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China faz Minerva Foods deixar IPO no Chile em segundo plano

Na corrida para abastecer o voraz apetite chinês, a Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, está em posição privilegiada. Entre os frigoríficos brasileiros, é o mais exposto à China, o que pode fazer a companhia cumprir o objetivo de reduzir seu índice de endividamento mesmo sem a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da subsidiária Athena Foods.

A abertura de capital, que ocorreria na bolsa de Santiago (Chile) e chegou a ser prevista para setembro, foi colocada na geladeira devido às incertezas políticas provocadas pelas eleições presidenciais na Argentina, principal país de atuação da Athena. Para o caixa da Minerva, a operação poderia render cerca de R$ 1 bilhão, o que ajudaria no processo de desalavancagem.

Em entrevista ao Valor, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, afirmou que a demanda chinesa mudou completamente o cenário, turbinando a geração de caixa. O executivo evita divulgar projeções, mas a expectativa é que a empresa consiga reduzir o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) para entre 2,5 vezes e 3 vezes até 2021. Esse é um nível considerado confortável. No fim de junho (último dado divulgado), o índice era de 3,8 vezes.

Na avaliação de Ticle, a Minerva conseguiu uma expressiva melhora da estrutura de capital ao longo dos últimos 12 meses, e parte desse efeito está relacionado à geração de caixa livre. Em junho do ano passado, o índice de alavancagem da empresa atingiu 5 vezes, um nível preocupante, de acordo com analistas. De lá para cá, a companhia realizou um aumento de capital privado da ordem de R$ 1 bilhão e gerou cerca de R$ 580 milhões em caixa livre.

À medida que a China aumentar as importações para suprir a escassez provocada pela epidemia de peste suína africana, a dinâmica de geração e caixa tende a melhorar. Hoje, a China está entre os países que melhor remunera a carne bovina, algo inusual. De acordo com o diretor financeiro da Minerva, somente o Japão e a Coreia do Sul pagam mais pelos cortes do dianteiro bovino.

Os preços remuneradores pagos por Pequim não são as únicas boas notícias para a Minerva. O volume exportado também deve aumentar. De acordo com Ticle, a participação da Ásia — encabeçada pela China — no faturamento da companhia pode chegar a 45%. Atualmente, a região responde por 35%.

Para tanto, a companhia sediada em Barretos, no interior paulista, conta com a habilitação dos abatedouros de bovinos de Palmeiras de Goiás (GO) e Rolim de Moura (RO) para exportar à China.

As duas plantas foram liberadas por Pequim no mês passado. Com elas, a Minerva passou a ter três de seus frigoríficos no Brasil liberados pela China. A companhia também exporta carne bovina para os chineses a partir da Argentina, onde é a maior exportadora, e do Uruguai.

“A China é o mercado mais estratégico”, ressaltou Ticle. Na última terça-feira, a Minerva deu mais uma passo para avançar no mercado do país asiático. A companhia firmou um memorando de entendimentos para constituir uma joint venture com as companhias chinesas Xuefang Chen e Wenbo Ge para atuar na distribuição e importação de carne bovina para o país asiático. A notícia animou os investidores. Na quarta-feira, as ações da Minerva contrariaram o mau-humor do mercado e subiram 3,8%. No acumulado deste ano, os papéis se valorizaram 107%.

De acordo com Ticle, a sociedade com os grupos chineses deve entrar em operação dentro de 30 dias. Está acordado que o grupo brasileiro terá o controle da joint venture. O modelo exato ainda será definido, e poderá ser feito tanto por meio da Minerva do Brasil quanto de subsidiárias — a Athena poderá fazer parte da sociedade.

Na prática, a joint venture terá direito de preferência sobre a carne bovina que as empresas da Minerva exportarem à China (via Brasil, Argentina ou Uruguai), caso iguale o preço oferecido por outros importadores chineses. Segundo Ticle, a sociedade ajudará a Minerva a conhecer melhor o consumidor chinês. No longo prazo, isso pode até levar a companhia a investir em uma fábrica de cortes porcionados na China.

Além da demanda aquecida para as exportações de carne, a Minerva conta com o câmbio favorável no Brasil e na Argentina. Isso pode fazer com que a companhia ultrapasse a meta de receita líquida. Em março, a companhia projetou encerrar o ano com uma receita líquida entre R$ 16,5 bilhões e R$ 17,5 bilhões, mas esses cálculos tinham como premissa um câmbio a R$ 3,80. No terceiro trimestre, o dólar médio foi de R$ 3,97. Na Argentina, a disparada do peso após a vitória de Alberto Fernández nas eleições primárias tornou a exportação de carne do país vizinho ainda mais rentável para os frigoríficos.

Fonte: Valor Econômico.

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