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Com os preços do bezerro mais altos, o que deve mudar na produção de boi gordo, a pasto e confinado? (vídeo, slides e artigo)

Com os preços do bezerro mais altos, o que deve mudar na produção de boi gordo, a pasto e confinado?, José Carlos Hausknecht

Preços altos de bezerro não são nenhuma novidade para os produtores de boi gordo, em anos passados a pecuária já conviveu com esta situação. Outro favor interessante que pode ser notado quando observamos uma série histórica de preços é que as cotações do bezerro e do boi gordo têm uma grande correlação. Quando o preço do boi está alto, o preço do bezerro também sobe e quando cai o preço da arroba também existe uma tendência de queda nas cotações de reposição.

Isso é muito positivo para o invernista, pois de uma certa maneira cria uma proteção de preços. Assim ele sabe que o seu principal insumo vai ter um custo compatível com a sua receita. Imagine o problema de um pecuarista que esteja comprando animais de reposição a um preço extremamente elevado, como ocorreu no ano passado, e que não tem a menor idéia do preço que irá receber daqui a 2 ou 3 anos.

Hoje temos ferramentas como o mercado futuro para nos dar uma noção do que o mercado está esperando para frente, mesmo assim ele não consegue dar direções dos preços para o longo prazo. No passado nem essa ferramenta o pecuarista possuía, por isso a pecuária sempre utilizou a relação de troca para de alguma forma se “proteger” das oscilações do mercado, ou seja, o invernista vendia um boi por um valor com que conseguisse comprar uma quantidade de bezerros para continuar na produção e ter um bom resultado.

Essa relação de preços pode ser medida de duas maneiras, a relação de troca – índice mais tradicional que indica quantos bezerros é possível comprar com o valor de venda de um boi gordo de 16,5@ – e a margem bruta – que expressa quanto sobra para o pecuarista após a venda de um boi gordo de 16,5@ e compra de um bezerro para reposição do rebanho, esse valor é o que será usado para pagar contas, funcionários, investimentos e lucro.

Comparando os preços do boi gordo e do bezerro (figura acima) com o gráfico que traz esses índices, é interessante notar que nos períodos em que os preços estão mais altos a relação de troca é mais baixa (início e final do gráfico), enquanto que em momentos de baixa essa relação melhora. Essa dinâmica mostra que quando o pecuarista/terminador tem sua receita “apertada” e quando seu preços recebidos estão mais baixos, ele consegue repassar parte dessa perda de rentabilidade para o setor anterior, a cria. Tentando preservar sua margem de comercialização.

Por outro lado quando os preços da arroba estão em alta, ele não se apropria totalmente desse aumento de rentabilidade, pois normalmente ele tem que comprar um bezerro mais caro e precisa repassar parte desse ganho para o criador. Essa é uma relação existente entre os dois elos da cadeia e os agentes tem que conviver com isso normalmente.

Outra questão que impacta muito nos sistemas produtivos é a formação do custo de produção. Como já foi falado, o bezerro é o principal insumo do engordador de boi, mas dependendo do sistema de produção utilizado sua participação nos custos é diferente. Como forma de comparação podemos assumir que em um sistema de produção a pasto esse insumo vai representar 69% do custo, enquanto na produção intensiva o bezerro corresponde a 50% do custo do confinador.

Outro agravante é que a compra do bezerro é o maior investimento e o que é feito em primeiro lugar pelo produtor, ou seja esse valor precisa ser desembolsado no início do projeto. Vale lembrar que quanto mais longo for o ciclo desse sistema de produção maior é o peso do capital que irá ficar empatado com a compra do bezerro. Então no caso da pecuária realizada em pastagem, quase 70% do seu gasto ocorre no primeiro momento e esse custo de capital acaba aumentando ainda mais a importância do preço do bezerro no seu sistema. Já em sistemas de produção intensiva o produtor carrega menos tempo esse custo, assim a influência é menor.

Uma valorização de 10% no preço do bezerro exigiria um aumento de eficiência de produção – aumento de ganho de peso – de 11% em um sistema a pasto para compensar esta oscilação de preços. Na mesma simulação, em um confinamento o produtor precisaria melhorar em 8,5% sua eficiência.

Assim a solução para o produtor, que está sofrendo com essas oscilações e outros desafios como competição com a agricultura e pressões para redução de área de produção, é sem dúvida o aumento de produtividade, através de melhorias na tecnologia empregada e aumento na taxa de desfrute.

Para resolver esse aperto de margem, devido ao aumento do custo do bezerro, e aumentar sua produtividade, o invernista pode empregar tecnologias como melhoramento genético, manejo de pastagens, nutrição e sanidade.

De todos esses pontos, o único que ele não tem grande influência é a genética, já que quem está responsável por esse fator é o pecuarista de cria. Ou seja, o engordador de boi não irá conseguir melhorar sua produtividade através de nutrição, pasto e sanidade, se o animal que ele está comprando não tem potencial para responder ao uso todas essas tecnologias que ele está implantando. O invernista precisa de potencial de ganho de peso e ele aceita pagar mais por um bezerro de qualidade, pois esse custo mais alto será compensado por um aumento na rentabilidade da engorda.

É importante lembrar que a aplicação desse tipo de tecnologia e os ganhos que ela traz para a atividade precisa ser estudado e constantemente acompanhado, pois existe uma tendência que novas técnicas causem num primeiro momento aumento de rentabilidade, seja através de uma redução de custo ou do aumento da produtividade, estimulando um aumento de produção. Com o passar do tempo esse aumento de produção irá provocar uma nova redução na rentabilidade, seja por aumento de oferta e redução nos preços de vendas ou por repasses de preços ao longo da cadeia. Esse movimento é inevitável e aqueles que estão na atividade precisam constantemente se aprimorar e reduzir custos.

