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Cânceres no sistema geniturinário e consumo de carne – Parte 1/2

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer. A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer.

Introdução

O pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., elaborou um relatório técnico sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer. Esse relatório não teve a intenção de incluir sistematicamente todos os componentes de causa, como dose-resposta ou possibilidade biológica, entre as carnes vermelhas e processadas e tipos específicos de câncer. A ideia do trabalho foi sintetizar informações científicas relacionadas aos tipos de câncer com os quais o consumo de carne foi avaliado e recapitular algumas das associações estatísticas observadas entre a ingestão de carnes vermelhas e processadas e o câncer.

Esse artigo traz uma tradução adaptada desse relatório, publicado no site www.beefresearch.org.

Câncer de próstata

O câncer formado nos tecidos da próstata, que é uma glândula reprodutiva masculina em forma de noz, localizado abaixo da bexiga, é chamado de câncer de próstata. Essa glândula contém células que produzem o fluido seminal, que ajudam a transportar o sêmen. O câncer de próstata é frequentemente diagnosticado como malígno em homens dos Estados Unidos, sendo responsável por aproximadamente um quarto de todos os cânceres masculinos. Essa malignidade é responsável por aproximadamente 10% de todas as mortes por câncer entre os homens dos Estados Unidos. Em todo o mundo, essa doença é a segunda forma mais comum de câncer em homens, com somente o câncer de pulmão tendo mais diagnósticos por ano (1).

Estudos epidemiológicos identificaram alguns importantes fatores de risco para câncer de próstata; entretanto, sua etiologia é ainda bastante desconhecida. O risco de câncer de próstata aumenta com o envelhecimento, particularmente após os 65 anos. Homens afro-americanos têm mais chances de serem diagnosticados com essa doença do que homens caucasianos (2,3). Pessoas com histórico familiar de câncer de próstata em parentes de primeiro grau podem ter mais chances de desenvolver essa doença.

As relações entre fatores comportamentais e dietéticos e câncer de próstata foram avaliadas em vários estudos epidemiológicos; entretanto, o papel desses fatores em potencialmente aumentar ou reduzir os riscos de câncer de próstata não foi claramente definido. Em um estudo de 2007 (4) sobre dieta e câncer, concluiu-se que alimentos contendo licopeno ou selênio, e a suplementação com selênio, provavelmente reduziam os riscos de câncer de próstata, e que dietas ricas em cálcio provavelmente aumentavam esse risco. No mesmo estudo, a associação entre a ingestão de carnes processadas e câncer de próstata foi considerada sugestiva, embora se soubesse que os dados eram limitados. Mais de uma dúzia de estudos de coorte avaliaram o consumo de carnes vermelhas e câncer de próstata e os resultados desses estudos não são indicativos de um maior risco dessa doença (5). Em uma análise feita em 2007 com aproximadamente 300.000 homens, Cross et al. (6) não reportaram associação com câncer de próstata entre homens na categoria de maior consumo de carnes vermelhas. Em uma análise de um subgrupo menor dessa coorte, vários fatores correlacionados (como práticas de cocção, ferro heme, nitratos, mutagênicos dietéticos) à ingestão de carne foram avaliados (7). Não foram vistas associações entre a ingestão de carne frita, preparada no micro-ondas ou assada com o câncer de próstata, mas uma associação positiva significante foi observada para carne grelhada em churrasco (7). Além disso, não foram observadas associações significantes para nenhuma amina heterocíclica que foi avaliada. Associações significantes fracamente elevadas entre ingestão de nitrato e nitrito e o câncer de próstata avançado foram reportadas e nenhuma associação foi observada para ferro total, mas uma associação levemente elevada, apesar de significante, foi encontrada para ferro heme (7).

Rodriguez et al. (8) avaliaram a ingestão de carne e câncer de próstata no Estudo de Prevenção do Câncer II (CPS II) em Coorte Nutrição da Sociedade Americana de Câncer (ACS). Um total de 5.028 e 85 casos incidentes de câncer de próstata foi identificado entre 64.897 homens caucasianos e 693 homens afro-americanos na coorte, respectivamente. Nenhuma associação com a maior ingestão de carnes vermelha foi encontrada entre homens caucasianos e nenhuma associação positiva foi observada entre homens afro-americanos, apesar de os dados serem consideravelmente mais escassos entre os afro-americanos. Em uma análise de dados do Estudo de Saúde Agrícola (9), não foram reportadas associações significantes entre consumo de carnes vermelhas, steaks de carne bovina, hambúrgueres, steaks suínos, bacon/salsichas e câncer de próstata.

Existem alguns resultados de estudos caso-controle que relacionam o consumo de carnes vermelhas e o câncer de próstata; embora algumas associações tenham sido positivas, algumas foram nulas e, outras, inversas. Não foi encontrada associação para carnes vermelhas em um estudo de caso-controle canadense recentemente publicado com 1.800 casos de câncer de próstata (10).

Os resultados para carnes processadas de estudos de coorte são mais heterogêneos do que para carnes vermelhas e relativamente mais associações positivas foram reportadas. Entretanto, associações nulas foram observadas em três grandes estudos de coorte (6,8,11). Assim como com a ingestão de carnes vermelhas, estudos caso-controle de ingestões de carne processada e câncer de próstata produziram resultados altamente variáveis. No estudo canadense mencionado acima (10), uma associação positiva estatisticamente significante entre a categoria de maior ingestão de carne processada e câncer de próstata foi reportada.

