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Cenários e Alternativas Sistêmicas para a Cria no Brasil (vídeo, slides e artigo)

Cenários e Alternativas Sistêmicas para a Cria no Brasil, Julio Barcellos - Nespro UFRGS

Existe um negócio consolidado pela cria no Brasil?

Essa é uma questão importante, pois esse é um negócio que apesar de fazer parte de uma cadeia produtiva apresenta algumas deficiências. Assim, quando analisamos a cria dentro de um sistema produtivo de ciclo completo temos um resultado completamente diferente de uma cria especializada na produção de bezerros. Na segunda opção o resultado da produção é o bezerro. Já no ciclo completo, as ineficiências ou eficiências são distribuídas ao longo do ciclo, ficando diluídas no processo produtivo e somente identificada por meio de uma análise mais criteriosa da atividade.

Evidentemente, quando tratamos apenas da cria, precisamos tratá-la de forma independente sem levar em consideração os processos que ocorrem nas fases subsequentes do ciclo (recria e engorda).

Dessa forma podemos notar que neste negócio (cria):

• faltam investimentos e fundos de aplicação financeira;
• só agora as empresas de insumos começa a levar uma estrutura de apoio e serviços para o setor de cria, enquanto na terminação esse já é um sistema muito conhecido e eficiente que vem sendo aplicado há muito tempo;
• os processos de comercialização (alianças e verticalização) ainda não foram regulamentados, isso quer dizer que ainda não foram estabelecidos padrões para a negociação de bezerros.

Todos esses fatores tornam a organização produtiva extremamente deficiente.

Neste cenário existem pelo menos dois aspectos que devem influenciar o setor de cria: a concentração cada vez maior da indústria frigorífica e as mudanças climáticas.

No que diz respeito às mudanças climáticas, a cria tem um papel muito interessante, pois é realizada a pasto e emite menos metano do que a terminação de bovinos, que no mundo inteiro é realizada em confinamentos de grande escala. Apesar desse aspecto positivo, a produção de bezerros também sofrerá pressões ligadas ao clima, já que normalmente o aumento da produção é realizado com o aumento do número de vacas por unidade de área e este procedimento está intimamente ligado à expansão das fronteiras agrícolas e ao desmatamento.

Pensando mais em questões mercadológicas, sabemos que o mercado de bezerro tem alta correlação com o do boi gordo, assim é possível esperar que a cria se depare sempre com dois cenários: preço do boi bom ou preço do boi ruim.

Olhando o negócio por essa ótica, o terminador entende que o seu negócio melhora quando o preço do bezerro está baixo, pois a relação de troca está favorável. Contudo, ele não percebe que diante dessa conjuntura, com o preço do seu principal insumo estando barato, muitos concorrentes entram na atividade como oportunistas. Esses novos agentes baseiam sua rentabilidade nos preços baixos do bezerro sem considerar seu processo produtivo com profissionalismo e não aplicam tecnologia. Essa atitude, representada pela entrada de novos agentes que veem na atividade apenas como uma oportunidade de negócios, causa um desequilíbrio do mercado, reduzindo as margens da atividade.

Por outro lado, quando o preço do boi está bom – quando a margem aumenta – o produtor de bezerros também começa a descuidar dos processos, reduzindo sua eficiência.

Dessa forma, apesar da relação entre os dois mercados, sempre é ruim observar a cria sob a ótica do preço do boi gordo. É preciso enxergar que a cria é que sustenta toda a cadeia sendo responsável pelo bom andamento do ciclo pecuário, já que é caro, demorado e difícil produzir bons bezerros, com potencial para produzir bons animais para a engorda e no futuro uma carne de qualidade.

Pensando dessa forma é que a cria tem se tornado cada vez menos extrativista e extensiva, para se tornar uma atividade extremamente especializada e que agora passa a depender muito de novas tecnologias, uso de insumos e serviços. Isso é importante, pois começa a mudar a matriz negocial da cria, que deixa de olhar apenas para a tecnologia de processos e passa a dar importância também para a tecnologia de insumos, cobrando um outro posicionamento dos produtores, das indústrias de insumos e dos técnicos.

Assim podemos assumir que a cria pode ser dividida em dois modelos: um de grande escala, que trabalha com baixo custo e o bezerro como uma commodity; e o sistema que busca diferenciação, trabalhando com alto custo de produção, mas com alta produtividade e vendendo bezerros a preços mais altos.

Nessa dinâmica, alguns estudos foram feitos para descobrir a relação entre o nível tecnológico empregado na pecuária de cria e a margem líquida da atividade. Os resultados apontam que a grande maioria dos produtores que tem baixo nível tecnológico tem baixa margem líquida e o inverso também e verdadeiro, ou seja, a maioria dos pecuaristas que aplicam tecnologias melhores na produção conseguem aumentar sua margem líquida. Portanto investir em tecnologia e gestão é estratégico e fundamental. Mas, como podemos ver no gráfico abaixo, também é possível encontrar casos onde se investe em tecnologia e as margens continuam baixas, resultados de ineficiência operacional.

Assim não basta adquirir pacotes tecnológicos prontos; é preciso avaliar qual é o objetivo da produção? Qual é o custo disso? Quanto de benefício isso irá me trazer? Qual é a viabilidade operacional desse processo? Qual é a flexibilidade desse sistema? Assim é necessário fazer um exercício rápido, para que só depois de respondidas essas perguntas quantificar o risco, para então tomar a decisão sobre a adoção ou não de uma nova tecnologia.

Outra questão essencial para o setor é porque não conseguimos atingir a eficiência que pecuaristas de outros países conseguem? Um dos pontos claros para chegarmos a essa conclusão é que no Brasil o produtor não é o executor. Quem cuida do dia a dia da produção é o gerente, o capataz ou o peão, então em uma atividade que depende fundamentalmente de processos a eficiência operacional é importantíssima e não pode ser deixada a cargo de qualquer um.

Assim para corrigir essas ineficiências, o criador precisa utilizar os avanços da pesquisa e inovação tecnológica, utilizar insumos modernos e buscar melhorar a operacionalidade do sistema através de gestão de pessoas e da eficiência na comercialização.

Para conseguir melhorar a produção precisamos acompanhar as mudanças implantando novos manejos e novos conceitos, como mudanças na estação reprodutiva e busca de maior precocidade, ou seja, precisamos estudar a adoção de processos e insumos modernos para melhorar a rentabilidade da atividade de cria.

Para garantir uma boa operacionalidade e consequentemente que a produção atenda as expectativas do projeto é preciso ter uma boa coleta de dados, conseguir informações confiáveis, realizar a análise dos resultados e ao final desse processo implementar atitudes para corrigir os erros. Para conseguir que esse processo seja bem sucedido o pecuarista precisa de coerência no registro de ocorrências e controles, pessoas treinadas e um gestor comprometido.

Além disso, uma cria eficiente exige do pecuarista mais do que a adoção de tecnologia e o controle da atividade. Ele deve atento para alguns pontos como: planejar sua receita, planejar suas compras, não especular retendo produto, repor insumos em épocas mais favoráveis e aumentar a escala de compra (associação, integração ou compartilhamento de informações).

Pensando em todos esse fatores, podemos concluir que para atingir os pontos pretendidos, os pecuaristas precisam criar diferenciais e buscar maior organização da cadeia, criando e implantando normas e inovação.

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