Principais indicadores do mercado do boi –14-11-2018
14 de novembro de 2018
Perky Jerky lança primeira linha de carne seca de wagyu
14 de novembro de 2018

CEPEA: Participação de mulheres no agro cresce; 68% se mostram satisfeitas com o emprego

Ao longo das últimas décadas, diversas transformações estruturais de naturezas cultural e social ocorridas na sociedade brasileira resultaram em aumento, ainda que lento, da participação da mulher no mercado de trabalho. De fato, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelam que, entre 2002 e 2015, a Taxa de Participação Feminina na Força de Trabalho (TPFT) cresceu aproximadamente 3 pontos percentuais, chegando a 40% em 2015.

Por sua vez, o agronegócio, e sobretudo a agropecuária, é tradicionalmente reconhecido na sociedade pela participação feminina relativamente baixa. Mas este cenário tem sido alterado nos últimos anos.

Diante desse contexto, e dando continuidade à série de estudos referentes ao Mercado de Trabalho do Agronegócio, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, elaborou uma pesquisa, que será divulgada em três volumes, visando avaliar os principais aspectos referentes à atuação da mulher no mercado de trabalho do agronegócio brasileiro, considerando um panorama recente, com evidências empíricas e dados atualizados.

EVOLUÇÃO – Neste primeiro volume do estudo, disponibilizado hoje no site (aqui), pesquisadores do Cepea mostram que, entre 2004 e 2015, houve uma tendência geral de redução da população ocupada (PO) do agronegócio, com queda de 6,6% no período. Enquanto o número de homens atuando no setor diminuiu 11,6%, o total de mulheres trabalhando no agronegócio aumentou 8,3%. Diante desse cenário, a participação da mulher no mercado de trabalho do agronegócio cresceu consistentemente entre 2004 e 2015, passando de 24,11% para 27,97%.

PERFIL – O aumento da participação feminina no agronegócio ocorreu sobretudo na categoria de empregadas com carteira de trabalho assinada, principalmente entre 2009 e 2013. Pesquisadores do Cepea destacam que essa informação é relevante, dado o perfil do agronegócio, marcado por um nível de informalidade mais alto que o médio da economia. Quanto às características socioeconômicas das mulheres do agro, observa-se que o aumento da participação feminina no setor foi impulsionado por trabalhadoras com um maior nível de educação formal, indicando evolução positiva atrelada a empregos que demandam maior qualificação.

SATISFAÇÃO – Das mulheres que atuam no agronegócio, pesquisas do Cepea mostram que 67,9% se mostram satisfeitas (em termos de jornada de trabalho, salário e igualdades de oportunidade e tratamento), praticamente o mesmo percentual apresentado no Brasil, em geral. Já as insatisfeitas com seus empregos no agronegócio correspondem a 20,83% das mulheres, contra 22,3% da média nacional de mulheres insatisfeitas com o emprego.

PRÓXIMOS VOLUMES – O segundo volume detalhará o aumento da participação feminina no trabalho – serão observados os crescimentos nos subgrupos de interesse, delimitados a partir de características como escolaridade, número de filhos, status civil e outros. A terceira parte do estudo focará em questões relacionadas à desigualdade salarial.

Confira o estudo: 

MULHERES NO AGRONEGÓCIO EDIÇÃO ESPECIAL | VOLUME 1

1 ESTUDO SOBRE MULHERES NO AGRONEGÓCIO

Ao longo das últimas décadas, diversas transformações estruturais de naturezas cultural e social ocorridas na sociedade brasileira resultaram em aumento, ainda que lento, da participação da mulher no mercado de trabalho. De fato, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelam que, entre 2002 e 2015, a Taxa de Participação Feminina na Força de Trabalho (TPFT) cresceu aproximadamente 3p.p., chegando a 40% no último ano. Por sua vez, o agronegócio, e sobretudo a agropecuária, é tradicionalmente reconhecido na sociedade pela participação feminina relativamente baixa, cenário que têm sido alterado nos últimos anos.

Diante desse contexto, e dando continuidade à série de estudos referentes ao Mercado de Trabalho do Agronegócio, o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, elaborou uma pesquisa, dividida em três volumes, visando avaliar os principais aspectos referentes à atuação da mulher no mercado de trabalho do agronegócio brasileiro, considerando um panorama recente. Buscou-se trazer evidências empíricas e dados atualizados acerca do tema.

