Produtor rural tem que se manter distante da pauta ideológica no comércio internacional, diz CNA
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CNA vê avanço menor do PIB do campo em 2021, mas ainda forte

Após registrar avanços em ritmo poucas vezes visto em 2020, o valor bruto da produção (VBP) agropecuária e o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio no país deverão crescer menos no ano que vem, mas ainda assim manterão a sólida tendência ascendente observada nas últimas décadas.

O cenário foi confirmado em entrevista coletiva promovida na manhã de ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e leva em consideração a recuperação das economias do país e do mundo com a gradativa volta da normalidade social passado o período mais grave da pandemia da covid-19.

Conforme a entidade, o PIB do agronegócio brasileiro deverá crescer 9% neste ano, para R$ 1,75 trilhão, e 3% em 2021, para R$ 1,8 trilhão. Já o VBP da agropecuária terá avanços de 17,4%, para R$ 903 bilhões, e 4,2%, para R$ 941 bilhões, respectivamente. Em 2020, mesmo com os efeitos negativos da pandemia em alguns segmentos, o setor também se destacou na geração de empregos, com 102,9 mil novos postos de trabalho.

O presidente da CNA, João Martins, acredita que, até 2022, a produção brasileira de grãos vai chegar a 300 milhões de toneladas de grãos – a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima 268,9 milhões para este ciclo 2020/21 – e que o VBP alcançará a marca de R$ 1 trilhão.

Com a ajuda de novas colheitas recorde de soja e milho no Brasil, onde os investimentos dos produtores estão em alta – em parte por causa dos preços elevados desses mesmos grãos -, mas sem desprezar a ameaça de problemas climáticos provocados pelo La Niña, a CNA prevê que a produção global de alimentos vai aumentar em 2021. Mas com a retomada da demanda em áreas como o food service, estima uma relação equilibrada entre oferta e demanda.

“Não deixaremos de ter safra recorde, mas a colheita poderia ser maior se não fosse a questão climática”, ponderou o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi. Para ele, o clima é um ponto desfavorável nesta temporada, com o atraso causado no plantio da soja e seus reflexos negativos para a segunda safra de milho.

A entidade reiterou que a continuidade da expansão do setor de agronegócios no Brasil passa, em parte, pela preservação dos instrumentos de financiamento da atividade produtiva e de políticas públicas que garantam isenção tributária para itens da cesta básica.

A CNA também espera que a inflação dos alimentos não se torne um problema no país em 2021, sobretudo depois de movimentos impopulares que marcaram 2020, como a forte alta do arroz. Segundo a entidade, aumentos como o do arroz, da soja e do milho foram influenciados por elevações do custo de produção e pelo câmbio.

A entidade fez questão de destacar que não houve falta de produtos no país e que os aumentos nos preços são passageiros, assim como ocorreu com a carne bovina no fim de 2019. No caso do arroz, os produtores conseguiram recuperar parte do prejuízo das últimas cinco safras, ressaltou Lucchi. Mesmo com as cotações recorde agora, 75% da produção foi vendida, em média, a R$ 52 a saca de 60 quilos, quase metade do patamar atual.

“Nas últimas duas safras nem o desembolso o produtor de arroz conseguiu cobrir, por motivos diversos, até mesmo porque o consumo vinha caindo. Nessa safra, conseguiu cumprir desembolso e ter lucro”, disse. “O produtor não está ganhando rios de dinheiro, está recuperando prejuízos”.

Lucchi também concordou que a oferta de arroz foi restrita, mas avaliou que a remuneração melhor pode incentivar o aumento produção. Esse é a melhor opção para equilibrar o mercado, diz ele, ao invés de formar estoques regulatórios, como foi cobrado do governo nesta crise.

No mercado internacional, a CNA destacou que a China continuará a ser fundamental para as exportações do país. E não só para soja em grão e carnes, mas também para novos produtos como o melão brasileiro, para o qual o país asiático deverá abrir mais seu mercado.

“Devemos nos afastar de ideologia, somos produtores rurais e precisamos exportar o que produzimos – é mercado, quem paga melhor”, sinalizou João Martins. Ele já garantiu a continuidade dos negócios com o país asiático ao “amigo” embaixador Yang Wanming, e quer explorar mercados potenciais como Indonésia, Tailândia e África.

A superintendente de Relações Internacionais, Lígia Dutra, disse que o governo tem que priorizar acordos com países asiáticos e aproveitar oportunidades com a saída do Reino Unido da União Europeia, que abre portas para embarques de produtos diferenciados com preços mais atrativos.

Apesar do desmatamento na Amazônia ser o maior em 12 anos, o presidente da CNA garantiu que “o Brasil não está de braços cruzados na questão ambiental” e que está pronto para atender às exigências do mundo. Ele informou que a entidade está desenvolvendo, junto ao Ministério da Agricultura, uma plataforma de rastreabilidade para a carne bovina. João Martins disse não temer bloqueios ou represálias no comércio exterior por conta da agenda sustentável. “Já temos lei ambiental rigorosa e temos tudo para cumprir as exigências internacionais. Não vejo nenhum problema nessa área”, concluiu.

Fonte: Valor Econômico.

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