Filosoficamente no Brasil, o conceito de carne de qualidade e agregação de valor na cadeia da carne bovina já existe há bastante tempo e é lógico que, com o passar dos anos, já batizamos e enterramos vários cases de sucesso, que nasceram com o nobre objetivo de revolucionar o negócio pecuário e morreram afogados em uma série de processos falhos e conceitos equivocados, iludindo os desinformados e decepcionando os sonhadores.
Carta endereçada aos projetos de carne que não respeitaram os conceitos de padrão, constância, qualidade e integração da cadeia
Santa Cecilia, SC – outubro de 2050
Caros amigos,
Entendam que esta é apenas uma brincadeira, pois não tenho, nem de longe, a pretensão de ser um guru da pecuária, tampouco ditar as regras do certo e errado. Eu acredito que, como em tudo na vida, não existem verdades absolutas e, portanto, lhes escrevo com o intuito de trocarmos ideias sobre pecuária de corte e carne de qualidade.
Dito isso, os convido a mergulhar em Kotler por alguns instantes, e transferir para a pecuária uma lição de um dos grandes mestres do marketing e da administração no mundo.
“As empresas que realizam serviços de alto padrão são obcecadas pelos consumidores, compreendendo precisamente suas necessidades, e buscando sempre, ser extremamente fiéis aos seus objetivos’’ (Kotler)
Talvez seja exatamente esse o grande segredo de sucesso de qualquer negócio, ou seja, o grau de comprometimento das pessoas para com as pessoas, passando assim, por uma série de processos sérios e comprometidos que resultarão na satisfação dos clientes e posterior posicionamento de uma marca no mercado.
Isso parece bastante simples, mas na verdade não é…
Tenho visto ultimamente uma série de projetos de agregação de valor na pecuária surgindo no Brasil, sempre com boas intenções e nem sempre com bons planejamentos, muitos deles em algum momento acabam tropeçando em falta de qualidade, padrão ou problemas de constância de fornecimento. Até aí, nenhum problema, pois contratempos fazem parte do jogo e só os tem quem topa o desafio de fazer algo diferente.
Acredito que, independente do tamanho, todos os projetos de carne de qualidade nascem para dar certo, desde que a honestidade e o planejamento sejam levados a sério e que as tais regras mais básicas desse jogo, leia-se – padrão, qualidade e constância– sejam jogadas. Ao contrário, volto a prever: decepcionaremos os sonhadores e iludiremos os desinformados.
Além do mais, é necessário que se tenha clareza que o fermento dessa receita de sucesso é a integração da cadeia da carne como um todo, e que os louros e os prejuízos do processo devem ser compartilhados.
Pegando um gancho nisso, talvez seja esse o motivo do grande sucesso e desenvolvimento dos Programas de certificação de carcaça, realizados pelas associações de raça. Que tem, em suma, um foco muito grande nos processos e nas pessoas.
Programas de certificação racial e carne de qualidade.
Os programas de certificação de carcaça iniciaram no Brasil há quase 15 anos. A Associação Brasileira de Hereford e Braford, através do Programa Carne Pampa, foi pioneira no processo, e hoje, juntamente com a Associação Brasileira de Angus, protagonizam os dois maiores projetos de carne de qualidade do país.
A intenção primária é logicamente valorizar as raças e, como adjacências, conseguir oferecer as pessoas um produto capaz de atender as suas expectativas de consumo, gerando, por consequência, uma convergência de ideais bastante consistentes. Lembram-se do Kotler? Sem filosofia, é bem isso que buscamos fazer.
Li um post dias atrás defendendo a ideia de que os Programas de Carne de Qualidade já teriam cumprido os seus papéis, e que de agora em diante se fazia necessário um maior envolvimento da cadeia, onde o processo de carne de qualidade não se inicie apenas no curral do frigorífico.
Confesso que pensei muito sobre o tema e pontuo a seguir algumas conclusões sobre verdades absolutas:
Sei que ainda temos muito a fazer e aprimorar, mas sei também que estamos no caminho certo e que se seguirmos com foco, objetivo e honestidade nunca seremos um dos “enterrados” da carta que será escrita por um futuro senhor de 61 anos.
Por Alfredo Bonet Drissen é médico veterinário e superintende administrativo da Associação Brasileira de Hereford e Braford.