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Cana-de-açúcar in natura: quatro perguntas, quatro respostas

Ficamos surpreendidos com a freqüência que recebemos as perguntas descritas abaixo em fórum de discussões do curso online da AgriPoint. Isso significa que produtores e técnicos ainda enfrentam dificuldades básicas quando o assunto é cana-de-açúcar no plano alimentar dos animais.

Embora o período de estiagem esteja se finalizando na região Centro-Sul do nosso país e o uso da cana-de-açúcar (colhida fresca) na dieta de ruminantes decrescendo, em função do clima (início das chuvas), nós achamos pertinente abordar este assunto aqui nesta seção novamente.

O que nos motivou a tal fato é que durante o curso online sobre cana-de-açúcar na alimentação animal, o qual é oferecido pela AgriPoint, ficamos surpreendidos com a freqüência com que as perguntas descritas abaixo tomaram parte do fórum de discussões. Isso significa que os produtores e técnicos ainda enfrentam dificuldades básicas quando o assunto é cana-de-açúcar no plano alimentar dos animais.

Desse modo, seguem os quatro questionamentos mais comentados ao longo do curso:

1. Qual a melhor variedade de cana-de-açúcar para a alimentação animal?

Resposta: A variedade que têm mudas disponíveis e que possui bom desempenho agronômico na sua região. O que resolveria se nós lhe disséssemos que a variedade XX XXXX é a ideal, a qual não apresenta mudas disponíveis para o plantio ao longo dos anos? Portanto, se a sua propriedade se encontra numa zona sucroalcooleira, utilize as variedades que a usina recomenda aos seus fornecedores (produtores) que os seus animais estarão bem servidos.

2. Quantas variedades devem fazer parte do canavial?

Resposta: Pelo menos duas variedades, o ideal é três. Essa recomendação pode ser fundamentada no conceito que as usinas utilizam sobre o Período de Utilização Industrial (PUI), ou seja, as mesmas exploram as variedades de cana-de-açúcar com base em maturação (precoce, média ou tardia). Desse modo, o pecuarista poderia utilizar a denominação PUA (Período de Utilização Animal), colhendo as variedades nos respectivos picos de sacarose, as quais apresentariam menor concentração de fibra.

3. Quando se usa a cana-de-açúcar na forma in natura (fresca) é necessário adicionar cal?

Resposta: Não. A cal só dificulta o manejo na maioria das propriedades, pois é um fator a mais a ser embutido no dia-a-dia da fazenda. A justificativa para se utilizar cal é para não se realizar cortes diários. Contudo, nós recomendamos que você estoque cana-de-açúcar sem fazer a moagem, por um período de até cinco dias, o que pode facilitar o manejo.

A outra justificativa para tal uso é o discurso que a cal promove hidrólise da fibra. Veja bem, o que queremos da planta de cana é o seu alto teor de sacarose, ou seja, não estamos preocupados em melhorar fibra. Cana-de-açúcar tem baixa concentração desse componente (FDN entre 45-50%; Capim-Elefante, por exemplo apresenta 70%), contudo a fibra presente é de baixa digestibilidade.

Desse modo, teremos que conviver com isso e adequar o seu uso de acordo com a categoria animal. Caso você queira explorar o que a cana-de-açúcar tem de positivo, faça um bom manejo do seu canavial, explorando o pico de maturação das variedades. Além desta estratégia invista em manejo pós-corte, despalhando os colmos.

Em experimentos realizados na Universidade Federal de Lavras (UFLA), Siécola Júnior (2011), encontrou resposta positiva em ganho de peso de novilhas leiteiras quando a planta despalhada foi comparada com a cana integral (palhas e ponteiro).

Em outro estudo do mesmo autor, a cana despalhada tendeu a aumentar a digestibilidade da dieta e as vacas apresentaram produção de leite numericamente superior frente à cana integral (com palhas e ponteiro). Isso nos remete a pensar que a gestão do canavial e do pós-corte é essencial quando se deseja elevar a eficiência com dietas a base de cana. Resumindo: A cal não melhora o valor nutricional do volumoso!

4. A cana-de-açúcar, obrigatoriamente, deve ser utilizada com uréia?

Resposta: Não. A uréia é apenas um ingrediente fornecedor de nitrogênio (proteína bruta). Outros ingredientes protéicos (farelo de soja; caroço de algodão) podem e devem ser utilizados na dieta com cana, principalmente para animais de maior exigência nutricional.

Por muito tempo a “receita” cana + uréia + sulfato de amônio foi recomendada, apesar de sabermos que não existe “receita” quando o assunto é dieta. Ao adicionar 1% dessa mistura (uréia+sulfato) à cana e oferecer aos animais, você estará ofertando a eles uma dieta que será capaz de promover desempenho animal medíocre, além de exceder a quantidade de nitrogênio não protéico (NNP) que o animal é capaz de metabolizar.