No primeiro e presente volume, apresenta-se a evolução da participação feminina entre 2004 e 2015, descrevendo ainda o perfil dessas mulheres que tem atuado no agronegócio e como esse retrato se alterou no período. Adicionalmente, avalia-se aspectos acerca da satisfação obtida no trabalho para as mulheres atuantes no agronegócio, de forma comparativa com aquelas que atuam nos demais setores.

O segundo volume detalhará o aumento da TPFT a partir de uma análise de decomposição. Para tanto, serão utilizados os crescimentos observados nos subgrupos de interesse, delimitados a partir de características como escolaridade, número de filhos, status civil e outros. Por fim, a terceira parte do estudo focará em questões relacionadas à desigualdade salarial, avaliando esse tema por diversas óticas (temporal, geográfica e características socioeconômicas). Nos três volumes do estudo, considera-se como pessoa ocupada¹ (ou trabalhador(a)) aquelas que (i) são empregadas com ou sem carteira assinada, (ii) atuam por conta própria ou (iii) são empregadoras. Para obtenção das informações, são utilizados os procedimentos metodológicos desenvolvidos pelo Cepea e os microdados anuais da PNAD. De forma complementar, utiliza-se também os dados da RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

2 EVOLUÇÃO RECENTE DA PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO AGRONEGÓCIO

Entre 2004 e 2015, houve uma tendência geral de redução da população ocupada (PO) do agronegócio. No período, a queda foi de 6,6%. Enquanto o número de homens atuando no setor diminuiu 11,6%, o total de mulheres trabalhando no agro aumentou 8,3%. Diante desse cenário, a participação da mulher no mercado de trabalho do agronegócio cresceu consistentemente entre 2004 e 2015, passando de 24,1% para 28% – Figura 1.

Comparativamente ao Brasil como um todo, a participação da mulher no agronegócio ainda é relativamente baixa – em 2015, 40% dos trabalhadores eram mulheres.
Considerados os segmentos do agronegócio, a distribuição das mulheres pelos diferentes elos diverge expressivamente da observada para os homens. Enquanto os homens do agronegócio estão predominantemente atuando no segmento primário (agropecuária), as mulheres atuam principalmente nas agroindústrias e nos agrosserviços. Essa característica do mercado de trabalho agro para mulheres se acentuou ao longo do período analisado, conforme se observa na Figura 2.

Em 2015, apenas 19,66% das mulheres atuando no agronegócio estavam dentro da porteira. Quanto aos elos industriais, 0,91% estava na indústria de insumos e 34,11%, na agroindústria de processamento. O segmento de agrosserviços, por sua vez, se destacou, com participação de 45,32% (Figura 2). Dentro da agroindústria, mais de 45% das mulheres atuam na produção de alimentos e bebidas e cerca de 31%, na indústria têxtilvestuarista. Destaca-se, também, a indústria de preparação de couros e artefatos e calçados de couro, com 17% das mulheres trabalhando na agroindústria nacional – Ver Figura 3.

Já na agropecuária, a concentração de mulheres é mais frequente na hortifruticultura (18,79%), seguida de atividades relacionadas à avicultura (12,19%), a grãos (10,64%) e à bovinocultura (9,72%), em especial aquela destinada à produção de leite. Sobretudo a hortifruticultura, avicultura e produção leiteira são tradicionalmente reconhecidas como atividades de menor exigência de força física. Desse modo, a participação de mão de obra feminima nesses setores é, historicamente, maior que em outras culturas agropecuárias.

Em 2008, o Cepea publicou, por Mônica Georgino, um estudo desmistificando a mão de obra feminina com foco na hortifruticultura. De acordo com esse estudo², as mulheres são muito demandadas em funções que exigem um manuseio mais cuidadoso da fruta; já em funções que exigem força física, há um desestímulo à contratação.

O estudo também destaca que questões “culturais” afetam a contratação de mulheres nessas atividades, e que muitas vezes a própria oferta de mão de obra feminina é baixa, nos casos de lavouras próximas aos centros urbanos (em que há mais opções de empregos industriais e em atividades de serviços). Tendo em mente a evolução positiva da participação da mulher no agronegócio, e o carácter agroindustrial e de serviços dos empregos, parte-se para a análise de aspectos adicionais sobre essa evolução.

