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Cana-de-açúcar: saiba como reduzir a frequência de cortes na capineira sem utilizar cal micropulverizada

Tradicionalmente, a cana-de-açúcar é utilizada na forma de capineira. Contudo, o corte diário tem sido uma das principais dificuldades quanto ao uso dessa cultura como alimento para os animais. Com o objetivo de contornar este entrave, produtores e pesquisadores estão em busca de estratégias alternativas, as quais possibilitem colher a forragem com menor frequência. Por Thiago Fernandes Bernardes e Rafael Camargo do Amaral.

Por Thiago Fernandes Bernardes e Rafael Camargo do Amaral.

O lançamento de dezenas de variedades e o domínio das técnicas de cultivo provenientes da agricultura estão impulsionando a utilização da cana-de-açúcar nas fazendas zootécnicas nos últimos anos (acesse aqui). Aliado a esses fatos, este volumoso se justifica como ingrediente na dieta dos ruminantes pela sua elevada produtividade e valor nutritivo satisfatório (alta concentração de sacarose nos colmos).

Tradicionalmente, a cana-de-açúcar é utilizada na forma de capineira. Contudo, o corte diário tem sido uma das principais dificuldades quanto ao uso dessa cultura como alimento para os animais. Com o objetivo de contornar este entrave, produtores e pesquisadores estão em busca de estratégias alternativas, as quais possibilitem colher a forragem com menor frequência.

O tratamento da cana-de-açúcar com cal micropulverizada passou a ter intenso uso nos últimos anos; porém, os resultados da maioria dos estudos mostraram efeito discreto do aditivo sobre o valor nutritivo quando o volumoso é picado e estocado em montes por diversas horas (ou dias). Do ponto de vista prático e econômico, a aplicação de aditivo pode ser um entrave para o produtor, pois o mesmo necessita investir na compra do insumo e de maquinário específico para a sua aplicação.

Desse modo, ferramentas de manejo mais simples e de menor impacto econômico devem ser alcançadas para se reduzir os turnos de colheita, migrando assim para um sistema de maior flexibilidade nas fazendas que utilizam a cana-de-açúcar na forma de capineira. Desse modo, um estudo foi conduzido no Departamento de Zootecnia (DZO) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), com o objetivo de avaliar o efeito do tempo de estocagem da cana-de-açúcar com ou sem palhas e ponteiros sobre as perdas de massa e alterações no valor nutritivo.

As plantas maduras de uma capineira (segundo ano de cultivo) foram colhidas manualmente, realizando-se corte nos colmos, rente ao solo. Todo o montante de plantas colhidas foi dividido em duas porções. Em uma delas, o ponteiro (folhas) e as palhas foram separados dos colmos, os quais constituíram o primeiro tratamento (colmos sem ponteiro e palhas – CSPP). Da segunda porção, nenhum dos componentes (ponteiro e palhas) foi retirado, definindo-se então o segundo tratamento (colmos com ponteiro e palha – CCPP). Cada porção (com ou sem os componentes morfológicos) foi separada em feixes, com o objetivo de se avaliar o efeito do tempo de estocagem (2, 4, 6, 8 e 10 dias).

As concentrações de fibra e de açúcares não foram alteradas ao longo do armazenamento em ambos os tratamentos. Características sensoriais, tais como o odor e a coloração também não foram alteradas.

Contudo, observou-se que a presença de ponteiros e palhas potencializou as perdas de matéria seca ao longo da estocagem, conforme pode ser observado na Figura 1. Quando se estocou somente os colmos as perdas foram discretas. Perceba que no décimo dia de estocagem as perdas para o tratamento CSPP foram semelhantes ao CCPP no segundo dia de armazenamento (14,9 e 11,5%, respectivamente).

 Outro estudo realizado no DZO/UFLA (Siécola Júnior, 2011), encontrou resposta positiva em ganho de peso de novilhas leiteiras quando somente os colmos (CSPP) foram comparados com a cana integral (CCPP). Quando os tratamentos foram avaliados em vacas, a cana despalhada tendeu a aumentar a digestibilidade da dieta e os animais apresentaram produção de leite numericamente superior, frente à CCPP. Isso nos remete a pensar que a gestão do canavial e do pós-corte é essencial quando se deseja elevar a eficiência com dietas a base de cana-de-açúcar fresca.

Estocar cana-de-açúcar, por um período de até dez dias, na ausência de ponteiros e palhas é a estratégia mais adequada para aqueles que desejam reduzir frequência de cortes na capineira, pois a presença dos componentes não-colmo potencializa as perdas de massa, ocupa maior área no galpão para a estocagem e reduz o valor alimentício deste volumoso, conforme foi observado no estudo de Siécola Junior (2001).

Produtor rural, tenha sempre esta mensagem em mente: “Faça a opção pelo simples”. Simplificar em alimentação animal é investir em manejo, ou seja, no seu dia-a-dia. Aditivo (cal) é um recurso que utiliza em casos especiais e para cana-de-açúcar fresca ele não se aplica.

 

1 Comment

  1. Augusto B Caldeirão disse:

    Se o objetivo é simplificar o manejo, não me parece muito racional a idéia de desprezar o ponteiro. O primeiro fator é a questão da mão de obra, pois o processo demandará maior dificuldade no corte aumentando o tempo do processo e assim seu custo, além de gerar residuos. Na mecanização também desconheço forrageira que colha somente o colmo, inviabilizando assim sua utilização. Por fim estaremos desprezando boa parte da cana, perdendo valores nutricionais e o que a cana tem de melhor, produtividade, Todos sabemos o quanto é caro implantar um canavial.

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