Dessa forma pode-se esperar uma resposta tecnológica nos próximos anos como consequência das restrições de área e do aumento dos custos dos insumos, principalmente os preços do bezerro. Esse aumento de custo pode ser compensado pelo melhoramento genético. Como sistemas mais intensivos são menos sensíveis às oscilações de preço, se os preços continuarem a se valorizar a intensificação da pecuária será inevitável e se mostra como uma boa saída para o invernista.

Além disso, as pressões ambientais sobre a pecuária de maneira geral vão aumentar, mas ainda existe muito espaço para aumento de produtividade e conseguir contornar essa situação e o produtor brasileiro está cada vez mais técnico e mais capaz de absorver essas novas tecnologias.

Este artigo é baseado na palestra que José Carlos Hausknecht, da MBAgro, proferiu no Workshop BeefPoint de Pecuária de Cria

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0 Comments

  1. Antonio Fernando Castilho Gonçalves disse:

    Parabéns pelo artigo. Parece pouco provável que aquele pecuarista que não puder intensificar sua atividade tenha condições de permanecer competindo neste mercado.

    Penso, porém que a maior dificuldade será determinar o ponto do investimento e retorno. Criar estes animais em pastagens melhoradas e com grande capacidade de lotação e aqui será preciso contar com o custo oscilante dos insumos, ou criá-los com suplementos (silagens) ou resíduos de grãos ou farelados.

    Todos estão sujeitos as flutuações de preços e sempre estaremos com a eterna dúvida: vendo o milho ou faço silagem, adubo ou não a pastagem. Temos que levar também a oportunidade que proporciona o dinheiro na mão.

    Analisando ainda o artigo acima, poderemos enxergar a cria, o primo pobre da pecuária, como uma alternativa a ser considerada, pois o criador podera “produzir a genética” que o invernista/confinador deseja. A cria porém custa caro, o ciclo é longo, a mortalidade alta e é preciso pagar o custo das matrizes e reprodutores no pasto.

    Se produzir um “bom bezerro” custa e deverá custar ainda mais, será que haverá alguém disposto a pagar esta conta.
    Por outro lado, o setor frigorífico vem investindo cada vez no confinamento de seus próprios animais, seja para abastece-los na entressafra, seja para balizar preços neste período.

    Eles (os frigoríficos) não costumam produzir seus próprios bezerros, preferem buscá-los no mercado e se a tendência é o ciclo de produção (engorda) cada vez mais curto, mais cedo e mais vezes o mercado estará comprando bezerros, Será então a oportunidade que a cria tanto espera? É aguardar para ver o vai dar.

  2. João Pires Castanho disse:

    Do ponto de vista de produtividade, não restam duvidas que a produção intensificada seja o caminho,porém, o pecuarista tem que pensar em lucratividade, que na minha opinião, difere de rentabilidade, a grosso modo, seria o que sobra líquido nas mãos do produtor.
    Por esse prisma, entendo que a engorda intensiva no Brasil, realizada pelo pecuarista, seja um tiro n´água, a arroba valorizou nos ultimos 6 anos, apenas algo em torno de 15%, diante dessa insignificante valorização, não vejo margens para um aumento de custos com adubação de pastagens, semi-conifinamento ou confinamento, como bem disse o colega acima, os próprios frigoríficos confinam seus animais, e para eles, não interessa tanto o lucro nessa operação, uma vez que irão agregar valores ao seu produto, e também com essa pratica irão regular o preço da arroba.
    Daqui pra frente, o pecuarista que quiser sobreviver na atividade, no meu modo de ver, tera que se tornar um recriador, comprar o bezerro, e vende-lo quando esse alcançar idade para ser confinado, em tese, acredito acabou a pecuaria de engorda, seus custos estão ano a ano inviabilizando a atividade.

  3. Jose Carlos o Farrill Vannini Hausknecht disse:

    Prezado João Pires Castanho, concordo plenamente com sua preocupação com a lucratividade ao invés de apenas buscar produtividade, muitas vezes a simples intensificação do processo produtivo não leva a um aumento no resultado da operação, no entanto, a busca permanente pela maior eficiência de produção é um pré-requisito para a continuidade do produtor na atividade.
    No caso específico da cria, concordo que a utilização de adubação de pastagens e confinamento dificilmente se justificam, neste caso o aumento de produtividade poderia vir através de tecnologias para o aumento na fertilidade, do melhoramento genético do rebanho, etc.
    Em relação a recria e engorda, a viabilidade da adoção de uma tecnologia vai depender dos preços relativos da arroba e dos insumos utilizados, como bem colocado no artigo do Antonio Gonçalves. No ano passado, por exemplo, o alto custo da reposição, a chuva e a queda no preço da arroba, provocaram altas perdas aos confinadores, evidenciando a necessidade de um bom planejamento quando adotamos sistemas mais intensivos em capital devido ao aumento do risco da atividade.
    Apesar da elevação no número de confinamentos próprios, eles representam uma parcela mínima da necessidade do frigorífico e, se considerarmos o total de animais confinados no Brasil, não chega a 10% do abate anual, por isso acredito que apesar da intensificação cada vez maior, ainda continuaremos a ter espaço para a existência da engorda a pasto.

  4. André Couto disse:

    e o produtor de tourinhos p.o. ex. guzera como ficara ?

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