Os investimentos globais de capital de risco em empresas do agronegócio bateram recorde em 2020 antes mesmo de consolidadas as estatísticas sobre as operações realizadas no ano. Até outubro, agtechs e foodtechs (estas, do ramo de alimentos) captaram, somadas US$ 11,6 bilhões, segundo pesquisa do fundo americano de capital de risco Finistere Ventures, especializado no segmento agrícola.
De janeiro a outubro, as agtechs levantaram US$ 3 bilhões, montante superior aos US$ 2,7 bilhões em operações realizadas em todo o ano de 2019. As captações das foodtechs, por sua vez, chegaram a US$ 8,4 bilhões nesse mesmo intervalo – elas haviam sido de US$ 7 bilhões no ano anterior.
Segundo o Finistere Ventures, com a pandemia de covid-19, consumidores e investidores puderam compreender melhor a relevância da cadeia de suprimentos do agronegócio e os desafios da produção de alimentos.
“O ano de 2020 provou ser revolucionário para os aportes em agtechs de agricultura vertical, com o segmento capturando 28% do capital investido”, disseram os autores da pesquisa, Arama Kukutai e Ingrid Fung. Os exemplos mais emblemáticos foram das rodadas de investimentos nas americanas Plenty (US$ 315 milhões) e Bright Farms (US$ 100 milhões) e na alemã InFarm (US$ 170 milhões).
A busca por alternativas mais sustentáveis na proteção de cultivos foi outra frente que deslanchou, com fatia também de 28% no bolo dos aportes em agtechs. O mais expressivo deles (US$ 102 milhões) foi na americana GreenLight Bio (US$ 102 milhões). A empresa criou um biopesticida à base de RNA que “silencia” genes específicos das pragas alvo no campo.
Entre as foodtechs, os investimentos foram mais representativos nas startups que disponibilizam ou entregam cestas de alimentos e refeições (36%), seguidas das de proteínas alternativas (31%) e e-commerces do agro (21%).
Na visão do Finistere Ventures, o interesse pelo segmento de proteínas alternativas, que explodiu com o IPO (oferta pública de ações) da Beyond Meat em 2019, precisará mostrar no longo prazo que de fato tem fôlego. Entre os desafios estão o alto custo para erguer fábricas e manter os canais de marketing funcionando, além de questões técnicas para desenvolvimento e aprovação de biotecnologias. “A próxima onda precisará mostrar ofertas diferenciadas, especialmente em produtos fermentados e baseados na multiplicação de células”, diz a pesquisa.
Fonte: Valor Econômico.