Às vésperas de sua visita do presidente Jair Bolsonaro a Pequim, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, enfatizou que não há limitação para investimentos chineses no Brasil, ao mesmo tempo em que defendeu o alinhamento com os EUA.
A declaração fez parte dos esforços da delegação brasileira para superar declarações passadas de Bolsonaro, em que dizia que a China não comprava no Brasil, e sim comprava o Brasil.
Araújo frisou que a presença chinesa no Brasil é útil, proveitosa e parte da abertura integral para investimentos externos. Disse que não tem limitação para investimentos chineses no mercado brasileiro e que o país quer mais investimentos chineses e de outras origens.
Uma das polêmicas envolvendo o investimento chinês é a questão da quinta geração de telefonia móvel (5G). Ainda no Japão, onde participou da cerimônia de entronização do imperador Naruhito, Bolsonaro afirmou que o tema não está no seu “radar”. Quanto a se os chineses fizeram algum tipo de pressão sobre o tema, o presidente respondeu: “Comigo, não, conversaram com o vice [Hamilton Mourão]”.
O embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, recentemente, ao comentar sobre a licitação para a implementação da 5G no país, afirmou: “A Huawei não será banida ”. O edital da licitação ainda não é conhecido, mas embaixador acredita que o Brasil não cederá à pressão americana contra a Huawei, empresa que detém o maior número de patentes 5G no mundo. Em agosto, o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, revelou ter “alertado” o governo brasileiro sobre as “vulnerabilidades” da tecnologia chinesa.
Segundo Araújo, o 5G não estará na pauta da visita a Pequim porque o Brasil não tem definição técnica ainda sobre o tema.
Ele afirmou que a expectativa brasileira na visita de Bolsonaro na quinta e sexta-feira é de abrir mais algumas portas no mercado chinês, o que incluiria habilitação de mais frigoríficos para exportação da carne bovina.
O chanceler fez ainda um aceno a Pequim, reafirmando uma posição tradicional do Brasil, de apoio à política de uma só China, ao ser perguntado sobre as manifestações em Hong Kong.
Quanto a riscos para o Brasil de ter apostado demais na relação com Donald Trump, cada vez sob risco de eventual impeachment, Araújo defendeu que vale aproveitar a afinidade entre os governos “para construir coisas importantes para os dois países, em qualquer país o governo muda”.
Ele destacou a “a convicção de que a relação profunda com os EUA é fundamental para o nosso desenvolvimento, crescimento, nossa projeção no mundo e temos que continuar isso, aproveitando que existe essa afinidade”.
O chefe da diplomacia brasileira diz não ver fragilidade política de Trump, com as ameaças de impeachment. “Não vejo essa fragilidade de Trump porque a economia americana vai muito bem”, respondeu. Para ele, “existe muita tentativa de criar factóides desde o começo do governo Trump para tentar diminuí-lo”.
Sobre as incertezas envolvendo o Brexit, a posição brasileira é de fazer rapidamente um acordo comercial com o Reino Unido quando o país sair formalmente do mercado comum europeu.
Quanto às relações com a França, o chanceler admitiu que não estão normalizadas, no rastro das “ofensas” do presidente Emmanuel Macron contra Bolsonaro envolvendo a Amazônia.
Fonte: Valor Econômico.