3 O PERFIL DAS MULHERES DO AGRO, CENÁRIO ATUAL E EVOLUÇÃO

Primeiramente, avaliando as posições na ocupação e categorias de emprego, verifica-se que o aumento da participação feminina no agronegócio ocorreu sobretudo na categoria de empregadas com carteira de trabalho assinada, principalmente entre 2009 e 2013 –Figura 5. Essa informação é muito relevante principalmente dado o perfil do agronegócio como um todo, marcado por um nível de informalidade mais alto que o médio da economia (Cepea, 2017³).

Complementarmente, a participação dos empregos sem carteira assinada no total das mulheres ocupadas no agronegócio caiu consistentemente no período, principalmente a partir de 2008. Entre 2012 e 2015, verificou-se também um aumento na participação das mulheres atuando por conta própria no agronegócio (Figura 5).

Vale destacar que o grau de formalização da mão de obra feminina empregada no agronegócio evoluiu de maneira mais intensa que o da economia brasileira entre os anos de 2008 a 2012, embora, para o País como um todo, essa tendência também tenha sido verificada.

Para o período em questão, observou-se um crescimento de 5,35% a.a. no número de trabalhadoras com carteira assinada no agronegócio, frente a um aumento de 3,94% a.a. verificado em todo o Brasil. Ao considerar a redução no total de empregos informais, a diferença é ainda maior. Enquanto o número de mulheres ocupadas no agronegócio sem carteira assinada reduziu 5,62% a.a. de 2008 a 2012, a redução no País foi de 2,24% a.a.

Esse comportamento do nível de emprego formal no agronegócio pode ser explicado tanto por fatores macroeconômicos gerais do Brasil, como o (i) bom desempenho da economia no período e (ii) o crescente enforcement entre empresas para a regularização da situação trabalhista de seus funcionários, quanto por fatores setoriais, como a alta e crescente participação da mulher na agroindústria e nos agrosserviços, segmentos tradicionalmente conhecidos por apresentarem maior grau de formalização de sua força de trabalho frente à agropecuária.

Quanto às características socioeconômicas das mulheres do agro, a análise da Figura 6 permite verificar que o aumento da participação feminina no agronegócio foi impulsionado por trabalhadoras com um maior nível de educação formal, indicando evolução positiva atrelada a empregos que demandam maior qualificação.

Enquanto a participação das mulheres com instrução igual ou inferior ao ensino fundamental recuou expressivamente no período, aumentou a participação das mulheres com ensino médio e superior atuando no agro. Especificamente, a participação das mulheres com ensino superior dobrou no período, passando de 7,6% para 15% (Figura 6). É importante reforçar que essa tendência não foi específica do mercado de trabalho do agronegócio, e também foi observada para a média das mulheres no País como um todo.

Em relação à idade, a participação de mulheres com mais de 30 anos atuando no agronegócio tem aumentado em relação à participação de mulheres com 30 anos ou menos, como se observa na Figura 7. Considerando-se o primeiro grupo de mulheres (>30), a participação no mercado de trabalho do agronegócio passou de 60,99% em 2004, para 68,37% em 2015. Esse movimento foi observado de forma consistente ao longo do período. Destaca-se que a tendência também foi verificada para o Brasil como um todo, com a participação de mulheres com mais de 30 anos aumentando de 58,86% para 68,49% de 2004 a 2015. Dentre as possíveis explicações para essa tendência, pode-se citar o processo de envelhecimento da população brasileira que, por sua vez, reflete na idade média da população ocupada e, mais recentemente, uma mudança de comportamento dos trabalhadores, que estão cada vez mais optando por adiar sua saída do mercado de trabalho.

Ao longo de todo o período estudado, predominou no mercado de trabalho feminino do agronegócio a participação de mulheres casadas e com filhos. Porém, essa participação diminuiu no período, para 51,55% em 2015. A participação das mulheres solteiras e com filhos também diminuiu: 3,32 p.p. no período. Por outro lado, aumentou em 6,26 p.p. a participação das mulheres casadas e sem filhos. Essa tendência também pode refletir uma mudança da estrutura geral das famílias no País.