Em uma publicação de 2008 do estudo Pesquisa Europeia Prospectiva sobre Câncer e Nutrição (EPIC, sigla em inglês) (12), os pesquisadores avaliaram a relação entre ingestão de gordura na dieta, incluindo gordura de carnes vermelhas e processadas, e câncer de próstata em aproximadamente 150.000 homens. Os autores reportaram reduções nos riscos de câncer de próstata total para cada aumento por unidade de gordura das fontes de carnes vermelhas e processadas.

As evidências epidemiológicas disponíveis não apoiam uma associação independente entre consumo de carnes vermelhas e câncer de próstata, à medida que as descobertas de estudos de coorte maiores e melhor conduzidos foram nulas. Com relação à carne processada, a maioria dos estudos indicou um maior risco de câncer de próstata. Entretanto, as descobertas dos estudos foram variáveis e as associações e alguns dos maiores estudos de coorte não apoiaram uma relação independente entre ingestão de carne processada e câncer de próstata (5).

Cânceres testicular e peniano

Os testículos são glândulas reprodutivas masculinas que produzem espermatozóides e o hormônio testosterona. Homens jovens e de meia-idade têm mais riscos de desenvolver câncer testicular, apesar de essa doença ser rara. O principal fator de risco para câncer testicular é uma condição chamada criptorquidismo ou testículo retido – quando um testículo ou ambos não conseguem descer do abdômen para o escroto. O câncer peniano, apesar de muito raro nos Estados Unidos e na Europa, é mais comum em certas localidades da América do Sul e África (3). A circuncisão logo após o nascimento pode reduzir o risco de desenvolvimento de câncer peniano, enquanto a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou a infecção com o papilomavírus humano (HPV) pode aumentar esse risco.

Não foram estabelecidos fatores dietéticos como contribuintes para o risco de câncer testicular ou peniano. Em um estudo recente de caso-controle conduzido no Canadá (10), os pesquisadores reportaram que os maiores consumidores de carnes processadas tinham um risco estatisticamente significante maior de 50% de desenvolvimento de câncer de testículos. As carnes vermelhas não foram associadas com câncer de testículos nesse estudo. Em suma, os dados epidemiológicos disponíveis são limitados com relação ao câncer testicular e peniano, e a comunidade cientifica não considera que o consumo de carnes vermelhas esteja relacionado com o desenvolvimento dessas doenças.

Referências bibliográficas

1) Parkin DM, Bray F, Ferlay J, Pisani P. Global cancer statistics, 2002. CA Cancer J Clin 2005;55(2):74-108.

2) Ries LAG, Melbert D, Krapcho M, et al. (eds). SEER Cancer Statistics Review, 1975-2004. Bethesda, MD: National Cancer Institute. Based on November 2006 SEER data submission, posted to the SEER web site, 2007. http://seer.cancer.gov/csr/1975_2004/.

3) American Cancer Society (ACS). Cancer Facts and Figures 2008.

4) World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research (WCRF/AICR). Food, Nutrition, Physical Activity and the Prevention of Cancer: a Global Perspective. Washington DC: AICR, 2007.

5) Alexander DD, Cushing CA. A meta-analysis of red or processed meat intake and prostate cancer. Society for Epidemiologic Research, Anaheim, CA, 2009.

6) Cross AJ, Leitzmann MF, Gail MH, Hollenbeck AR, Schatzkin A, Sinha R. A prospective study of red and processed meat intake in relation to cancer risk. PLoS Med 2007;4(12):e325.

7) Sinha R, Park Y, Graubard BI, et al. Meat and meat-related compounds and risk of prostate cancer in a large prospective cohort study in the United States. American Journal of Epidemiology 2009;170(9):1165-77.

8) Rodriguez C, McCullough ML, Mondul AM, et al. Meat consumption among Black and White men and risk of prostate cancer in the Cancer Prevention Study II Nutrition Cohort. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2006;15(2):211-6.

9) Koutros S, Cross AJ, Sandler DP, et al. Meat and meat mutagens and risk of prostate cancer in the Agricultural Health Study. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2008;17(1):80-7.

10) Hu J, La Vecchia C, DesMeules M, Negri E, and Mery L. Meat and fish consumption and cancer in Canada. Nutr Cancer 2008;60:313-24.

11) Park SY, Murphy SP, Wilkens LR, Henderson BE, Kolonel LN. Fat and meat intake and prostate cancer risk: the multiethnic cohort study. Int J Cancer 2007;121(6):1339-45.

12) Crowe FL, Key TJ, Appleby PN et al. Dietary fat intake and risk of prostate cancer in the European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition. Am J Clin Nutr 2008;87(5):1405-13.

Esse artigo traz uma tradução adaptada do relatório feito pelo pesquisador Dominik D. Alexander, PhD, MSPH, epidemiologista sênior da Health Sciences Practice, Exponent, Inc., sumarizando as atuais evidências epidemiológicas relacionadas ao consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e o câncer, publicado no site www.beefresearch.org.

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