados externos foi central, principalmente o complexo energético”, disse o analista Karl Setzer, da AgriVisor, em relatório.

O mercado esperava que o Fed anunciasse uma redução gradual do nível de compras mensais de ativos, atualmente em US$ 120 bilhões — o que se confirmou já perto do fim do pregão. Esse movimento poderá levar a autoridade monetária americana os juros do país em breve. Hoje, porém, o Fed optou por manter a taxa básica.

As notícias sobre o Federal Reserve geraram preocupações sobre a demanda futura em caso de desaceleração da economia dos EUA, acrescentou Setzer. Além disso, o bom andamento do plantio no Brasil, maior produtor mundial de soja, e da colheita nos Estados Unidos já limitam avanços mais expressivos dos preços da oleaginosa.

Para os próximos pregões, o mercado deverá ficar de olho nos dados semanais de exportações americanas, que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgará amanhã. Depois disso, as atenções voltam-se ao relatório mensal de oferta e demanda que o órgão divulgará na próxima terça-feira.

No Brasil, as exportações do grão foram de 2,92 milhões de toneladas no mês passado, de acordo com relatório divulgado pela Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec). O volume é 34,4% maior que o de outubro de 2020, quando os embarques somaram 2,17 milhões de toneladas.

De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou 81,9 milhões de toneladas de soja, um aumento de 0,6%, ou 500 mil toneladas, em comparação com o mesmo período do ano passado. As vendas externas até outubro ficaram bem próximas do total exportado em todo o ano de 2020, que foi de 82,3 milhões de toneladas.

Para este mês, as exportações brasileiras de soja deverão chegar a 1,93 milhão de toneladas, segundo cálculo da Anec feito com base nas programações dos portos. Se a previsão se confirmar, será um aumento de 150,6% em relação a novembro de 2020, quando as exportações foram de 770,3 mil toneladas.

Ainda no Brasil, a consultoria americana StoneX atualizou sua previsão para a safra de soja 2021/22. A estimativa de produção aumentou na comparação com o mês passado, de 144,3 milhões de toneladas para 144,7 milhões de toneladas, o que seria um novo recorde no país.

Segundo a consultoria, o clima em setembro e outubro foi muito benéfico para as lavouras, com boas chuvas em várias regiões produtoras, mas modelos meteorológicos indicam tempo mais seco que o normal em novembro na região Sul, além da possibilidade de repetição do fenômeno La Niña. “Apesar das incertezas, a perspectiva continua bastante favorável para a safra da soja, com o clima muito positivo nos primeiros meses do ciclo”, disse a StoneX, em nota.

Nas negociações do milho, os contratos para dezembro, os mais líquidos na bolsa de Chicago no momento, caíram 1,57% (9 centavos de dólar), para US$ 5,640 o bushel. A segunda posição, para março, desvalorizou-se 1,55% (9 centavos de dólar), a US$ 5,7225 por bushel.

Além da fuga dos investidores de ativos considerados mais arriscados, como é o caso das commodities, também os novos dados sobre a produção de etanol nos Estados Unidos puxaram a queda do milho. No país, o grão é a principal matériaprima para a fabricação do biocombustível.

Na semana encerrada em 29 de outubro, a produção de etanol nos EUA chegou a 1,107 milhão de barris por dia, um aumento de apenas 0,09% em relação aos sete dias anteriores, segundo a Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês). O número ficou dentro do esperado por analistas ouvidos pelo jornal “The Wall Street Journal”, que projetavam algo entre 1,08 milhão de barris a 1,12 milhão de barris.

O volume diário de produção da última semana é o segundo maior já registrado no país — o maior, de 1,108 milhão de barris, ocorreu em dezembro de 2017 —, mas os operadores esperavam que o recorde fosse quebrado já nesta quarta. Para os estoques, a EIA aumentou sua projeção em 200 mil barris, para 20,13 milhões de barris. Os analistas esperavam estoques entre 19 milhões a 19,94 milhões de barris.

No Brasil, as exportações de milho totalizaram 1,85 milhão de toneladas no mês passado, uma queda de 59,1% em relação a outubro de 2020, quando chegaram a 4,53 milhões de toneladas, de acordo com a Anec. De janeiro a outubro de 2021, os embarques totalizaram 14,5 milhões de toneladas, ou 41% a menos do que as 24,6 milhões de toneladas do mesmo período do ano passado.

Para este mês, a expectativa é de uma redução ainda maior, de 60,2%, na comparação com novembro de 2020. A previsão da Anec, baseada na programação dos portos, é de embarques de 1,96 milhão de toneladas; em novembro do ano passado, as vendas ao exterior foram de 4,94 milhões.

A StoneX prevê colheita de 87,5 milhões de toneladas na safrinha de milho de 2021/22, um recorde. “Em meio a um bom ritmo de plantio da soja, o cenário aponta para que grande parte da segunda safra de milho possa ser semeada dentro da janela ideal, o que seria favorável para sua produtividade”, disse, em nota, João Pedro Lopes, analista da consultoria.

Após forte quebra na última safrinha, os preços elevados estimulam um aumento de área para o ano que vem, segundo a StoneX. A perspectiva é que a área de cultivo cresça 7,4%, chegando a 15,4 milhões de hectares.

“Com a recuperação da oferta, há espaço para que o Brasil volte a ocupar o posto de segundo maior exportador mundial de milho”, acrescentou Lopes. Ele estima que os embarques da safra nova chegarão a 41 milhões de toneladas.

Já a estimativa de produção de milho primeira safra 2021/22, que está sendo plantada neste momento, é de 30,4 milhões de toneladas. O número representa um ajuste de 1,2% em relação às 30,05 milhões de toneladas da projeção divulgada no mês passado.

O trigo também caiu em Chicago nesta quarta, em uma combinação de fuga do risco e correção de preços. O papel para dezembro, o mais ativo no momento, encerrou o dia em baixa de 1,33% (10,50 centavos de dólar), a US$ 7,810 o bushel. A segunda posição, para março, por sua vez, recuou 1,34% (10,75 centavos de dólar), para US$ 7,9275 o bushel.

O cereal foi pressionado pela baixa generalizada dos grãos na bolsa americana, mas também está passando por realização de lucros após atingir máximas históricas recentemente, segundo relatório do Commerzbank divulgado hoje. Além de o cereal ter se aproximado dos US$ 8 por bushel, sua maior cotação em Chicago em nove anos, na bolsa de Paris, referência para as negociações na Europa, ele rondou os 300 euros por tonelada, o que seria um recorde. Nos dois casos, os preços começaram a cair ao chegarem perto de sua resistência técnica.

Mas, a despeito do recuo, o cenário ainda indica restrição de oferta na safra 2021/22, especialmente com o risco de quebra na Rússia, maior exportador global. “A queda de preços que vimos desde ontem provavelmente não é nada mais do que uma pausa. Contanto que não haja sinais de desaceleração da demanda em virtude do nível elevado de preços, acreditamos que novas altas estão no horizonte”, acrescentou o banco alemão.

Fonte: Valor Econômico.

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