Finalmente, a distribuição das mulheres do agronegócio por situação do domicílio, entre áreas rurais e urbanas, não passou por transformações relevantes no período estudado, mantendo-se a predominância da zona urbana (Figura 9). Essa distribuição é compatível com a estrutura do mercado de trabalho do agronegócio da mulher, em que predominam os empregos agroindustriais e de serviços em relação aos empregos agropecuários.

4 SATISFAÇÃO COM O TRABALHO, AGRONEGÓCIOVERSUS BRASIL

Em sua edição de 2015, como resultado direto da parceria entre IBGE, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), a PNAD disponibilizou, sob forma de suplemento, dados acerca das relações de trabalho existentes no País e seus principais aspectos. Especificamente, foram abordadas as satisfações com o salário, jornada de trabalho e com a promoção de igualdade de oportunidades e de tratamento. Tendo em vista que o senso comum considera o agronegócio como um setor tradicionalmente masculino, poderia se esperar que a mulher do agro fosse, em média, menos satisfeita que as mulheres em geral atuando no País. A partir dessas informações, nosso estudo mostra que o nível de satisfação no agronegócio é semelhante ao nível médio verificado para as mulheres no Brasil – Figura 10.

Vale explorar também o quão satisfeitas as mulheres estão com os programas de capacitação profissional oferecidos no emprego. Inicialmente, a tabulação dos dados indica que possibilidades de aperfeiçoamento profissional por meio de cursos oferecidos pelo empregador são mais frequentes no agro, uma vez que o número de mulheres empregadas no setor que declararam não ter acesso a tais programas foi de 38,67%, frente a uma taxa de 40,89% relatada por mulheres no Brasil em geral. Adicionalmente, o percentual de trabalhadoras satisfeitas com a capacitação profissional recebida no agro foi de 43,86% em 2015, ao passo que a satisfação verificada em trabalhadoras atuantes nos demais setores da economia (inclusive o agronegócio) foi de 40,92%.

5 APESAR DO AVANÇO, MELHORIAS AINDA SÃO NECESSÁRIAS

Ao longo deste estudo, buscou-se indicar importantes melhorias ocorridas na participação e no perfil das mulheres ocupadas no agronegócio nos últimos anos, como o crescente nível de instrução das trabalhadoras, o maior grau de formalização do emprego e o bom nível de satisfação com trabalho (relativamente à satisfação média do Brasil). Contudo, apesar das evoluções positivas citadas, outros aspectos ainda carecem de atenção, como o nível hierárquico dos cargos usualmente ocupados por mulheres no agronegócio.

Ao considerar o segmento “dentro da porteira”, apesar da evolução recente do número de mulheres que administram propriedades agropecuárias, o total de mulheres desempenhando essa atividade ainda é baixo: 15,31% em 2015. Vale destacar que a participação feminina é mais acentuada em estabelecimentos ligados a ativida des pecuárias, como demonstra a Figura 11.

Para os demais segmentos (Insumos, Agroindústria e Agrosserviços), a realidade se repete. Em 2015, a cada 10 dirigentes, apenas três eram mulheres. A mesma proporção é válida para os cargos de gerência (ver Figura 12). Tais dados chamam a atenção para a persistência da desigualdade existente entre homens e mulheres quanto à ocupação de cargos de decisão em organizações, seja essa uma propriedade rural, agroindústria ou empresa prestadora de serviços – embora esse diferencial tenha se reduzido no período.

¹ Empregos relacionados à carreira pública, militar ou subsistência foram excluídos da análise pelo fato de tais atividades apresentarem um mercado de trabalho com características distintas das relações tradicionais de contratação, remuneração e respostas ao nível de atividade econômica e outros
choques.

² https://www.cepea.esalq.usp.br/br/documentos/texto/mercado-de-trabalho-do-agronegocio-brasileiro-resultados-preliminares.aspx

4 A desagregação da população feminina ocupada no agronegócio por tipo de família foi realizada com base na classificação de famílias definida pelo IBGE.

5 Para o cálculo do índice de satisfação, utilizou-se uma média simples entre (i) satisfação com salários; (ii) satisfação com a jornada de trabalho e (iii) satisfação com a promoção de igualdade de oportunidades e tratamento.

Fonte: Cepea.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress