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Com frigoríficos no vermelho, varejo deve absorver alta da arroba nos próximos meses

A expressiva valorização da arroba bovina em um ano de queda na economia tem gerado uma combinação amarga para a indústria frigorífica no país. Com um consumo interno enfraquecido, o setor tem enfrentado dificuldades para repassar a alta observada no campo para o consumidor final. “Nunca vi um preço de carne bovina nesse nível. O spread no mercado interno oferece prejuízo hoje. Quem vende só no mercado interno toma prejuízo”, explica Cesar de Castro Alves, consultor de agronegócio do Itaú BBA.

Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), enquanto o preço médio da arroba bovina no Estado em outubro foi de R$ 264,43, o que representaria R$ 17,98 por quilo, o valor da carcaça casada negociada pela indústria com o atacado ficou em R$ 16,70 o quilo, uma diferença de R$ 1,28.  “Isso não é um indicador perfeito porque tem subprodutos que fazem composição e ajudam nas margens, mas não sei se os subprodutos estão mais salvando a situação”, completa Alves.

Segundo ele, as margens negativas do setor serão testadas ainda mais a partir do início do ano que vem, com o encerramento dos pagamentos do auxílio emergencial e a possível desvalorização da carne bovina sem a contrapartida nos preços do boi gordo. “A China pode segurar um pouco o preço do animal, mas os frigoríficos não conseguem segurar totalmente o preço no mercado interno se não houver a continuidade do benefício”, destaca o analista.

Com as margens apertadas, Maurício Palma Nogueira, sócio-diretor da Athenagro, avalia que os frigoríficos repassarão integralmente as altas nos custos de produção para o atacado e o varejo, restando às redes de supermercado absorver o impacto. “A hora que a gente vai pro varejo e monta o boi de novo lá na gôndola, usando os números do IEA, o preço da carne que saiu dos frigoríficos por R$ 270 a R$ 275 a arroba chega para o consumidor a R$ 440”, explica Nogueira, ao lembrar que a movimentação ocorre desde o início deste ano. 

“Isso na prática está acontecendo desde o começo do ano, mas ainda tem gordura. E se o varejo compra a carne desossada, ele praticamente não tem custo nenhum, é custo de manutenção de gôndola. Claro que tem o frio pra guardar essa carne, mas é o menor custo por quilo da cadeia produtiva”, observa Nogueira. Segundo ele, a absorção da alta de custos pelo varejo permitiria precificar melhor a cadeia sem mexer no preço para o consumidor. “O frigorífico sai do sufoco e o preço para o consumidor não muda ou muda muito pouco”, conclui o analista.

O economista da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Thiago Berka, explica que as redes de supermercados têm absorvido as altas a partir de critérios estratégicos, como perfil da loja e público alvo. “Nas lojas de classe A e B, a elasticidade de preço ao consumidor é menor. Então, em cortes mais caros, os preços conseguem ser repassados com maior tranquilidade. Já os supermercados que dependem menos das vendas de carne ou estão na classe C e D, precisam tomar mais cuidado, porque eles absorvem muito mais. Ou vão segurar o preço diminuindo sua margem ou farão um cálculo para recuperar um pouco dessa margem nos cortes mais nobres”, detalha Berka, ao lembrar da experiência ruim que o setor teve no ano passado.

“O que a gente notou no ano passado, quando carne subiu até 30% no ano, é que não teve jeito. As vendas decepcionaram nos supermercados no final do ano porque as proteínas que eram a maior parte das vendas foram um desastre. O fluxo de clientes foi bom, mas as vendas caíram em dezembro”, aponta o economista, ao destacar que as carnes são um grande atrativo para as vendas no final de ano. Com isso, de modo geral, se os supermercados conseguirem uma boa competição na carne, podem recuperar as margens em outros produtos. “Acho que neste ano os supermercados estão mais calejados e devem segurar nesses dois momentos as margens. Mas existe um limite pra tudo”, completa Berka.

Fonte: Globo Rural.

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