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Colheitas e exportações do país deverão crescer acima da média até 2028

Se não tropeçar em negociações comerciais para a manutenção e abertura de novos mercados, não se descuidar em questões sanitárias e ficar atento às mudanças de comportamento dos consumidores de alimentos em países desenvolvidos e emergentes, o Brasil tem tudo para ampliar suas participação nas exportações mundiais de grãos e carnes nos próximos anos.

“A tendência é de crescimento, mas estamos sujeitos a choques que antes não estavam no radar, entre eles disputas comerciais como a travada entre Estados Unidos e China”, disse recentemente ao Valor Antonio Carlos Costa, gerente do Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). De qualquer forma, o “Outlook Fiesp – Projeções para o Agronegócio Brasileiro 2028”, concluído no início do ano, traça um cenário favorável para o avanço do país como fornecedor global de produtos agropecuários.

Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a expectativa da Fiesp e da MB Agro, parceira da federação no “Outlook”, é que a produção do país aumente 3,2% ao ano até 2028, enquanto para a média mundial a projeção é de estabilidade. As exportações, por sua vez, poderão crescer um pouco menos – 1,9% ao ano, ante uma média mundial estimada em 2,9% -, mas por causa do aumento da demanda doméstica por rações destinadas sobretudo para frangos e suínos Se confirmadas essas expectativas, o Brasil deverá roubar dos EUA a liderança na produção de soja e se manter na ponta nas exportações.

No caso do milho, as perspectivas apontam para incrementos acima da média até 2028 tanto para a produção (4,3% ao ano, contra 1,8%) quanto para os embarques (6,2%, contra 3%). Nesse quadro, o país está longe dos principais países produtores, mas poderá se firmar como o segundo maior exportador. Também nesse mercado, a tendência é de maior demanda interna para a fabricação de rações animais.

Para as carnes, o horizonte, que já era positivo, deverá melhorar ainda mais diante do surto de peste suína africana que se alastra na China, maior produtor e consumidor de carne suína do planeta. Como o rebanho chinês está sendo reduzido em mais de 30% com as mortes e sacrifícios realizados para a contenção da doença, a expectativa é de impacto profundo no mercado de proteínas animais como um todo, o que, conforme especialistas, terá impacto positivo sobre as exportações brasileiras de carnes.

Na divulgação do “Outlook”, Alexandre Mendonça de Barros, sócio da MB Agro, destacou que a crise no país asiático, que para ele é o “evento” mais importante do agronegócio mundial atualmente, é uma “chance de ouro” para o Brasil se consolidar também como exportador importante de carne suína, como já indica seu papel de liderança nas carnes bovina e de frango. “Temos a oportunidade de nos apresentar à China não só como fornecedor de soja em grão, mas também de carnes”, afirmou.

Para as três carnes, as projeções de Fiesp e MB sinalizam que os avanços médios anuais da produção e das exportações do país deverão superar as médias globais até 2028. E, diante do aprofundamento dos problemas na China, os números poderão ser melhores que os previstos atualmente. Especialistas destacam que, em alguns casos, investimentos de companhias brasileiras como JBS, BRF, Marfrig e Minerva em unidades de produção em países importadores cada vez mais preocupados com sua segurança alimentar – é o caso da Arábia Saudita e outros países árabes – podem conter o ímpeto exportador. Mas será por um boa causa.

Em geral, as previsões também apontam para uma tendência de crescimento do país no tabuleiro do algodão e sinalizam que nos primeiros mercados agrícolas “dominados” pelo Brasil – açúcar, café e suco de laranja – são pequenas as chances de retrocessos. “A verdade é que o Brasil é essencial para o mundo. Só não podemos nos esquecer as tendências do consumo e não podemos tratar a sustentabilidade como um modismo”, reforça o exministro Roberto Rodrigues.

Nesse sentido, a postura comercial deste e dos próximos governos também será vital, uma vez que a concorrência internacional com fornecedores como os EUA é acirrada. Como costuma repetir Tereza Cristina, atual ministra da Agricultura, o Brasil tem que manter boas relações com todos os países que importam seus produtos. “O país não tem conseguido negociar bons acordos comerciais, e eles são fundamentais para dar segurança e previsibilidade para quem investe em produção. O agronegócio vem investindo muito, com destaque para as novas tecnologias que estão sendo adotadas pelas principais cadeias produtivas do setor, mas os riscos ainda são elevados”, disse recentemente Maurício Cardoso de Moraes, sócio da PwC Brasil.

Fonte: Valor Econômico.

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