Vendas de supermercados voltam a crescer após choque das proteínas, aponta IBGE
7 de abril de 2020
Três frigoríficos foram fechados em Iowa e Pensilvânia por surto de coronavírus
7 de abril de 2020

Cargill vê o Brasil como fornecedor confiável na crise

A decisão de alguns países de restringir exportações agrícolas para assegurar o abastecimento interno de alimentos durante a crise provocada pelo coronavírus pode ser uma oportunidade para o Brasil se apresentar como um fornecedor global “confiável”. Essa é a visão da Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, que não vê riscos ao abastecimento interno e está mantendo suas projeções de crescimento no país para este ano, apesar de todas as turbulências.

“Não temos necessidade de contingenciar exportação. Isso dá uma confiabilidade para o país que vai trazer vantagem competitiva no futuro”, disse Paulo Sousa, presidente da companhia no Brasil. Nos últimos dias, importantes exportadores de grãos, como Rússia e Ucrânia, e de outros alimentos, como Índia e Vietnã, decidiram restringir seus embarques, o que levou autoridades internacionais a defender a preservação do comércio agrícola no mercado internacional.

Outros países, sobretudo na Europa, estão enfrentando problemas para encontrar mão-de-obra para cultivar e colher alguns produtos após fecharem fronteira com países onde vivem seus trabalhadores sazonais. Mas Sousa acredita ser pouco provável que essa situação perdure por muito tempo, a ponto de direcionar a demanda dessas nações para a oferta brasileira. “Se acontecer, pode ser em carnes, com mais demanda por aves e suínos brasileiros”, afirmou.

Segundo o executivo, a forte demanda por alimentos brasileiros em um cenário de crise já se refletiu nos dados de exportação de março, sobretudo de soja e derivados, quando houve uma “preocupação grande dos países em geral de garantir suprimento e até um cenário de antecipação de compras em alguns casos para garantir acesso ao produto”.

Sousa disse que houve uma corrida de clientes para garantir posição na fila de navios nos portos quando surgiram ameaças de greve no porto de Santos, quando os trabalhadores ainda estavam receosos quanto às medidas sanitárias adotadas pelas autoridades.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor de transportes, como o fechamento de restaurantes nas rodovias, Souza avalia que houve coordenação do governo para garantir apoio e mobilização de transportadoras e que, agora, não faltam caminhões para o escoamento de produtos do campo.

Com a busca dos países por abastecimento, fortes embarques do complexo soja para abril e maio já estão garantidos, disse. Nesse ritmo, a Cargill ruma para mais um forte ritmo de vendas neste ano. Em 2019, a companhia originou, processou e comercializou mais de 37 milhões de toneladas do complexo soja, avanço de 18%.

O que já começa a ocorrer é uma mudança no perfil dessas exportações, com uma menor participação de óleo de soja, afetada pela redução da demanda global por biodiesel. “A redução de preço do petróleo e a queda do consumo levaram diversos produtores de biodiesel a postergar ou revender posições de compra de óleo. Hoje, o óleo é o mercado que, no complexo de soja, mais sentiu problema”.

Mesmo a demanda pelo produto no Brasil para biodiesel deve recuar, pressionada pelo menor consumo de diesel. Mas ele não vê impactos na produção de suas fábricas, dado o mercado local de óleo de cozinha. “Isso aumenta o conforto [de oferta] no Brasil”, atestou.

O executivo descartou qualquer possibilidade de desabastecimento doméstico ante mais exportações e ainda atribuiu os recentes elevações de preços no país à alta do dólar, que impactou os valores das vendas ao exterior.

Até agora, uma das poucas atividades da Cargill que sentiram as mudanças no perfil de consumo foi a de ingredientes para o setor cervejeiro. “Os ingredientes que vendemos ao setor, por alterações no processo, podem ser usados para outros fins. Podemos alocar capacidade para produtos com demanda normal.”

E se a redução da demanda por carne vermelha afeta vendas de rações para bovinos, a migração do consumo para aves e suínos favorece o negócio de rações da Cargill, mais voltado a esses dois mercados.

Outro efeito das medidas contra o coronavírus foi a paralisação das obras da fábrica de pectina em Bebedouro (SP), mas que devem ser retomadas quando a construção civil voltar a operar.

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress