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Com mercado interno fraco, Frigol aposta na exportação

Vender carne bovina no Brasil não é um bom negócio – pelo menos não neste ano. Quarto maior frigorífico do país, o Frigol não poderia ter emitido sinais mais claros sobre esse cenário como na segunda-feira, quando anunciou a devolução antecipada de sua unidade em Cachoeira Alta (GO), que estava arrendada. 

Em meio a uma estratégia para reforçar a estrutura de capital e reduzir os custos da dívida, o Frigol preferiu abrir mão de um ativo com receitas de R$ 700 milhões para concentrar as atividades nos frigoríficos próprios, com habilitação para exportar para China e Israel. 

Ao Valor, o CEO do Frigol, Marcos Câmara, disse que o abatedouro goiano, com capacidade para processar 450 cabeças de gado por dia, vinha drenando margens da empresa, com um déficit mensal “bem razoável”. Em tempos de preços do boi gordo nas alturas e demanda reprimida no mercado doméstico, um frigorífico assim não era o desejado. 

Na prática, a devolução é o reconhecimento de uma aposta que deu errado. O Frigol alugou a unidade em 2017, em um contrato firmado com a Rodopa. À época, a indústria frigorífica vivia outra fase. Muitos empresários acreditavam que a JBS reduziria as operações em meio às turbulências da delação de Joesley e Wesley Batista. O cenário não se confirmou. Não foi o único arrendamento problemático. O Frigol também chegou a arrendar uma planta fechada em Juruena (MT), mas desistiu antes mesmo de reabri-la. 

“Quando extirpamos essa parte do portfólio, a tendência é a margem se fortalecer, porque deve vir mais da exportação”, disse Câmara. A aposta na exportação é o que vem sustentando os resultados da companhia – o raciocínio também vale para as gigantes JBS, Minerva e Marfrig, que amargam margens bem acanhadas no mercado doméstico. 

A margem mais apertada se traduziu no resultado do Frigol. Em 2020, o lucro da companhia caiu 72%, para R$ 10 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recuou 3%, para R$ 116,3 milhões. A margem Ebitda ficou abaixo de 5%, como o executivo havia sinalizado ao Valor em outubro, mas a devolução do abatedouro goiano deve ajudar a equilibrar os resultados. 

Ao concentrar a operação nas unidades que exportam, o Frigol conta com o dólar valorizado. Isso ajuda a atenuar o impacto negativo do preço do boi gordo, que superou R$ 315 por arroba em São Paulo, alta de quase 60% em 12 meses.

Além da moeda americana, o apetite chinês vem contribuindo para a mudança no perfil de vendas da companhia. No ano passado, o Frigol faturou quase R$ 2,6 bilhões. Do total, 42% foi gerado no mercado externo, ante menos de 35% em 2019. Para 2021, a expectativa de Câmara é que as exportações representem 50% de uma receita bruta projetada em R$ 3 bilhões, que já desconsidera a planta de Cachoeira Alta. 

Dos três abatedouros de bovinos do Frigol, dois estão habilitados a exportar à China – a planta de Água Azul do Norte, no Pará, e Lençóis Paulista, em São Paulo. Somando Hong Kong, as vendas à China representaram 75% das exportações em 2020. Neste ano, a companhia também aposta em Israel, que no ano passado autorizou a planta de São Félix do Xingu, no Pará, a exportar. O Frigol também tem um abatedouro de suínos, em Lençóis Paulista. 

Paralelamente à devolução da unidade de Cachoeira Alta, o Frigol continua trabalhando para reduzir os juros altos, uma herança negativa do período de recuperação judicial. Segundo Câmara, os controladores concluíram o aumento de capital, com a integralização dos frigoríficos de Água Azul do Norte e São Félix do Xingu, que pertenciam a uma outra empresa da família Gonzaga. Com isso, reforçou o patrimônio líquido e vai economizar despesas. Antes, as unidades estavam arrendadas para a própria empresa. 

O Frigol ainda vem conseguindo reduzir a participação das factorings no financiamento, o que é um alívio e tanto. Para uma operação de commodity, com margens que já são baixas mesmo em momentos comuns – o que já não seria o caso com o atual preço do boi -, obter crédito com companhias de fomento mercantil não é o melhor dos mundos. 

Segundo o executivo, a parcela das factorings no funding do Frigol caiu de 60% para 20%. No lugar delas, deve crescer a fatia de ACCs com bancos comerciais. A melhora da relação com os bancos comerciais também faz com que empresa tenha mais opções para se financiar. Em outubro, Câmara indicou a possibilidade de fazer um “sale and leaseback” com um dos frigoríficos do Pará, mas agora esta é apenas uma opção. 

As mudanças na governança também ajudam. A companhia já havia contratado Eduardo Miron, CEO global da Marfrig até março do ano passado, como membro independente do conselho de administração. Recentemente, o ex-AES Britaldo Soares foi para o board. 

Fonte: Valor Econômico.

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