Portanto, a uréia é apenas um ingrediente de rações como os demais apontados acima são. Ela se diferencia deles por ofertar NNP e não proteína verdadeira. A sua inserção na dieta pode ser importante apenas quando se quer ajustar o fornecimento desta fração (NNP) no ambiente ruminal.

5 Comments

  1. WELLINGTON GUIMARÃES OLIVEIRA disse:

    queria parabenizar todos que ministraram o curso,os temas abordados foram de grande valia,consegui tirar muitas duvidas sobre a cana de açucar como volumoso.

    Falando sobre o uso da cal em silagens de cana de açucar.

    Em minha região além de causar um grande prejuizo nos maquinarios.Houve também ações trabalhisticas,sobre as consequencias e riscos para  o trabalhador na aplicação da cal e os seus perigos para saude humana.

    Por exemplo ( rachaduras nas mãos,sangramento no nariz e estc.).Um produto que que com sua aplicação tem que usar luvas e mascara como fosse um inseticida.Além disto não tem registro no MAPA.

    Sabemos que temos produtos no mercado de risco zero para o aplicador,com grandes resultados na ensilagem de cana de açucar e com um bom custo benefício.A

    Abraços a todos e muito obrigado.

    Wellington Oliveira

  2. Cassio Rodrigues Vieira disse:

    Quanto ao uso da cal, tenho uma opinião diferente.
    Existe cal hidratada micropulverizada no mercado, que não causa problema aos funcionários.
    Se você usa corte mecanizado da cana, a única forma de ter cana para fazer o primeiro trato da manhã antes das 07:00 é se você deixar cana picada do dia anterior (ou achar funcionário que queira começar a trabalhar 04:00 da manhã, o que não está muito fácil).
    Utilizamos cal na cana na fazenda desde 2005 e não observamos desgaste anormal de máquinas e nem dificuldade no trabalho, utilizamos um "kit de hidrólise" que solta a cal na bica de descarga da ensiladeira.
    Não há indícios que melhore a digestibilidade, porém o material fica mais estável ao longo do dia, o que aumenta o consumo da dieta pelos animais.
    Além disto controla abelhas na cana (protege os funcionários).
    É muito barato e fácil de trabalhar, por isto não vejo motivos para não utilizar se for tratar com cana in natura com corte mecanizado.
    Esta é a experência que temos com isto. Espero colaborar com a discussão.
    Att
    Cássio

  3. WELLINGTON GUIMARÃES OLIVEIRA disse:

    tudo bem Cassio,mais continua correndo riscos de qu bra do maquinario no corte diário,ou voce tem varias ensiladeiras de reserva. ou uma boa oficina na propriedade. Sobre as reclamações de desgaste do maquinario é geral.E se é micro encapisulada ou não, o material não tem registro no MAPA e se o funcionario que manipula o,mesmo distante da aplicação for no Ministerio do Trabalho,ele tem ganho de causa para o trabalhador.O produto sem registro é ilegal,isto que dizer,ele não pode ser comercializado para esta função ou qualquer outra atividade na inclusão para a alimentação animal.

  4. Cassio Rodrigues Vieira disse:

    Para não ter problema com quebras de máquinas trabalho com parte da cana ensilada. Não ensilo  tudo porque a ensilagem tem um custo a mais e ocorrem perdas de matéria seca, ou seja, você tira do silo menos material do que você colocou. Isto ocorre com qualquer material ensilado, inclusive silagem de milho, não é problema da cana. Como a cana pode ser deixada no campo, acaba sendo uma vantagem não ser obrigatória a ensilagem para sua conservação.

    Não sou contra ensilagem, uso e o processo funciona bem, mas há situações em que ela não é necessária.

    Quanto ao registro, pelo que sei existe sim produto registrado no MAPA.

    Já tinha adiantado no outro comentário que pode-se trabalhar com cal hidratada, que não é cáustica para os trabalhadores.

    Realmente não tenho observado problemas com maquinário, pode ser devido ao operador.

  5. Vicente de Paula Lima dos Santos Neto disse:

    Achei o comentário um tanto quanto equivocado…Trabalho com cana de açúcar e uréia a algum tempo e tenho encontrado resultados satisfatórios. Na minha opinião a decisão parte de alguns critérios, entre eles:

    O potencial genético dos animais;

    A fase de lactação em que os animais se encontram;

    O custo atual e as cotações futuras dos insumos suplementares (ex: uréia, milho,  farelo de soja, farelo e caroço de algodão; entre outros);

    A variedade adequada para a região (deve-se optar por variedades que possuam maior teor de sacarose e que facilitem a remoção das folhas secas). Existem variedades que soltam a palha, facilitando o manejo do material.

    Os custos, especialmente do concentrado e da mão-de-obra, são determinantes no sucesso na escolha da fonte volumosa.

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